Holofotes na Luz

OPINIÃO04.10.201804:17

Que disse a Champions rumo a Benfica-FC Porto? Ambos vencedores. Um na Grécia, outro em casa, face a Galatasaray muito superior ao AEK. Benfica somou muito mérito, tremendo demérito e sorte. Imperial na 1.ª meia hora; confrangedor no caos pós-intervalo; Vlachodimos salvou-o de hecatombe e, de súbito, o menino Alfa Semedo, num rasgo de raça, capacidade atlética em galopada e inspiração devolveu-lhe vitória quando estava bem à vista estrondosa derrota! OK, 10 contra 11 em toda a 2.ª parte; e dupla de defesas centrais, Conti-Lema, inédita e incipiente. Mas às teóricas atenuantes se sobrepõe sequência de desvarios.

O da expulsão de Conti, em Chaves, levando ao golo de empate. E expulsão de Rúben em Atenas. Rúben tem qualidade, mas já deveria ter arrepiado caminho no soma e segue de roçar expulsões… Acresce o já evidente em fases de outros jogos: falta patrão no campo. Alguém com maturidade, convicção e… classe para pegar na bola e na equipa quando esta desata a tremer. Por regra, no meio-campo. Não exijam ao miúdo Gedson que seja patrão. Fejsa tem características limitadas a área de ação defensiva. E Pizzi, o maestro, rende aos ziguezagues (em Atenas, pós-intervalo, espantoso não ter percebido como tinha de proteger Almeida - bem substituído, pois Gedson cumpriu melhor nessa função e… entrou Alfa Semedo).

FC Porto mostra-se mais consistente. Excelente defesa (Militão é magnífica aquisição!), mais poderoso, e versátil, lote de médios. E ataque vertical, baliza sempre nos olhos. Na Luz, poderá ter Soares (não inscrito na Champions, porque lesionado, tal como Krovinovic há um ano…). Problemão na defesa do Benfica, sem Jardel e Conti (1.ª opção), tendo de jogar Lema - ou adaptar-se Samaris…           

ALVES BARBOSA. Era eu criança, nem uma corrida de bicicletas tinha visto, quando ele se tornou o meu ídolo no ciclismo. Intensa rivalidade entre grandes campeões: Alves Barbosa-Ribeiro da Silva. Curioso: nenhum deles vestia camisola de um dos grandes clubes no futebol - como acontecera, bem antes, nos lendários duelos Nicolau-Trindade, os quais, reza a história, fizeram mais pela expansão da popularidade nacional de Benfica e Sporting do que os confrontos futebolísticos. Alves Barbosa no Sangalhos; Ribeiro da Silva no Académico do Porto.

Soube então que Alves Barbosa cometera enorme proeza: com apenas 19 anos, venceu a Volta-1951, sendo líder do 1.º ao último dia! Ainda assim - proeza que me contavam e lia -, não foi suficiente para tomar partido quando chegou Ribeiro da Silva, mais novo, iniciando épicos duelos. Só que, num ápice, me tornei fã de… Alves Barbosa. Na Volta-1955, impôs-se num contrarrelógio, com a camisola amarela partiu para a derradeira etapa, rumo ao Porto e… já lá perto, grupo de selváticos/facínoras derrubou-o, agrediu-o, partiu-lhe a bicicleta, assim conseguindo entregar o triunfo na Volta ao portuense Ribeiro da Silva! A criancinha que eu era explodiu indignação - também porque quem de direito aceitou tal desfecho! (um ano depois, senti idêntica revolta na invasão de Budapeste pelos tanques soviéticos). Horríveis acontecimentos que a minha infância guardou na memória emocional.

Desgraçadamente, duraram pouco esses empolgantes duelos entre grande trepador (Ribeiro da Silva: 4.º lugar numa Volta à Espanha!; e, no Tour, vencedor de mítica etapa no alto do Tourmalet!) e grande rolador (Alves Barbosa: creio que extraordinário contrarrelogista, com fama de ser muito inteligente na forma como corria; na nossa Volta, arrebatou 34 etapas (!) e 3 vitórias absolutas, entrando na história o seu 10.º lugar numa Volta à França - feito que só o gigante Joaquim Agostinho veio a ultrapassar, diga-se que de largo! Em 1958, fiquei estarrecido com tragédia na 1.ª página de A BOLA: Ribeiro da Silva morto! (acidente de motorizada!).

Agora, partiu Alves Barbosa. Nunca os vi correr. E demorei a ver Alves Barbosa ao vivo. Salvo erro, em 1972, na minha estreia em Volta a Portugal como jornalista. Contacto brevíssimo, mas marcante com meu ídolo de menino… Anos depois, sim, tive oportunidade de muito falar com ele; numa Corrida da Paz - resposta do bloco soviético à Volta à França, mas para seleções nacionais, em várias edições com a de Portugal -, eu por A BOLA, ele pelo Avante. Três semanas sempre lado a lado num carro, o mestre fugindo a sê-lo. Um dia, não resisti a falar-lhe de… Ribeiro da Silva. Balbuciou: «Grande ciclista - teria sido enorme - e meu Amigo.» Face à sua gritante comoção, imediata mudança de tema. Oxalá seja verdade eles poderem reencontrar-se.