Já mexe o Benfica de Schmidt

OPINIÃO27.06.202206:30

No dia do arranque dos trabalhos no Seixal, muito já foi feito e muitíssimo está por fazer. E o relógio não pára: tic-tac; tic-tac...

O RELÓGIO NÃO PÁRA NA PREPARAÇÃO DAS ÁGUIAS

Dois de agosto é já ali ao virar da esquina, muito já foi feito, mas muitíssimo está por realizar…

OBenfica começa hoje um contrarrelógio que terminará a 2 de agosto, quando iniciar a participação na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Até lá, os encarnados devem pedalar fortemente, de forma a apresentarem-se na meta na melhor condição competitiva possível. Com um novo treinador, uma abordagem renovada ao modelo de jogo e uma série de recrutas em estreia, parece óbvio que no Seixal há muito por fazer, sem tempo para arrastar os pés em confabulações metafísicas.

Percebe-se o afã em que os encarnados têm andado, não só para encontrar jogadores que casem com o pretendido, como ainda para colocar os excedentários de um plantel que comporta 70 unidades. Mas como Roma e Pavia não se fizeram num dia, a boa prática mandará hierarquizar as prioridades, sendo a primeira a entrega a Roger Schmidt dos 25 elementos que vão compor o quadro de jogadores para 2022/2023. O resto, por mais urgente que seja, deverá ser tratado a seguir, isto se o Benfica quiser afrontar o desafio da Champions com uma equipa minimamente coerente e afinada.

Para já, sente-se falta no plantel de mais um central - Lucas Veríssimo ainda está atrasado - e de pelo menos dois médios, considerando que Enzo Fernández dificilmente entrará nas contas iniciais da Champions. Na frente, perante as saídas de Everton, Darwin, quase de certeza Seferovic e muito provavelmente Gonçalo Ramos, talvez Yaremchuck, Musa e Henrique Araújo sejam suficientes, talvez não…

Ou seja, no dia do arranque dos trabalhos no Seixal, muito já foi feito, mas pelo menos outro tanto está por fazer. E o relógio não pára: tic-tac; tic-tac; tic-tac…
 

Patrick Carvalho, presidente do Belenenses


A DIFÍCIL TAREFA DE PATRICK MORAIS DE CARVALHO

O Belenenses assume que vai entrar na Liga 3 com um dos mais baixos orçamentos da competição

Opresidente do Belenenses esteve na Quinta da Bola, de A BOLA TV, onde concedeu um depoimento raro. Depois de ter tomado a opção pela refundação do futebol do Clube de Futebol ‘Os Belenenses’, encetando, a partir da sétima divisão, o caminho das pedras que há de conduzir os azuis do Restelo ao lugar que pela História é seu, Patrick Morais de Carvalho, após quatro subidas de divisão consecutivas, veio lançar água na fervura da euforia belenense, lembrando que o principal desafio do clube é o da credibilidade, pelo que não poderá ombrear com os orçamentos de alguns dos seus concorrentes, admitindo até ter de marcar passo na Liga 3 durante dois ou três anos. Esta proclamação, nos antípodas da demagogia, não agradará, por certo, às franjas mais resultadistas de um clube que por ser eclético (cinco mil praticantes em várias modalidades) atribui ao futebol sénior apenas 20 por cento do seu orçamento.

Também não haverá terreno fértil no Restelo para, logo que seja constituída, por força da lei (se não for entretanto alterada) uma nova SAD ou uma SDUQ, abrir portas ao capital externo, ainda que numa versão minoritária. Gato escaldado de água fria tem medo e o trauma ainda é recente e muito presente.

É, pois, um momento sensível, que carece de soluções expeditas, balizadas pelo desejo dos sócios que são, como foi possível constatar nos últimos anos, o garante do espírito dos Rapazes da Praia.

Mas haverá uma altura em que a questão da entrada de um investidor minoritário no clube será incontornável. Se há coisa que os ingleses nos ensinaram foi que o segredo da credibilidade está no escrutínio, algo que por cá não foi feito, com danos irreversíveis para muitos clubes que franquearam as portas a predadores que, qual praga de gafanhotos, saquearam tudo o que puderam.
 

