Papa Francisco era adepto do San Lorenzo de Almagro
Papa Francisco era adepto do San Lorenzo de Almagro (Foto: Imago)

Jorge Mario Bergoglio

OPINIÃO22.04.202510:25

'O poder da palavra' é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, antigo árbitro

1Jorge, que disse ter sido um jogador com mau jeito, pouco talento mas muita paixão, era o mais conhecido adepto do San Lorenzo de Almagro, clube histórico da primeira divisão argentina.

«Assisti a quase todos os jogos em casa, os do Campeonato de 1946, que venceríamos poucos dias antes de eu completar 10 anos. Hoje, mais de 70 anos depois, lembro-me daquela equipa como se fosse ontem: Blazina, Vanzini, Basso, Zubieta, Greco, Colombo, Imbelloni, Farro, Martino, Silva... Os Dez Magníficos. E então... Então veio o Pontoni. René Alejandro Pontoni, o artilheiro do San Lorenzo, aquele que arrastava o Ciclón atrás, o meu favorito», escreveu na sua biografia Esperanza.

O jovem Bergoglio, como bom argentino que era, seguia religiosamente os feitos da alviceleste, seleção que viu ganhar três Mundiais: o da mítica final de Buenos Aires em 1978, o do México em 1986 e, mais recentemente, o do Qatar (2022).

Como a maioria dos seus conterrâneos, Jorge tinha no eterno Diego Armando Maradona um dos seus maiores ídolos. Em tempos perguntou-lhe com qual das mãos tinha marcado o célebre golo fantasma à Inglaterra. Segundo se diz, El Pibe terá sorrido e respondido sem se deter.

Jorge Mario Bergoglio partiu ontem, em Roma, aos 88 anos de idade. Umas horas antes partia também Hugo Orlando Gatti, mais conhecido no mundo da bola como El Loco, excêntrico guarda-redes argentino tricampeão pelo Boca Juniors, clube onde conquistou duas Taças dos Libertadores e uma Intercontinental.

Ambos faleceram por complicações médicas conhecidas. Mas, apesar da vulnerabilidade da sua saúde, não se pode dizer que o desaparecimento do Papa Francisco fosse acontecer numa altura em que, qual Fénix, parecia renascer das cinzas. O Sumo Pontífice tinha resistido heroicamente a quarenta dias difíceis num hospital da capital italiana e regressou a casa, onde encontrou forças para comparecer, ainda que debilitado, a vários eventos públicos. No último dia da sua vida, esteve onde seguramente mais gostava de estar: na Praça de São Pedro, junto de milhares de fiéis.

Ninguém é imortal e ninguém vive para sempre. Essa inevitabilidade, que todos conhecemos apesar de tanto evitarmos, não deixa de nos marcar quando parte alguém que aprendemos a admirar e gostar. Alguém que lutou genuinamente para que o planeta fosse um lugar melhor. O Papa Francisco era maior e melhor do que muitos líderes mundiais que privilegiam a guerra, a ganância e a maldade, ignorando hipocritamente os seus constantes apelos de paz. Amanhã, para a semana, daqui a uns anos, todos conhecerão o mesmo destino, mas poucos serão recordados como Jorge será.

2Também no dia 21 de abril mas do ano passado deixava-nos o meu amigo Pedro Cruz. O Pedro, rosto conhecido da imprensa e uma das pessoas que mais me marcou na SIC Notícias, era teimoso e tinha mau feitio, mas foi um excelente pai, uma pessoa boa, um ser humano decente. Ainda hoje sinto saudades do seu humor mordaz, da sua frontalidade arrasadora, da sua energia inesgotável. Deixo-lhe aqui sentida e merecida homenagem e um abraço apertado a toda a sua família.

3A saga continua e enquanto sentir que tenho voz ativa, não deixarei de a denunciar. As agressões no futebol acontecem de forma tão galopante que é quase impossível acompanhar o ritmo. No passado fim de semana realizaram-se vários torneios de Páscoa por todos o país. Em alguns houve mais do mesmo: gritaria, empurrões e violência. Estamos a falar de competições particulares disputadas na Quadra Santa, jogada por meninas e meninos de 12, 14, 16 anos. Mais uma vez as imagens não enganam e infelizmente também não surpreendem: técnicos, pais, jogadores e elementos afetos às equipas completamente descontrolados, a darem o mais feio dos exemplos. Uma pouca vergonha recorrente num país de brandos costumes, mas com notória má formação e (muito) fácil predisposição para a confusão e arruaça. Na semana passada tinha escrito aqui que ia acontecer de novo, só não se sabia onde e com que consequências. Já se sabe.