Liderança, reconhecimento
1 - Neste tempo em que recordamos, com saudade imensa, os nossos Familiares que já partiram vivemos, no futebol que temos - e não no futebol que queremos - situações bem diferentes e que merecem, neste domingo de arranque de um Novembro decisivo para o destino europeu próximo das nossas três equipas que participam, por mérito interno, nas duas competições europeias de clubes, uma pequena reflexão. Diria que uma divagação em que se aborde a liderança e se suscite um duplo reconhecimento. Comecemos por falar de lideranças. Ou da falta delas. Ou do seu não reconhecimento. E o que é relevante é que, em Portugal - e também em Espanha, sublinhe-se - vivemos, de forma inusitada nesta época, momentos de diferenciadas chicotadas psicológicas. Muitas concretizadas e outras, de verdade, anunciadas. Se saudamos, nestes dias, entes queridos que partiram, - e que nos deixaram saudades imensas -também é verdade que, na vida concreta, sentimos e pressentimos crónicas de mortes anunciadas. E, aqui, o Sporting de Frederico Varandas não teve dúvidas e despediu, numa madrugada alta, José Peseiro. Comprei, há poucos dias, um livro que acaba de ser publicado em Espanha e que retrata a liderança singular de Zidane no Real de Madrid. Ele que conquistou três Ligas de Campeões. Foi tri campeão europeu, tal como Cristiano Ronaldo. E teve a perceção do seu fim de ciclo e tudo fez para entender como se devem liderar os millennials. Sim é fundamental que uma liderança contemporânea entenda aqueles pessoas nascidas entre 1980 e 2000 e que são, bastas vezes - mesmo sendo corrigidos, por vezes, por competentes homens ou mulheres da comunicação - considerados como «presunçosos e narcisistas». A revista norte americana Time, em Maio de 2013, escreveu que eram a geração do eu, eu, eu. Do «the ME, ME, ME». Por vezes é uma geração não compreendida e que se situa entre os centennials - nascidos depois de 2000 - e a geração X, que são aqueles nascidos entre 1960 e 1980. E esta última geração é aquela que, até ao momento, nos deu os melhores treinadores do mundo. Os nomes estão sempre presentes. Portugueses e espanhóis, italianos e holandeses, ingleses e alemães, entre outros. O que releva hoje em dia não são lideranças, mesmo que formais, baseadas em modelos autocráticos de direção. Pode acontecer que alguns destes modelos, bem poucos, resistam em razão do ambiente vivido e, diria eu, que sofrido. Mas o que importa é que haja permanente ambição, que se identifiquem os valores próprios, a ligação e interligação com os clientes - aqui são os sócios e os acionistas - e, naturalmente, os objetivos da organização. Aqui o clube ou, quando for o caso, da SAD. O tempo próximo no Sporting e, também assuma-se no Benfica, é transformar o pessimismo real em otimismo vivido. E esta transformação, que exige múltiplos sussurros, só pode vir de dentro da equipa e não está dependente de influências externas, ou de duras exigências vindas de fora. O que importa é ganhar - ou voltar a ganhar - o respeito e a admiração de todos. E sabendo que há o auge e a queda, a complacência e o imobilismo, o perder o crédito e a crença numa permanente segunda oportunidade. Que, por vezes, é uma segunda curva! Sabendo nós, desde Simon Bolivar, que «a arte de vencer se aprende com as derrotas»! Verdade nua e crua neste nosso futebol!
2 - Num fim de semana de bombásticas relevações acerca do futebol europeu, do seu possível futuro-próximo em termos de novas e originais competições e do dito empurrão democrático - vulgo cunha! - concedido a PSG e a Manchester City permitam-me que efusivamente cumprimente o Tiago Craveiro, o CEO na nossa Federação, pela sua designação como membro do grupo de elite criado no âmbito da UEFA que vai analisar as propostas da FIFA conducentes à criação de um novo Mundial de clubes e de uma Liga das Nações à escala global. Tiago Craveiro acompanha, diga-se, grandes senhores do futebol europeu, como o próprio Presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, o Presidente da Juventus e da Associação Europeia de Clubes, Andrea Agnelli e, ainda, o Presidente da Premier League, Richard Scudamore e o Diretor de Competições da UEFA, Giorgio Marchetti. São quatro senhores do futebol europeu. Esta designação é um sinal de reconhecimento pelas capacidades e qualidades de Tiago Craveiro e, também, da ativa e competente presença da nossa Federação nos principais fóruns da UEFA e da FIFA. E, logo, também do papel do Presidente Fernando Gomes. Sabemos, lendo Bill Cosby, que ninguém conhece o segredo do êxito, mas o do fracasso é contentar todo o mundo a todo o tempo. Sei bem que Tiago Craveiro vai levar a este grupo de trabalho a sua excelência de pensamento e as competências que desenvolveu e aprofundou nos últimos tempos. E não tenho dúvidas que os principais clubes portugueses terão nele uma voz, serena e sagaz, na ponderação dos seus interesses e também das suas angústias. Na certeza que o futebol europeu está numa fase de mutação e que a FIFA, também ela, vive momentos de mudanças. Mais urgentes, agora, em razão de tanto dado novo agora dado a conhecer. E que exige que digamos que Tiago Craveiro é o contrário, bem o contrário, daquilo que Woody Allen um dia escreveu: «Oitenta por cento do êxito consiste em exibir-se». Tiago Craveiro é bem o contrário. Não se exibe. Recata-se. Diria eu que por excesso. E por ser justo, e neste instante de externo reconhecimento, aqui lhe envio um abraço de felicidades. Bem merecidas!
3 - Redescobrir Portugal é, neste tempo de globalização, um bálsamo. E viajar pelo nosso interior é elevar a alma, cheirar as castanhas assadas, provar os deliciosos enchidos, degustar os néctares do Dão e do Douro. É entrar num antiquário em Bragança - um abraço apertado Miguel Moita Fernandes - ver uma imponente águia e sair da loja com uma oferta que nos deixou … sem palavras! Bem haja do coração e continue a vibrar com o seu Sporting. É entrar na Pousada de São Bartolomeu e perceber que o empenho e a dedicação dos irmãos Geadas - mais a fidalguia de bem receber do seu Diretor António Luís, do esmerado chef Óscar, mais a permanente disponibilidade do Ivandro, do Zé e do Abílio - merece uma saudação bem especial, com a certeza que esta cidade e esta região, reconhecidas externamente pela excelência do seu muito procurado Politécnico, têm naquela Pousada um marco de uma gastronomia única, de um serviço singular e de uma dedicação que merece um sublinhado bem especial. É este interior, profundo também na sua espiritualidade, que merece um agradecimento e reconhecimento sinceros. Que nos leva a Miguel de Cervantes quando nos legou que «entre os maiores pecados que os homens cometem, ainda que alguns digam que é a soberba, eu digo que é o não agradecimento». Por mim aqui fica o registo simples, o agradecimento profundo e o sincero reconhecimento … de um assumido beirão!