Lá como cá

Lá como cá

OPINIÃO21.03.202305:35

Os árbitros portugueses erram tanto como os estrangeiros. Constatação não é corporativista, é real

OManchester United-Fulham, a contar para os quartos de final da Taça de Inglaterra, levou Marco Silva, treinador dos londrinos, a tecer algumas críticas ao trabalho de árbitro e VAR do encontro. O Fulham viu dois dos seus jogadores serem expulsos com cartão vermelho direto e o técnico português também recebeu ordem de expulsão por exceder-se nos protestos. A contestação deveu-se a dois alegados penáltis por assinalar para os visitantes, ainda na primeira parte.

No Brasil, a insatisfação partiu essencialmente da equipa do Ituano, clube da Série B que, nas meias-finais do campeonato paulista, caiu frente ao todo poderoso Palmeiras, de Abel Ferreira. O único golo do jogo pareceu resultar de falta atacante (carga nas costas), aquando do cabeceamento vitorioso de Murillo Cerqueira. A equipa de arbitragem validou lance que ainda gerou forte controvérsia naquelas bandas.

Em Espanha, houve clássico e a doer. O Barcelona recebeu o Real Madrid em Camp Nou, num espetáculo intenso e emotivo, como o são quase todos na La Liga. A equipa madrilena viu o videoárbitro anular-lhe aquele que seria o 1-2, aos 81’, por fora de jogo milimétrico a sancionar adiantamento de Asensio. O que todos já sabemos também se confirmou na Catalunha: tudo o que é factual e objetivo é escrutinado ao pormenor pela tecnologia. Quando isso acontece, o ruído de quem é lesado faz-se ouvir sempre, seja em espanhol, lituano ou crioulo.

Durante a jornada europeia e ainda com zero a zero no marcador, o Manchester City marcou ao RB Leipzig golo resultante de um pontapé de penálti que apenas árbitro e VAR detetaram. Os alemães não perceberam (aliás, ninguém percebeu), mas o certo é que esse foi o motor de arranque para uma noite gloriosa dos britânicos, que esmagaram os germânicos com goleada das antigas.

Antes disso, na primeira mão da Liga Europa, em Alvalade, o Arsenal marcou na sequência de uma carga clara cometida sobre Pedro Gonçalves, que nenhum elemento da equipa de arbitragem (em campo ou em sala) conseguiu detetar. Fez confusão a toda a gente, sobretudo por tratar-se de um jogo com chancela UEFA.
Os episódios aqui relatados são recentes e correspondem apenas a uma ínfima parte de todos aqueles que poderia aqui trazer a título de exemplo, só desta época.

A conclusão parece óbvia, de tão evidente: os árbitros erram. Uns mais que outros, é certo, mas erram. E erram em todo o lado. Em Portugal, em Inglaterra ou em Itália. Na Champions, no Europeu ou no Mundial.

As más decisões não invalidam o apuramento de responsabilidades nem o direito à crítica, tal como não anulam o esforço que deve ser feito no sentido de melhorar a qualidade de quem arbitra. Mas serve para percebermos que esta coisa do erro não é apenas nossa. Não acontece apenas no nosso campeonato. Os árbitros portugueses erram tanto como aqueles que dirigem jogos em ligas mais ou menos evoluídas, mais ou menos mediáticas. A razão de fundo é simples: a missão é muito, muito difícil. Mesmo perante o óbvio, perante o lance que tem uma só decisão possível, a cabecinha pode pregar partidas, bloquear e virar-se contra si própria. Um tormento que só muito treino técnico, mental e emocional pode combater.

A constatação não é corporativista, é real.

Penso nisto de cada vez que vejo a defesa acérrima de árbitros estrangeiros na nossa Liga. Não se iludam. A opção é um mero é paliativo. Não resolve, não cura nem trata. Disfarça (e só quando não corre mal, o que tantas vezes acontece, como se percebeu pela amostra).