Jacques, Jardel, Bas Dost e Seferovic
HÁ diversas dependências: álcool, sexo, tabaco ou comida, por exemplo. Há depois outra dependência, nada tóxica se comparada com as anteriores: a de um jogador. A maior dependência que se conheceu em Portugal, nos últimos largos anos, foi a de Jardel. Em quatro épocas no FC Porto (1997 a 2000), por exemplo, o brasileiro apontou 130 dos 306 golos dos dragões na Liga. A percentagem é elevada: 42,5%. Na derradeira, então, foi fulgurante. Ao marcar 38 dos 66 golos do FC Porto, atingiu 57,5%. Isto é dependência. Não de álcool, sexo, tabaco ou comida, mas da cabeça e dos pés de um jogador. Dois anos depois, já no Sporting, teve números idênticos: apontou 42 dos 74 golos dos leões na Liga, ou seja, 56,7%.
NUNCA mais alguém chegou, nas três principais equipas nacionais, aos números de Jardel. Nem Liedson, Lisandro López, Cardozo, Falcao, Hulk, Jackson Martínez ou Jonas, por exemplo. Dependência parecida aconteceu apenas em 2016/2017, quando Bas Dost apontou 34 dos 68 golos do Sporting na Liga: 50% certinhos. Mesmo assim, os números do holandês ficaram bem atrás dos do brasileiro. Na história do futebol português, aliás, só houve um jogador das três maiores equipas nacionais que ultrapassou os números de Jardel: o portista Jacques em 1981/1982, ao marcar 27 dos 46 golos. Nada menos de 58,7% dos golos do FC Porto na liga. Nem Eusébio, Yazalde, Nené, Jordão ou Fernando Gomes, por exemplo, chegaram perto de Jardel ou Jacques.
NA atual edição da Liga nada há de parecido. Vejamos os melhores marcadores de cada um dos quatro primeiros. Seferovic: 18 dos 77 golos do Benfica. Ou seja, 23,4%. Soares: 13 dos 58 golos do FC Porto. Ou seja, 22,4%. Bruno Fernandes: 15 dos 56 golos do Sporting. Ou seja, 26,8%. Dyego Sousa: 14 dos 46 golos do SC Braga. Ou seja, 30,4%. Os dois primeiros classificados dependem bem menos de um goleador do que os outros dois. O contrário do que acontecia, por exemplo, com o FC Porto e o Sporting de Jardel. Ou até de Bas Dost em 2016/17.
SE descermos até aos dois melhores marcadores dos quatro primeiros classificados, algo muda de substancial. Seferovic+ Jonas (ou João Félix ou Rafa Silva, pois todos têm 10 golos) valem 28 dos 77 golos do Benfica: 36,4%. Soares+Brahimi valem 21 dos 58 golos do FC Porto: 36,2%. Bruno Fernandes+Bas Dost valem 29 dos 56 golos do Sporting: 51,8%. Dyego Sousa+Wilson Eduardo valem 24 dos 46 golos do SC Braga: 52,1%. Ou seja, o ideal parece ser que os dois primeiros marcadores não passem dos 40%. A não ser, claro, que queiramos dependência.
OBenfica é a equipa com maior variabilidade de goleadores, pois cinco jogadores marcaram nove ou mais golos: Seferovic (18), Jonas (10), João Félix (10), Rafa Silva (10) e Pizzi (9). O FC Porto só tem Soares, o Sporting tem Bruno Fernandes e Bas Dost, o SC Braga tem Dyego Sousa e Wilson Eduardo. Os encarnados têm o melhor marcador da Liga e, além disso, mais quatro no topo da lista. O quinteto de ouro dos encarnados marcou 57 dos 77 golos na liga: 75%. É, porém, o FC Porto a equipa com maior número de marcadores: 19. O Benfica tem apenas 15. O Sporting tem 14. O SC Braga apenas 11. Podemos olhar de formas diferentes para diversas dependências. Interessante é descobrir dependência diferente. Como a de Seferovic.