Hoje já é a sério
Compete a Rui Costa dar asas ao projeto de mudança e ser grato aos deuses por lhe terem trazido Enzo Fernández meia época mais cedo do que era previsto
HOJE é o primeiro dia do resto de uma época futebolística que o mundo benfiquista quer que seja de corte com o passado recente, de regresso às vitórias e aos títulos, também de pacificação interna e de união em torno de Rui Costa, o qual, com virtudes e defeitos, tem sabido aproximar-se do adepto anónimo e do associado que não consegue ter voz em assembleias gerais cada vez mais controladas por minorias de duvidosas intenções.
O povo está com o seu presidente, confia no treinador alemão por ele escolhido, aprova o trabalho que está a ser feito e aprecia as modificações introduzidas ao nível da competência competitiva. Em vez de um vendedor de promessas, a opção incidiu num profissional reservado, de poucas falas e que, até agora, conseguiu impor-se através de um sorriso cativante, para fora, e de um olhar exigente, para dentro.
Roger Schmidt trouxe coisas novas ao futebol encarnado, mais fluente e rigorosa leitura do jogo, pedindo aos profissionais que sejam inteligentes a interpretar e corajosos a decidir. O que ele deseja impor todos entendemos, mas falta saber se todos os elementos de um plantel ainda mal definido estarão à altura da empreitada. Tenho dúvidas, uns por não serem capazes, simplesmente, outros por não terem sido educados nem para jogarem em pressão constante, nem para suportarem esforços de tamanha envergadura.
ESTA noite já é a sério. O Midtjylland não é opositor de meter medo, mas deve merecer respeito, muito respeito, tanto mais que, pelas notícias que circulam, sou levado a admitir que o treinador dos encarnados gostaria de ter à sua disposição o grupo que ainda não tem.
Dir-me-ão que a base está lá, certo, mas é uma evidência que continua a haver pontas soltas que falta reunir por razões diversas, umas presas na tradicional arte portuguesinha de complicar o que pode descomplicar-se através do diálogo, outras bloqueadas no trânsito de casos pendentes, não surpreendendo que o Benfica continue a sentir dificuldades em libertar-se da caterva de jogadores vulgares que foi colecionado.
O que se estranha, isso sim, foi a atração por tanta gente desinteressante, mas toda ela ricamente paga, com as consequências que estão à vista. Só não se sabe quem a sugeriu, quem lhe abriu a porta de entrada e quem lhe propôs contratos de arregalar.
Quem gosta do Benfica reconhece que a construção do futuro não deve ficar refém do turbilhão de erros do passado e do presente. Ou será que faz algum sentido, por exemplo, comprometer a entrada na Liga dos Campeões, prescindindo de Ricardo Horta por causa de uma diferença de cinco milhões ou dificultando a aquisição do médio com o perfil que Schmidt deseja enquanto Weigl não sair pelo verba que se reclama? Creio que não. O problema não é Weigl, nem sequer Vlachodimos, que deve ser guarda-redes mais enxovalhado no espaço europeu com a conivência da própria estrutura que tem reagido com silêncio profundo. O verdadeiro problema que continua por solucionar reside nas inutilidades do plantel, de fraco valor no mercado, algumas nem oferecidas por causa do que ganham.
OEstádio da Luz volta a ser ponto de encontro dos benfiquistas, empolgados com o futebol alegre, dinâmico e de risco total que Roger Schmidt quer implantar, embora, insisto, ainda lhe falte equipa. Apesar disso, revela-se satisfeito com o que tem, o que é um bom princípio, mas compete a Rui Costa dar asas ao projeto de mudança e ser grato aos deuses por lhe terem trazido Enzo Fernández meia temporada mais cedo do que era previsto.
Neste ano de arranque, o que está por preencher nem é nada de especial. Custa dinheiro, claro que sim, mas é investimento seguro, creio.
O Benfica encontra-se numa encruzilhada e tem de sair dela. Para isso, é preciso investir (que é o contrário de gastar mal), definir um rumo de conquistas, seguir em frente com a firme convicção de quem acredita e honrar a sua história.
SÉRGIO CONCEIÇÃO
SIGNIFICATIVA a mensagem de Sérgio Conceição dirigida a «todos os portistas que apenas querem o bem deste nosso grande clube». Significativa, também, a presença, junto dos vencedores da Supertaça, de José, o filho mais novo do treinador, «a provar a mística do nosso FC Porto». Com Francisco Conceição tranquilo e feliz, no Ajax, Sérgio, o primeiro responsável pelo sucesso futebolístico do FC Porto nos últimos cinco anos, muito provavelmente, não estará mais disposto a calar-se perante as insinuações de quem não merece crédito.
MÓNICA JORGE
PORTUGAL, país periférico, despertou para o futebol feminino. Já não é possível ignorar. O último exemplo foi dado pelo Campeonato da Europa, em que a nossa Seleção participou. Estádio do Wembley lotado para receber a final entre a Inglaterra e a Alemanha. Mais de 87 mil pessoas nas bancadas. A FPF, sob a presidência de Fernando Gomes, há muito que abraçou esta nova realidade e ordena a justiça que não se ignore que tudo começou com o trabalho e o entusiasmo de Mónica Jorge. O futebol não mais será visto como um jogo de homens. É um jogo fantástico, de todos e para todos. Que as raparigas portuguesas adoram.