Keizer, agradável surpresa

OPINIÃO05.12.201803:00

O melhor Sporting do séc. XXI (campeão e vencedor da Taça de Portugal em 2001/2002, muito por força das rajadas de golos de Mário Jardel e das assistências de João Vieira Pinto) tinha um treinador estrangeiro no banco: o romeno Lazlo Bolöni, o homem que teve a coragem de lançar os miúdos Ricardo Quaresma (18 anos) e Cristiano Ronaldo (17 anos) na equipa principal. Também é verdade que o pior momento do pior Sporting do séc. XXI (o da tenebrosa época de 2012/2013, 7.º lugar final no campeonato) teve como protagonista um treinador estrangeiro, o belga Franky Vercauteren. Sendo certo que a equipa (que era fraca) já pouco jogava quando Vercauteren pegou nela (a 11 novembro de 2012), a verdade é que Franky conseguiu pô-la a jogar muitíssimo pior. Foi naturalmente despedido a 5 de janeiro de 2013, ao fim de onze exibições cadavéricas premiadas com cinco derrotas e quatro empates. Vercauteren foi o último treinador estrangeiro em Alvalade até Frederico Varandas, numa decisão polémica mas corajosa, despedir José Peseiro e contratar o desconhecido Marcel Keizer, holandês de currículo parco com ponto alto no meio ano à frente da equipa principal do Ajax. A esmagadora maioria dos sportinguistas franziu o sobrolho. Marcel quê? Ninguém conhecia Keizer. E se convinha um nome forte. Muitos até questionaram, fazendo coro com outros tantos experts nos jornais e nas televisões: um treinador estrangeiro quando os portugueses são tão bons ?!? Caramba, um estrangeiro no país do Santos, do Mourinho, do Jardim, do Jesus, do Jesualdo, do Vítor (Pereira), do Villas Boas, do Fonseca, do Marco, do Vitória, do Bento, do Nuno, do Abel, do Carvalhal, do Peseiro, do Castro, do Silas, etc., etc., etc.?

Um mês e três jogos-três vitórias depois, o discreto Marcel Keizer começa a ser olhado de outra maneira. Pelos sportinguistas e por nós, Comunicação Social, que comentámos o primeiro resultado (4-1 ao Vildemoinhos) com a reserva que a modéstia do adversário impunha. À segunda goleada (6-1 ao Qarabag no Azerbaijão) começámos a perceber que estava em curso uma espécie de keizerização do futebol dos leões, como escreveu ontem o nosso companheiro João Pimpim. Após o categórico triunfo em Vila do Conde, selado com um golo maravilhoso do promissor Jovane Cabral, acentua-se a convicção de que há um novo Sporting - para melhor - graças às ideias de Marcel Keizer. Sem grandes conversas, ele pôs o Sporting a jogar o dobro do que jogava com Peseiro e a marcar muitos golos - 13 em três jogos. Como que a lembrar aos adeptos leoninos que há vida para além dos treinadores portugueses, por muita qualidade que eles tenham; e que, nesse capitulo, existe gente competente noutras latitudes europeias - numa França, numa Espanha, numa Itália, até numa Holanda, o país que ofereceu ao futebol técnicos como Rinus Michels, Johan Cruyff, Louis van Gaal, Leo Beenhakker, Guus Hiddink, George Knobel, Dick Advocaat, Arie Haan, Aad de Mos, Wiel Coerver, Bert van Marwijk, Martin Jol, Frank Rijkaard, Marco van Basten, Huub Stevens, Co Adriaanse, Ronald Koeman, Philip Cocu, Frank de Boer e Peter Bosz, entre muitos outros. Num mês o Sporting passou do futebol lento, amorfo e timorato que caracterizou a fase final de Peseiro (três derrotas em cinco jogos) para um carrossel de forte matriz ofensiva que delicia os jogadores (não fazem segredo disso) e os adeptos e privilegia o melhor da escola holandesa - futebol linear, vertical, de primeiro toque e com a equipa, sempre em harmónio, a saber ocupar os espaços consoante os momentos do jogo.

É claro que três jogos (de dificuldade crescente) não fazem a primavera e que o plantel do Sporting não passou a ser mais rico e versátil que o do FC Porto e do Benfica. Contudo, os sinais emitidos pela equipa desde que Keizer tomou posse são muito promissores. E dão aos adeptos sportinguistas renovados motivos de esperança agora que nos aproximamos do final do ano mais conturbado da história do clube. Bem merecem este bálsamo. Holandês.

Cristiano: 23 pódios em 24 prémios


Como Cristiano em 2016 e 2017, Luka Modric fez o pleno nos prémios que contam (France Football, FIFA e UEFA), deixando para Ronaldo três segundos lugares e para Messi três quintos lugares. Não vou discutir a justiça da eleição, mas não posso deixar de constatar que nos três prémios (com votantes e critérios diversos) Modric foi sempre largamente o mais votado. Podemos questionar sobretudo a vitória do croata na votação da UEFA (onde a Champions tem mais peso e Cristiano foi claramente o melhor!) mas não podemos menorizar o feito histórico de Modric. Ele interrompeu o domínio de dez anos da dupla Ronaldo-Messi na Bola de Ouro e nos prémios da Fifa - na UEFA, Iniesta (em 2012) e Ribéry (2013) já se tinham intrometido no duelo do século. Não sabemos se Ronaldo (34 anos) e Messi (32) retomarão a discussão no ano que vem. É possível que sim. Pelo que se tem visto continuam a ser, de longe, os dois melhores futebolistas do Mundo (muito acima dos outros todos), embora nos últimos anos Messi não tenha brilhado como Cristiano nas grandes competições internacionais (Champions e fases finais). Aqui fica o balanço da rivalidade mais fascinante da história do futebol desde 2007, ano em que CR7 e Leo surgiram pela primeira vez no pódio dos prémios mais importantes, atrás de Kaká.  12 anos volvidos, uma constatação: Ronaldo é, de longe, o futebolista mais galardoado da História. Além de ter ganho mais prémios que Messi (11-8), só falhou uma vez o pódio em 24 possíveis (na Bola de Ouro de 2010, ano da sua lesão mais grave, esteve dois meses sem jogar), contra cinco ausências de Messi.