Linhas e leis
PEPE MUJICA, 84 anos, presidente do Uruguai durante cinco anos e auto declarado resistente toda a vida, diz que a lei é a congelação duma ideia dum determinado período de tempo para a eternidade. Ao ouvi-lo lembrei-me da lei do fora de jogo e da sua aplicação cada vez mais rigorosa por força da recente introdução das linhas do VAR que determinam a sua aplicação ao milímetro - veja-se o golo anulado ao Wolverhampton frente ao Liverpool. Na génese da introdução da lei do fora de jogo esteve o pretender impedir-se que os avançados tirassem claramente benefício da sua posição em relação aos defesas para marcarem - nos primórdios, havia quem se plantasse na área à espera que a bola chegasse para a empurrar para a baliza, com participação ativa no jogo apenas e só nesse momento. Isso deixou de acontecer, claramente, com a introdução da norma e na última alteração, nos anos 90, ficou determinado que o jogador que estava em linha deixava de estar off side. Face à introdução da tecnologia, este último item é praticamente impossível de acontecer, pois só por uma máxima coincidência dois corpos em movimento estarão exatamente alinhados na mesma posição. Além disso, estou convencido de que um avançado que esteja, por exemplo, cinco centímetros adiantado em relação ao penúltimo defensor da equipa contrária não está a beneficiar da sua posição para atacar a baliza.
Uma das verdades absolutas do futebol passa por o International Board ser extremamente avesso à mudança. Ainda assim, nos últimos anos tem-se registado uma significativa evolução no habitual conservadorismo da IFAB e já que os senhores acederam à introdução da tecnologia também podiam pedir estudos para se atestar cientificamente as margens em que os avançados beneficiam das suas posições em relação aos defesas. É porque as leis podem congelar um determinado período de tempo, mas o fulgor dos adeptos está sempre em efervescência e quanto menos dúvidas surgirem melhor. Para todos.