Jesus (e o mais)

Foi Vujadin Boskov, treinador bem mais notável e ganhador que Jorge Jesus, quem o disse, num toque mais ou menos poético (ou filosófico):
- O futebol é jogo imprevisível porque todos os jogos começam com 0-0.
O que vale para o jogo propriamente dito, vale para outros jogos que o futebol tem dentro de si. Por exemplo, o jogo do treinador com a sua vida, com a sua história, com o seu futuro. E não, não tenho dúvidas: neste seu regresso ao Benfica, Jorge Jesus vai jogar (a cada jogo que lá jogar) o jogo mais importante da sua vida, da sua história, do seu futuro - em jogos que hão de ser tão imprevisíveis como os que se fazem dentro de campo na metáfora do Boskov. Ainda mais imprevisíveis, porém, hão de ser todos esses jogos para Luís Filipe Vieira - imprevisíveis e perigosos porque por tudo o que se passou com a ida (aos solavancos) de Jesus da Luz para Alvalade (e o que se tem passado no Benfica) Vieira ficou com a sua cabeça nas mãos de Jesus - sem que Jesus deixe de estar com o seu destino dentro de outra frase lapidar, a que Ottmar Hitzfeld (ainda mais notável e ganhador que Boskov) soltou, eloquente:
- Como treinador, só o sucesso me salva. Não a minha aptidão psicológica, não o meu espírito, não a minha esperteza tática, não o meu passado. Só tenho argumentos quando ganho.
Sim, por mais que seja a sua aptidão psicológica, o seu espírito, a sua esperteza tática, o seu passado, por mais lustroso que traga o seu palmarés - Jesus volta ao Benfica em pedra no sapato (ou pior…) de muitos benfiquistas. Como, contudo, no futebol a memória é curta e seletiva, bastarão golos, vitórias (e ida à Champions) para a pedra virar poalha a desvanecer-se - e só assim, então, é que Luís Filipe Vieira se livrará do jogo de  roleta russa em que se pôs,  num risco que em circunstância alguma lhe viria de Rui Gomes da Silva, mas que talvez lhe venha de João Noronha Lopes - e não só por este já ter em rol os apoiantes que tem ou por ser o que é: um líder reconhecido, um gestor reputado (e sem manchas…)