Horta na Luz? Está difícil
Responsabilidade será de quem? Dos malabarismos do SC Braga? Da nobreza do Benfica? Dos serviços de intermediação?
ROGER SCHMIDT continua a fazer a sua aprendizagem da realidade lusa e a mais recente aula prática teve-a diante do Casa Pia, na segunda jornada da Liga, particularmente viva no volume de ensinamentos e que lhe permitiu perceber que vai demorar até reunir condições para impor seu futebol espetacular e frenético que tanto tem empolgado os adeptos de todas as cores.
O jogo pressionante, audaz, intenso e de tirar a respiração aos oponentes, em nítida contraposição ao que se observou nas três últimas temporadas na Luz, foi recebido com aplausos pela família da águia, a qual acredita convictamente nesta mudança de ciclo, tão desejada quanto necessária. O caminho é por aqui, mas para ser percorrido com a celeridade que as circunstâncias reclamam é preciso que se faça mais qualquer coisa do que aquilo que se tem visto. Não é nenhuma crítica, sublinhe-se, apenas a verificação de uma evidência que as dificuldades encontradas diante dos casapianos trouxeram à tona.
As ideias do treinador alemão são interessantes e os benfiquistas aplaudem, por estarem cansados de verem a sua equipa comportar-se como o parceiro pobre da festa, envergonhado por ter deixado de ser o que já foi: um Benfica que dominou na Europa, respeitado e temido em todos os estádios.
Épreciso mudar. É preciso também aceitar que o tempo escasseia e a paciência do universo encarnado ainda mais. As coisas estão a correr de feição, é certo, mas o último jogo, em Leiria, voltou a provocar arrepios por causa da nítida sensação de haver elementos na equipa mal preparados para enfrentarem o desafio, uns por nítido défice de argumentos técnicos e táticos, com claras dificuldades na interpretação do jogo, e outros, embora mais evoluídos ao nível da execução, claramente prejudicados por uma educação profissional que não os preparou para tão elevado grau de exigência competitiva. A falta da tal atitude, de que tanto se tem falado, sem espírito de sacrifício, nem disponibilidade para sofrer.
A revolução que Rui Costa lidera — pois é de uma revolução que se trata para tirar o Benfica do poço da vulgaridade e recolocá-lo no andar reservado à elite mundial que frequentou durante pelo menos três décadas — pede medidas sábias e decisões céleres e é aqui que as dúvidas incomodam e os receios atrapalham em vésperas de se discutir o acesso à Liga dos Campeões, do qual irá depender o futuro imediato do clube, dando-lhe asas para continuar a voar alto se tiver êxito, ou provocando um desconforto violento entre a multidão encarnada se fracassar a entrada na mais importante competição da UEFA.
vamos acreditar que sim, que vai tudo correr de feição e há condições objetivas para que assim seja. O problema é outro, porém, e tem a ver com várias questões importantes que, por esta altura, se esperava esclarecidas. Uma equipa não se faz de um dia para o outro, mas não é recomendável esta demorada ausência de soluções em casos que atrasam o processo de mudança e podem instalar a descrença. Pelo que se tem enxergado, Roger Schmidt até terá sido razoável nos pedidos feitos à SAD encarnada acerca de reforços, causando estranheza, por isso, a demora em satisfazê-los, talvez por manifesta dificuldade em aliviar a carga dos que não contam ou contam pouco para ele e abrir vagas aos que, do seu ponto de vista, podem contar muito.
O médio solicitado pelo treinador alemão, que já se chamou Sangaré e agora se chama Aursnes, não entra enquanto os que estão não saírem e como tem faltado engenho para encontrar clubes interessados para os acolherem, o único remédio de Schmidt é reinventar Chiquinho ou procurar um milagre com Diogo Gonçalves. E se for necessário, no limite, tem ainda a possibilidade de recorrer a Taarabt e… continuar tudo como está.
ACERCA do longo folhetim Ricardo Horta a pergunta que me ocorre é esta: alguém terá a gentileza de explicar o que se passa? A responsabilidade pelo previsível fracasso da operação será de quem? Dos malabarismos do SC Braga? Da nobreza do Benfica em todo o percurso? Dos serviços de intermediação? O processo negocial começou mal e, pelo andar da carruagem, é capaz de não acabar bem, não por culpa do Benfica, que condescendeu até ao inimaginável, mas de outras partes envolvidas: uma, que esticou a corda até partir e corre o risco de ter indemnizar o Málaga em milhões de euros; outra, que tem fama de ser super mas que, desta vez, trabalhou em regime normal. Seja como for, o reforço que Schmidt fez questão de aprovar na sua primeira conferência de Imprensa em Portugal não vai chegar a horas alinhar no play-off da Champions, com o Dínamo Kiev. Se o Benfica tiver sucesso, e reúne todas as condições para o conseguir, o assunto diluir-se-á no tempo, mas se for o clube ucraniano a vencer a eliminatória creio que iremos ter conversa animada até que a chuva volte. É Rui Costa a crescer como presidente.