‘Javardices’!...
Faz hoje precisamente três semanas que a minha crónica se intitulava Embaixadores de Portugal, referindo-me a Ronaldo, o maior embaixador deste país, que aliás não é diplomata, aos diplomatas que representam Portugal nos Emirados Árabes Unidos, como é o caso do embaixador Dr. Joaquim Lemos e da cônsul geral Drª Susana Sabrosa Audi, do Dr. João Paulo Rebelo que representou o governo português na Cerimónia de Abertura dos Jogos Mundiais de Abu Dahbi e a toda a delegação portuguesa de atletas e técnicos que dignificaram Portugal com a sua prestação.
Faz hoje uma semana escrevi sobre certo tipo de gente que só faz mal ao futebol e ao desporto, e que, em oposição a um jornalista desta casa, qualifiquei de gentalha, por se tratar de corja, escória, ou, de uma forma geral, gente de baixa condição moral, cultural e social!
Não me passava pela cabeça que um diplomata, isto é, alguém que faz ou fez parte do corpo diplomático de uma nação, considerado, de uma forma geral, um homem fino, hábil e astuto, reservado e de fino trato, se deixasse contaminar por este ambiente desbragado em que se vive e viesse para as redes sociais chamar javardo ao treinador do Futebol Clube do Porto, Sérgio Conceição.
Na verdade, um diplomata é um homem ao serviço da diplomacia, geralmente definida como «um instrumento da política externa, para o estabelecimento e desenvolvimento dos contactos pacíficos entre os governos de diferentes Estados, pelo emprego de intermediários, mutuamente reconhecidos pelas respectivas partes». Seixas da Costa tem, enquanto diplomata - e não só - um currículo invejável que deixou que se manchasse com uma atitude carroceira!
A primeira vez que ouvi a palavra javardo foi no meu 3.º ano do liceu, ao meu professor de História que não por mero acaso mas por inerência da sua personalidade, também era informador da PIDE! Javardo que, enquanto substantivo, é o mesmo que javali, era por ele usado como adjectivo, para nos qualificar depreciativamente, enquanto alunos, como porcos, mal-educados, ao mesmo tempo que nos agredia com a ponta mais grossa do ponteiro. Esta era a sua educação, o seu fino trato enquanto educador. Nós assim não pensávamos, e, perante as suas javardices - comportamentos próprios de um javardo - passámos a alcunhá-lo de javardo, esquecendo o seu nome de triste memória. Era o tempo das trevas!...
Não satisfeito com tamanha javardice, e como que justificando a sua imparcialidade no insulto, aquele embaixador retirado resolveu aumentar a javardice, pelo menos no que respeita à quantidade dos alvejados, chamando javardos a todos quantos gostam (ou gostaram?) de Bruno de Carvalho!
Se se quer referir àqueles que gostaram de Bruno Carvalho e que nele votaram, porque, na realidade gostei de algumas coisas que Bruno de Carvalho fez e de outras que podia e devia ter feito e, por culpa própria não fez, também me incluo nos javardos, e pouco me importa o insulto, porque a voz divina sempre me assopra ao ouvido para lhes perdoar porque não sabem o que dizem. Porém, mesmo para aqueles que ainda gostam de Bruno de Carvalho é inaceitável que um senhor, que não sei se é sócio ou simples adepto do Sporting, habituado a ambientes palacianos, desça ao nível da ofensa rasteira. Há quem fale de elefantes numa loja de porcelana; diria agora que temos um javali nos corredores do Ministério dos Negócios Estrangeiros!...
Eu conheço, e bem, muitas das pessoas que ainda gostam e defendem Bruno de Carvalho. Contudo, pelo facto de não concordar com elas, continuo a ter respeito por elas, pois algumas, pelo menos, são tão sportinguistas como eu, acompanham o Sporting para todo o lado, vivem para o clube e muitos já prestaram serviços relevantes, sem nenhuma contrapartida. O que é que este senhor fez pelo Sporting que justifique esta grosseira sobranceria?
Bruno de Carvalho já se deve ter arrependido da sua falta de diplomacia ao dividir os sócios e adeptos entre sportinguistas e sportingados. Pelos vistos fez escola para este ex-diplomata que faz a divisão entre javardos e não javardos. Ao que isto chegou!...
O perfume de Bruno Fernandes
Deixemos as javardices e passemos a coisas mais interessantes e alegres como foi a vitória do Sporting sobre o seu rival e a consequente eliminação deste da Taça de Portugal. Estaremos mais uma vez na final do Jamor, agora com o Futebol Clube do Porto. Esperemos que de uma forma tranquila e festiva e não deprimida e preocupada. Numa festa não se deve falar de enterros, mas, nesta concreta festa da Taça, aproveitemos para enterrar o passado recente e celebrar o passado que nos engrandece, nos motiva e nos enche de orgulho.
Mas, como vem sendo hábito, os jogos do Sporting Clube de Portugal causam-me sentimentos mistos entre o prazer e a depressão, a alegria e a preocupação. Estou a pensar e a falar em Bruno Fernandes, esse extraordinário jogador que pisa os relvados deste país, deleitando quem realmente gosta do futebol jogado, sem truques, sem piratas e sem pirateados!
É que ao longo das suas grandes exibições interrogo-me sempre sobre quanto mais tempo vou ter oportunidade de ver um jogador desta dimensão e classe a exercer a sua profissão no meu clube, que, actualmente, poucas possibilidades tem de o manter em Alcochete e Alvalade, dada a cobiça dos chamados tubarões europeus.
Só vejo uma possibilidade, qual é a de o Sporting SAD funcionar como uma verdadeira sociedade comercial, que é, no fundo, a mãe das sociedades anónimas desportivas. Vi com satisfação, na concorrência, uma pequena entrevista de Poiares Maduro e tenho esperança que, fazendo jus àquele nome, esta ideia vá amadurecendo, no seio dos sportinguistas. Porém que não leve, muito tempo, porque o tempo urge, ou melhor, não se pode perder mais tempo.
Manifesto um voto: que o perfume do futebol de Bruno Fernandes seja inspirador de uma nova mentalidade de gestão e governação, sem complexos nem tibiezas, para que não se esfume, no futebol, o sonho do Visconde de Alvalade. É isto e só isto que se deve discutir, com tranquilidade e seriedade.
Nota final: ontem, como acontece em muitas sextas-feiras, fui almoçar um peixinho a Setúbal, ao restaurante Verde e Branco - como não podia deixar de ser - com alguns amigos, entre os quais Fernando Pedrosa, que conheço há quase quarenta anos e que é uma referência do meu tempo de dirigente do futebol - o tal tempo que acabou e de que tenho saudades! Completou ontem 88 anos de vida - que me perdoe a indiscrição - mas é uma capicua bonita de uma vida lúcida e de boa disposição, que ainda hoje mantém! Orgulho-me da sua amizade, a amizade de um Senhor. Este sim, um Senhor Embaixador de Setúbal e do seu Vitória!