Já tenho um hino para a seleção: ‘Despacito’
Dos três jogos que Portugal disputou desde quarta-feira da semana passada, salvam-se as duas vitórias e as exibições de alguns jogadores, entre os quais destaco Nuno Mendes
D EVAGARINHO, ou em espanhol despacito, título de uma canção popularizada pelo porto-riquenho Luis Fonsi, que fez furor no Verão de 2017 e que ganhou todos os Grammy latinos, é a forma mais comum de a seleção portuguesa futebol jogar.
Devagar é, como na canção, o ritmo mais rápido que se atinge, porque o outro andamento da equipa de todos nós é praticamente parado, como naqueles slows que se dançavam na década de 60, quase sem se sair do lugar.
Enfim, na semana passada, após a estrondosa vitória sobre o Azerbaijão, quarta-feira, dia 24, escrevi que jogámos tão bem que nem precisámos de meter um golo. A ironia parecia-me óbvia, mas não me preparou para o jogo de sábado, 27, frente à Sérvia. Sobre a arbitragem há muito dizer, mas sobre o jogo, tirando a entrada relativamente fulgurante e o acerto da cabeça de Diogo Jota, mais vale estar calado. Claro que se o golo legal tem valido, Ronaldo era, mais uma vez, herói, e a coisa tinha passado mais ou menos. Mas ir para o intervalo a ganhar 2-0 em casa do adversário e, nos primeiros 15 minutos, deixarmo-nos empatar com uma equipa claramente inferior, tanto no plano individual como no conjunto, é inacreditável. Para se ter em conta a desproporção, Portugal está em 5.º lugar do ranking da UEFA e a Sérvia em 30.º; já agora, para falar dos restantes do grupo, a Irlanda está em 42.º, o Luxemburgo em 98.º e o poderoso Azerbaijão em 108.º.
Na passada terça-feira, no terceiro jogo em sete dias, defrontámos o Luxemburgo. Iríamos afinal causar boa impressão contra uma fraca equipa que, surpreendentemente, derrotara a Irlanda por 1-0, e em Dublin? Era, de facto, uma oportunidade para nos redimirmos das más exibições anteriores e para Ronaldo fazer o gosto ao pé, no caminho para o recorde detido pelo iraniano Ali Daei, que marcou 109 golos na sua seleção, ao passo que o nosso capitão vai (agora) nos 103.
Era, mas não foi. Portugal entrou a passo, ou menos do que isso, e quando deu por ele, já um rapaz ali do Pragal, de nome Gerson Rodrigues, naturalizado luxemburguês, nos tinha posto a perder por 0-1. O Gerson andou pelo campeonato luxemburguês, pela segunda divisão holandesa, pela primeira divisão romena e mais umas voltas pela Turquia, até chegar ao Dinamo de Kiev, onde já vale 1,4 milhões de euros. Nada que se compare com o mais modesto português, que vale muito mais; até José Fonte, com 37 anos atinge os 1,7 milhões (dados do Transfermarket, não vão pensar que sou eu que avalio).
Para VARiar
COMO é óbvio é impossível não falar do VAR a propósito desta jornada de apuramento para o Campeonato do Mundo de futebol (incrustado no Campeonato da Europa que devia ter sido o ano passado e que a pandemia impediu).
Tenho lido e ouvido diversos adeptos, alguns verdadeiros amigos, colocar em causa as tecnologias associadas ao jogo. Por vezes, quase chegam a convencer um santo. Dizem que tira a emoção - é golo, e estamos à espera de saber se é validado; é penálti, e idem, idem, aspas, aspas; foi golo, e pode ser que a bola tenha sorrateiramente saído no início da jogada, pelo que se anula o mesmo, depois de já todos termos festejado, etc., etc.
Os argumentos não são maus. Por vezes a tecnologia VAR é exasperante. Quando a bola saiu do terreno, sem que ninguém tenha dado por isso (refiro-me à arbitragem e, aparentemente a Pedro Porro, que protagonizou a jogada) e, depois, de quatro ou cinco toques de jogadores diferentes, chega a Tiago Tomás que faz golo no Sporting contra o Guimarães, a revisão da jogada é um balde de água fria. Não só porque é bem desenhada, como também porque não há qualquer intenção maldosa durante as trocas de bola, e o golo é limpinho, limpinho, como dizia Jesus (o Jorge, não se vá confundir em época de Páscoa).
O Sporting acabou por vencer, através de Gonçalo Inácio (a propósito, por que razão não estará na seleção dos sub-21?). Acaso o defesa não tivesse cabeceado para dentro da baliza, muita gente haveria a discutir o lance que começa em Porro e, cinco passes depois, acaba em golo anulado.
Sim, o VAR tem deficiências, e algumas podem corrigir-se. Mas o bem que faz ultrapassa, em muito, o desconforto que provoca.
