JJ de Setúbal e J de Massarelos
Há mais de 40 anos, por entre a águia Eusébio, o leão Yazalde e o dragão Gomes, entre outros, um futebolista encantava Portugal: Jacinto João, o popular JJ, ao serviço do V. Setúbal. A sua perna esquerda, levemente inclinada para dentro, dava cabo da paciência aos defesas. JJ mentia em quase todos os jogos. Dava a ideia de que fintaria para dentro e levava a bola por fora. Sugeria que cruzava e rematava. Deixava no ar a possibilidade de rematar e passava a bola. A Vítor Baptista, por exemplo. Ou a Duda e José Torres. Hoje tem uma rua em Setúbal.
Não se sabe se, um dia, Diogo Jota, o Jota do século XXI, dará o nome a uma rua de Massarelos (onde nasceu) ou de Wolverhampton (onde brilha). Sabe-se, sim, que ontem brilhou altíssimo frente ao Leicester: três golos. Ou, por estarmos em Inglaterra, um soberbo hat-trick. J não é como JJ. Quando arranca, arranca; quando finta, finta; quando remata, remata. Diogo é objetivo, Jacinto era subjetivo. Sejamos agora objetivos: Jota marcou o primeiro hat-trick do Wolverhampton desde 1977. Ainda JJ jogava. Mais objetividade? OK. Quantos hat-tricks houve na Premier League em 2018/19? Cinco. E quem os marcou? Aqui vão os cinco nomes: Sergio Aguero, Eden Hazard, Mohamed Salah, Roberto Firmino e Jota. Se isto não é estar em excelente companhia, digam lá o que é.
Esta é a primeira época de Diogo Jota na Premier League: cinco golos até agora. Nenhum outro português marcou tanto na estreia em Inglaterra. Cristiano Ronaldo, por exemplo, marcou quatro em 2003/2004. E Diogo Jota já igualou CR7 em hat-tricks. O agora craque da Juventus apontou um. A 12 de janeiro de 2008, frente ao Newcastle. Depois de Aguero, Hazard, Salah e Firmino, Cristiano Ronaldo. É só boa companhia.
É evidente que, para estar em tão boa companhia, Diogo Jota tem grandes jogadores ao lado: Rui Patrício, Rúben Neves, João Moutinho, Raul Jiménez, Ryan Bennett ou Matt Doherty. E um grande treinador: Nuno Espírito Santo. O Wolverhampton soma 32 pontos em 23 jornadas e na anterior passagem pela Premier League, em 2011/2012, chegou aos 25 no final das 38 jornadas. Mais sete pontos em menos 15 jornadas sob a batuta de Nuno Espírito Santo. Nada mau. NES ultrapassou a sombra de ter sido guarda-redes (raramente dão bons treinadores) e a sombra do poder de Jorge Mendes ($$$) e aí está o Wolverhampton no 8.º lugar da PL. Longe do comboio europeu (Arsenal tem mais 12 pontos) e já fora da pesada luta pela manutenção (Cardiff com menos 13). Mas sereno como a face barbuda de Nuno Espírito Santo.