Isto é de propósito… ou o Sporting tem o azar dos Távoras?

OPINIÃO09.07.202003:00

Com que intensidade se tem de puxar uma camisola quando um jogador se prepara para cabecear? É preciso rasgá-la? Se for dentro da área, o contacto físico é normal, desde que não chegue ao nível da luta livre ou, vá lá, do kick-boxing? São perguntas pertinentes a certos árbitros portugueses.
E pisões? Se o avançado for pisado dentro da área por um defesa que nem toca na bola, considera-se o contacto inevitável, salvo se partir o tarso ou um metatarso? São conhecimentos necessários para definir uma estratégia. Não vale virem depois dizer que o juiz da partida foi infeliz. Claro que foi. Os maiores especialistas, ou pelo menos aqueles com que mais considero, como Pedro Henriques e Duarte Gomes, concordam em tudo. No Moreirense-Sporting ficaram por marcar dois penáltis a favor do Sporting, foi mal expulso um jogador do Moreirense, mas deveria ter sido bem expulso outro jogador da mesma equipa.
A visão clara destes dois ex-árbitros tranquiliza-me, na medida em que me dá uma razoável certeza de que não estou doido. Quando, aos três minutos de jogo, eu quase gritei que a entrada de João Aurélio sobre Jovane tinha sido falta para penálti e os comentadores da Sport TV passaram por esse episódio como se nada tivesse acontecido, pensei com os meus botões: já estou a ficar fanático… Mas não, em A BOLA do dia seguinte e no Público de ontem, lá estavam os analistas a dizer que aos três minutos havia penálti. Também os especialistas da concorrência, Jorge Faustino e Marco Ferreira (Record), diziam o mesmo, tal como os de O Jogo. Enfim, sete ex-árbitros viram (via televisão, suponho) o que Jorge Sousa na Cidade do Futebol, cheio de monitores e auxiliares não viu. Uma coisa simples: um pé pisado, e com força, quando a bola já tinha passado.
Podemos imaginar o que seria este jogo que o Moreirense tinha de empatar, acaso aos três minutos estivesse a perder 0-1?
E depois há o outro. Que também todos viram (salvo Jorge Faustino, que dá o benefício da dúvida). Aquele em que Djavan tem uma súbita vontade de despir a camisola a Coates. Minuto 90+5, jogo empatado. Neste caso, Jorge Sousa viu, ou chamou a atenção para o árbitro Tiago Martins ver o lance. Este viu e achou que não era. Pronto. Está feito um empate.

Mas jogámos mal!

Posto isto, que não é pouco, foi o jogo menos conseguido do Sporting na era Amorim, apesar de com justiça em campo o poder ter ganho. A verdade é que jogámos mal!
Será que o Sporting, como diz no seu comunicado oficial, não pode ter séries de sucesso que não sejam interrompidas? Será por isso que para VAR foi nomeado um dos nomes mais contestados pela equipa de Alvalade - Jorge Sousa? Um árbitro que na época 2019/2020 interveio três vezes como árbitro e três vezes como VAR em jogos do Sporting, saldando-se as seis participações por quatro derrotas e dois empates. Sim… Eu sei que o Sporting não tem sido um exemplo de bom futebol… mas o balanço é assim para o exagerado.
Podemos criticar Borja ou Ristovski ou Battaglia ou quem quisermos, mas se não começarmos por aquilo que os árbitros permitem e não permitem…
Um exemplo: o treinador do Moreirense deu indicações claríssimas ao seu guarda-redes para simular uma lesão enquanto Steven Vitória, que ia entrar depois da expulsão de Halliche, aquecia. Toda a gente viu, toda a gente achou antidesportivo. Pergunta-se: Ricardo Soares, o treinador da casa, não tem de prestar contas? Não julguem que não condeno as palavras de Hugo Viana contra o árbitro, no fim do jogo, mas essas não ouvi e tenho apenas a versão de um lado. Já Ricardo Soares a pedir ao guardião Pasinato para se lesionar vimos todos. Toda a gente, incluindo os comentadores da Sport TV, que aqui chamaram a atenção para a atitude antidesportiva. Hugo Viana foi expulso e multado… penso que continuará a ser permitido a Ricardo Soares dar orientações táticas, e além disso malandrecas e xico-espertas, sem que nada lhe aconteça. É um mundo estranho.
Num exercício feito ontem no diário Público, verifica-se que, mesmo depois deste empate, o Sporting ainda é o primeiro classificado pós-Covid. Começa por ser a única equipa sem derrotas, o que lhe dá mais um ponto do que o FC Porto, e mais dois do que o Paços de Ferreira que segue em terceiro. O Benfica é o 12.º, e o SC Braga é o 13.º. Para quem subscreva teorias da conspiração, o caso é grave. Na última jornada antes da pandemia, Vieira e Salvador podiam pensar que as suas equipas entravam diretamente para a Champions e para a Liga Europa, deixando as pré-eliminatórias para o FC Porto e Sporting. Mas agora está tudo ao contrário. E se o FC Porto já fugiu seis pontos ao Benfica, o Sporting, caso tivesse ganho ao Moreirense, deixava o SC Braga a cinco. Tudo isto com quatro jornadas por jogar: duas muito difíceis para o Sporting (idas ao Dragão e à Luz), uma também muito complicada para o SC Braga (recebe o FC Porto), e ainda outra difícil (ida ao Paços). Sim, os cinco pontos de avanço do Sporting seriam demasiados para o SC Braga recuperar, e o empate em Moreira de Cónegos deixa também o Benfica com menos pressão, embora a luta pelo segundo lugar fosse uma quimera para o Sporting.

A história de Fábio Paim

Nenhum sportinguista pode deixar de ficar tocado pela história daquela promessa tão grande no futebol que chegou a ser considerado sucessor de Ronaldo, mas depois enveredou por maus caminhos.
Caminhos que, aliás, o levaram à prisão de Caxias. Uma reportagem de A BOLA descobriu-o, e abriu-lhe a porta de Academia de Alcochete. Paim, agora com 32 anos, ainda reconhece bastante gente na Academia e vai andando até que dá de caras com o presidente do Sporting, Frederico Varandas.
Várias vezes fui crítico, e continuarei a ser seguramente, do presidente do clube (algumas vezes, sem grande razão, como no caso da contratação de Rúben Amorim, em que dou o braço a torcer, outras cheio dela). Mas aqui não se trata de ser isto ou aquilo, mas de uma palavra mais forte: humanidade. Varandas cumprimentou (como mandam as atuais normas de sanidade) e fez uma proposta a Paim: que ele fosse um exemplo para os miúdos que ali andam a aprender e a desenvolver o futebol.
A ideia só pode ser saudada. Todos os jovens querem ser Ronaldos, Figos, Nanis, Quaresmas e outros talentos do futebol português e mundial que saíram daquela Academia. Paim pode mostrar-lhes o outro lado, aquele lado tão importante de aprender: para ser bom futebolista há que ter cabeça, é necessário não ficar deslumbrado, é preciso humildade e trabalho, muito trabalho; ou como pensam que Ronaldo chegou onde está? Ou Bruno Fernandes, ou mesmo o percurso que está a fazer Jovane Cabral? Chama-se talento, jeito, dote… mas em comum têm isto: trabalho, muito trabalho. Às vezes obsessivamente, trabalho.