Loucura
Se a estratégia de Bruno de Carvalho enquanto presidente do Sporting passava por criar a fama de ser maluco (segundo o próprio), interpretando um papel, então este é claramente um daqueles casos em que, a dada altura, a ficção se confunde com a realidade, o ator se confunde com a personagem, o Óscar se confunde com o internamento. A verdade é que, depois dos acontecimentos dos últimos dias, que superaram o que parecia impossível de superar (o surrealismo pós-Madrid) e culminaram, ontem, com a mais vergonhosa página da história do Sporting, e uma das mais lamentáveis do futebol português, já não importa muito se Bruno de Carvalho é louco ou não. O problema é dele, da família e dos amigos. O que importa, isso sim, é que Bruno de Carvalho lançou, em definitivo, a loucura no clube de Alvalade. E chegados aqui, independentemente do que acontecer até ao Jamor e no Jamor, só dirigentes e sócios verdadeiramente doidos o podem manter no poder (a troco de umas quantas vitórias nas modalidades, as mesmas que ele destruirá no dia em que não ganharem...), ao invés de salvarem definitivamente o Sporting, antes que perca ainda mais o respeito por si próprio e pelos valores que o tornaram numa das maiores instituições deste país, na vitória e na derrota. É evidente que, apesar da relação de Bruno de Carvalho com as claques, não sou tresloucado ao ponto de pensar que o presidente verde e branco tem alguma coisa a ver com o arsenal pirotécnico enviado na direção de Rui Patrício no derby, muito menos com os acessos privilegiados à garagem de Alvalade e ao balneário de Alcochete para ameaças e agressões aos jogadores e equipa técnica, mas se eu fosse Bruno de Carvalho poderia sempre fingir-me de louco e acreditar que sim. É um pensamento «chato», eu sei, mas amanhã é um «novo dia».