Jogar no totobola à 2.ª-feira
Pense comigo, caro leitor. Quem é mais importante para este jornal? Eu ou o gajo que assina os textos das páginas 6 e 7? Claro que sou eu. A razão é óbvia. O gajo da 6 e 7 escreveu sobre algo que aconteceu. Como disse, um dia, Carlos Queiroz, escrever sobre um jogo depois de este ter acabado é como entregar um boletim do totobola à segunda-feira: já se sabe quais são os resultados. O sujeito da página 6 e 7 é, pois, uma espécie de proxeneta: aproveita-se do trabalho dos outros para escrever. É fácil. Eu, não. Escrevo antes dos outros trabalharem. Escrevo sobre algo que vai acontecer. Antecipo. Prevejo. Especulo. O que é mais difícil. Sou, no fundo, um Zandinga do século XXI.
ALÉM disso, caro leitor, volte a pensar comigo. Quem é mais bonito: eu ou o gajo das páginas 6 e 7? É uma pergunta traiçoeira, claro, porque impossível de responder. Eu tenho coragem para dar a cara. O outro senhor, talvez com medo do que os leitores possam responder, não dá a cara. Assina os textos, sim senhor, mas não dá a cara. É medroso. E talvez feio. Só uma pessoa com pouca autoestima não coloca foto nos textos que assina. Tem receio de que os leitores lhe possam dizer ‘você escreve muito bem, coloca as vírgulas no sítio certo, não adjetiva muito, é objetivo, mas, coitado, é feiinho que só Deus sabe’. É, no fundo, um cobardolas. Eu sou corajoso: tenho a minha fotografia ao lado deste texto. Podem colocar o vosso gato a fazer chichi para cima da minha cara, por exemplo, que não me importo. Podem dizer ao vosso filhote para riscar e gatafunhar a minha cara, que não me importo. Podem até fazer magia negra e espetar a minha cara com meia dúzia de alfinetes, que não me importo. Sou melhor que o gajo da 6 e 7. E muito mais bonito. Sou, no fundo, uma mistura de Zandinga com Brad Pitt.
VAMOS ao que interessa. Não sei o resultado do Portugal-Holanda. O gajo das páginas 6 e 7 sabe. E fica sempre bem na fotografia. Eu vou arriscar: Portugal ganhou. Ronaldo fez uma jogatana e marcou dois golos. João Félix e Bruno Fernandes entraram na segunda parte e não estiveram nem bem nem mal. Rúben Neves, esse, jogou como joga no Wolverhampton: imenso. Fonte fez esquecer Pepe; Patrício deixou Baía para trás; Bernardo Silva provou porque é, de momento, o segundo português mais valioso do futebol mundial. Fernando Santos saiu em ombros após vencer segundo troféu em três anos. Antecipar é isto. Prever é isto. Especular é isto. Não é o que faz o gajo das páginas 6 e 7. O que ele faz é fácil. O que eu faço é difícil. Sou uma mistura de Zandinga, Brad Pitt e Bruce Willis. O do Pulp Fiction.