PHILL BENNET, PARA SEMPRE NO NOSSO IMAGINÁRIO

Era ele que chutava os «três para o País de Gales» imortalizados por Cordeiro do Vale e trazido para a gíria do futebol nacional por Paco Fortes

MORREU Phill Bennett, 73, herói galês do râguebi, guerreiro de múltiplas batalhas que o levaram ao olimpo da modalidade. Médio de abertura de baixo porte (1,72 m para 70 quilos), Bennett marcou 2541 pontos pela sua equipa, os Lianelli RFC, mais 181 pelos Barberians, 166 pela seleção galesa e ainda outros 44 pelos British and Irish Lions.

Para a memória do desporto visto a preto e branco em Portugal ficam as narrações icónicas do Torneio das Cinco Nações, assinadas por Cordeiro e Vale, onde a frase «são três pontos para o País de Gales, uma vez mais da autoria de Phill Bennett». Exímio chutador, Bennett brilhou sobretudo nos pontapés aos postes, seja em penalidades, conversões ou drops.
 

E não tardou, essa frase de Cordeiro do Vale, sobre Phill Bennett e os três pontos para o País de Gales migrou para o futebol nacional, trazida pela exuberância catalã do incontornável Paco Fortes, que a usava invariavelmente sempre que algum colega, em treino ou jogo, metia a bola sobre o travessão. Com aquele assento de catalão que é causa perdida para a língua de Shakespeare, o Paco nunca perdoava e gritava, entre risadas do resto da equipa, para quem tinha chutado de alça levantada, «Ei Phill Bennett, mais três para o País de Gales…»

CARNEIRINHO IMPORTOU O «ENTREGAR O OURO AO BANDIDO»

Extremo brasileiro do Belenenses era uma enciclopédia em frases de origem popular carioca, que enriquecerem o vocabulário do futebol português

OUTRA frase que foi importada para a gíria do futebol português no final da década de setenta do século passado, teve no brasileiro Carneirinho, do Belenenses, o autor: «Entregar o ouro ao bandido.» Esta gíria carioca - e Carneirinho, talentoso até mais não, mas mais ao jeito de peladeiro do que futebolista, viria a fazer grande sucesso em Hong Kong, ficando referenciado, por cá, como um dos mais virtuosos jogadores que vestiram de Cruz de Cristo ao peito - que o extremo trouxe do morro, era acompanhada por muitas outras frases icónicas que levavam o treinador António Medeiros a ir  aos arames, ou como ele gostava de dizer, «estou cá com um brasume!!!»

Certa tarde de domingo, num Varzim-Belenenses jogado sob inclemente invernia, traduzida numa valente nortada que trazia para o relvado pingos de água gelada do mar da Póvoa, Medeiros colocou Carneirinho de início a extremo direito, tendo este a desdita de ficar no flanco do banco do Belenenses.

Tolhido pelo frio e certamente a suspirar pelo calor carioca, o menino do Rio não dava uma para caixa, não defendia nem atacava, apenas soprava para as luvas, quiçá à espera, obviamente em vão que as mãos se aquecessem. Medeiros, exasperado, não deixava de chamá-lo à pedra, na esperança de que ele descongelasse e começasse a jogar. Foi então que Carneirinho, farto de ouvir António Medeiros, se aproximou do banco e teve uma tirada para a eternidade: «Pôxa mister, o que é que quer? Aqui até pinguim bota casaco!»

Medeiros primeiro ficou atónito com a resposta, depois partiu-se a rir, e ao intervalo deixou Carneirinho na cabina, em processo de descongelamento…
 

A FORMAÇÃO DO SPORTING

Fazer a justiça de recordar mais alguns nomes e aproveitar para evocar o Padre Alberto

NO último editorial de A BOLA, que dediquei à formação do Sporting a propósito dos 20 anos de Alcochete, identifiquei alguns ilustres leões saídos de fornadas anteriores à edificação da Academia, numa escolha indicativa e não exaustiva. Deverei, contudo, lembrar alguns dos que deveriam ter feito parte do primeiro draft e dele não constaram: Morato, Jorge Mendonça, Pedro Gomes, Oliveira Duarte Walter Ferreira, João Barnabé, Carlos Canário, José Crispim, Caló, João Leitão, são nomes importantes do futebol português, com a chancela de qualidade made in Alvalade.

Ainda no âmbito da formação pré-Alcochete, gostava de lembrar alguém que muito fez pelo Sporting e pelos seus jogadores, e que merece, por direito próprio contar do livro dos ilustres do clube de Alvalade. Refiro-me ao Padre Alberto, grande impulsionador do futebol jovem no Sporting nos anos setenta do século passado.