Havia petróleo no Beato 
Gyokeres (IMAGO)

Havia petróleo no Beato 

OPINIÃO28.04.202508:20

'Para lá da linha' é uma opinião semanal

Há pouco mais de um ano, escrevi neste espaço que a Liga portuguesa estava prestes a perder os seus jogadores mais entusiasmantes: João Neves e Viktor Gyokeres. A realidade veio provar, então, que apenas o jogador do Benfica saiu – o clube, sabe-se lá como, não conseguiu segurar «o Joãozinho», que saiu por «apenas» 60 milhões de euros, e entretanto foi campeão de França com o PSG. O sueco manteve-se fiel ao Sporting – escudado pela estrela cintilante que era Ruben Amorim -, mas parece que desta temporada já não passa mesmo, e lhe está destinado o regresso a Inglaterra, para voos mais altos que o Coventry – na altura, o smog terá impedido os clubes da Premier League de ver um jogador daqueles com clareza.

Um dia deste sonhei que «havia petróleo no Beato»: para os mais novos, este é o título de uma peça de teatro de 1986 protagonizada e escrita por Raul Solnado, em que um taxista em dificuldades financeiras vê a mulher descobrir petróleo no quintal ao apanhar uma alface e todos os problemas parecem resolvidos. Torna-se famoso, o mundo é dele - havia uma crise de petróleo na altura, por isso o taxista Juvenal ficou na crista da onda.

No meu sonho, havia petróleo para todos os clubes portugueses. Sonhei que a nossa liga tinha o poder de segurar os seus jogadores mais valiosos e tornar-se assim um verdadeiro ‘player’, como se diz. Que podiam oferecer contratos bons ao João e o Viktor; também ao Rodrigo Mora, manter o Samu. Chamar o Bernardo Silva, o Ruben Neves, o Bruno Fernandes sem dizer ‘epá mas eles ganham muito, podem lá voltar para cá’.

Que os adeptos podiam, veja-se bem, ficar descansados quando um jovem jogador começa a despontar no seu clube, sem temer que notas potentes acenadas de outras latitudes o venham buscar ainda antes de fazer 20 anos. Como ouvi alguém dizer uma vez no café: 'Já não se pode ter um jogador de jeito'. O que fica implícito é que os jogadores de jeito não foram feitos para nós.

Mas, no meu sonho, nós tínhamos petróleo, por isso o que eles acenavam eram apenas notas de Monopólio. E a nossa liga era incrível.

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