Homem do Ano

OPINIÃO16.12.201803:00

O Santa Clara-FC Porto está para começar, eu vejo-o a caminho do banco - e penso: aconteça o que acontecer na próxima hora e meia (e aquele bocadinho mais), o meu Homem do Ano é Sérgio Conceição. É Sérgio Conceição porque apanhando o FC Porto a cambalear no seu destino como um cego a atravessar uma autoestrada ao som duma metralhadora - lhe recuperou a fé, lhe reinventou o sonho. (E fê-lo através de uma equipa que, com ele, é sempre mais do que 11 jogadores - sem deixar que ela se atrofie a si própria.)


É Sérgio Conceição porque, apanhando o FC Porto a desfazer-se em travessia de deserto ou perder-se em becos sem saída - lhe deu (de novo) o que só o FC Porto tem em Portugal: verdadeiro estofo europeu, jogando, onde quer que seja, sem o medo cénico de um estádio a ameaçar-se inferno que lhe apague o fervor e lhe sufoque a esperança. (E fê-lo impedindo, no seu caráter, que os seus jogadores joguem com vertigens nos pés e dúvidas na cabeça - sobretudo aqueles que, antes dele, pareciam ter o talento arredio ou o talento inútil.)


É Sérgio Conceição porque apanhando o FC Porto a jogar um futebol em ninharia - lhe deu a ideia de jogo que o atirou para horizonte mais além, o destralhou do que tinha de espúrio, por exemplo a posse inócua, o querer ter a bola como extravagância inútil, sem saber o que fazer bem com ela. (Fê-lo porque teve a habilidade de tornar eficaz os pontos fortes dos jogadores e da equipa tornando irrelevantes as suas fraquezas…)
Podia dizer mais - dizer que é o Sérgio Conceição por ele ter sido capaz de levar quem com ele joga a fazer bem melhor do aquilo que se imaginava que pudesse fazer (e não, o exemplo não é só o Marega…) E que tudo isso ele fez, brilhante e em fogacho, por ter em si a melhor forma de espalhar luz (por um clube ou por uma equipa) entre as duas que a Edith Wharton tem num traço da sua poesia: ser a vela que a atiça ou o espelho que a reflete. E ele é, a vela que a atiça e o espelho que a reflete...