Basta ver o escândalo do golo de Ronaldo à Sérvia, depois de um passe impecável de Nuno Mendes. A bola entrou, pelo menos, 40 cm na baliza, mas foi como se não entrasse. O árbitro não podia ver e o auxiliar não estava bem colocado. Neste momento, com as tecnologias, qualquer árbitro sabe quando a bola entra na baliza, evitando depois ter de pedir desculpas, como o fez Danny Makkelie, o árbitro em causa, a Fernando Santos e à equipa portuguesa. Mas se este caso é por demais evidente, podemos sublinhar que no Luxemburgo-Portugal ficou por marcar um penálti (ainda havia 0-0) sobre Renato Sanches. Se houvesse VAR, não tenho dúvidas (nem Duarte Gomes e todos os analistas, pelo que escreveram) de que seria marcada a penalidade. E aí teria Ronaldo a hipótese de ficar mais feliz (ou ainda mais ansioso, acaso falhasse).
Não haver VAR na fase de qualificação do Mundial é ridículo. Já todos o disseram, mas sou mais uma vozinha a juntar-me ao coro. Tanto mais ridículo, quanto os árbitros, nos campeonatos nacionais mais importantes deste continente, já todos estão familiarizados com estas tecnologias. Parece que a UEFA não quis gastar dinheiro… por aqui se vê que poupar (Para quê? Para quem?) é mais importante do que o #fairplay e o #EqualGame que apregoam.
Renato Sanches foi uma das novidades no onze da Seleção no jogo com o Luxemburgo
Ronaldo e os jovens
TENHO ouvido dizer, igualmente, que Ronaldo se está a tornar um problema. De certo modo, compreendo estes críticos. Toda a gente da equipa joga para Ronaldo; na equipa contrária todos os defesas e médios defensivos se agrupam para não deixar jogar Ronaldo. Isto significa que o nosso capitão, para fazer um bom jogo tem de ser mesmo muito bom.
Recordo-me de, em 2016, estar em casa de amigos a ver a final do Campeonato da Europa. Às tantas Ronaldo lesionou-se e foi o desânimo geral. Passavam apenas 25 minutos de jogo; foi substituído por Ricardo Quaresma. Por um pressentimento estranho disse: «Agora é que vamos ganhar! Eles têm a equipa toda orientada para anular Ronaldo, e baralham-se» (note-se que eu não sei nada de futebol, foi mesmo pressentimento…). O jogo continuou e, por volta dos 80 minutos, Éder entrou para o lugar de Renato Sanches. No prolongamento, aos 109 minutos marcou o golo e a Taça vem para Portugal. Era o dia 10 de julho, Ronaldo só tinha 31 anos, mas era uma vedeta tão grande que o jogo rodava à sua volta.
Hoje, penso que esse problema continua a existir. Mas o capitão da seleção, agora com 36 entrou, inelutavelmente, numa rampa descendente. Ainda é um mágico; ainda é provavelmente o melhor do mundo; ainda vai bater o recorde do iraniano. Mas é tempo de perguntar se deve jogar sempre, o jogo todo, ou se deve delinear-se uma estratégia para a sua inclusão em momentos-chave. O problema não é ter arremessado a braçadeira; no meio daquela palhaçada do golo anulado, até um santo perdia a cabeça. O seu problema é ser bom de mais, apesar da idade que já tem.
Atrás dele já estão muitos, mais jovens, que podem desempenhar papéis importantes. Diogo Jota; Bruno Fernandes; João Félix (se melhorar em relação ao que foram estes jogos); André Silva (idem). E, claro, os que estão na seleção sub-21 que ontem, em Ljubljana, na Eslovénia, derrotaram a Suíça por 3-0 e terminaram invictos no seu grupo (que tinha ainda a Inglaterra e a Croácia). Nomes como Pedro Gonçalves, Francisco Trincão, Daniel Bragança, Tiago Tomás e até o filho de Sérgio Conceição já demonstram poder ter um futuro no futebol português e internacional, e lugares de destaque na seleção principal. Por modéstia, não referi quantos aqui referidos foram formados em Alcochete.
Daniel
Aos 33 anos, um guarda-redes do Nacional da Madeira descobriu que tinha cancro. Felizmente, hoje, a doença está longe de ser uma sentença. Ainda assim, espero que Daniel Guimarães recupere rapidamente e ainda regresse a tempo de jogar futebol.
PALOP
Parabéns à Guiné-Bissau e a Cabo Verde, por se terem apurado para a fase final do Campeonato Africano das Nações, a realizar para o ano, em janeiro, nos Camarões. Pena foi Cabo Verde conquistar a qualificação à custa de Moçambique. Mas alguém tinha de vencer.
Campeões
A nova configuração da Liga dos Campeões, que terá início em 2024, será anunciada este mês, mas parece ter ido ao encontro dos grandes clubes, representados pelo patrão da Juventus, Andrea Agnelli. Não conhecendo com exatidão o figurino, mas sabendo-se que é feito para impedir uma superliga de super-ricos, há que esperar para ver em que afeta os clubes portugueses.