Há perder por muitos e por poucos… mas conta o mesmo
Entendamo-nos: não acho que a derrota por um golo, em Dortmund, seja um resultado mau em si mesmo. O problema é que a derrota por um, ou por cinco, é igual em pontos
OSporting entrou em Dortmund como não entrou em Alvalade contra o Ajax: tentando jogar o seu jogo e com vontade de não se entregar. Tinha, na Alemanha, alguns trunfos a favor: Coates (que ainda provocou um calafrio) e o facto de Haaland não jogar. Acima de tudo, aos 10 minutos não estava a perder 2-0 e a linha dos centrais comportou-se muito bem, originando vários fora de jogo aos alemães (só golos anulados foram três). Foi, precisamente, como todos os comentadores notaram, numa falha da defesa que o holandês Malen marcou, aos 37 minutos, o único golo dos alemães.
Rúben Amorim diz que a equipa está a crescer, que ainda não tem peso europeu, e é verdade. Ver-se-á com os dois jogos com o Beksitas, que se seguem (o primeiro, na Turquia; o segundo em Alvalade). Os turcos, tal como os portugueses, perderam os dois jogos que até agora fizeram no grupo, contra Dortmund e Ajax. Porém, estão em vantagem na diferença de golos, uma vez que em casa perderam 1-2 com o Dortmund e, terça-feira, 0-2 em Amesterdão. No conjunto, um golo marcado contra quatro sofridos, ao passo que o Sporting tem um marcado contra seis sofridos. Ou seja, o Beksitas, para já, leva vantagem, embora ainda faltem quatro jogos .
Outro dos problemas que se vê na Europa (e também por cá) é a ineficácia ofensiva. Em Dortmund, o Sporting teve oportunidades que não pode desperdiçar com a displicência que o fez. O modo como Paulinho passou uma bola a Tiago Tomás (que este nunca poderia apanhar); ou a forma como não se remata à baliza quando parece haver condições para o fazer. Talvez o único jogador isento desta crítica seja Porro, que faz o possível e (quase) o impossível para criar perigo e ser perigoso.
Enfim, depois do 5-1 que o Ajax nos pregou em Alvalade, jogo que teve o seu quê de excecional e azarento, podemos sempre dizer que uma derrota por números mínimos, em Dortmund, é aceitável. Aliás, se este fosse o primeiro jogo da Champions, falar-se-ia da equipa sportinguista de outro modo. Infelizmente são duas derrotas consecutivas e, embora o que fique da Alemanha não seja a má imagem que deixou em Lisboa, no global, o Sporting é uma daquelas equipas em que já ninguém aposta para a fase seguinte.
Há, ainda, um problema maior: o Porto, a jogar em casa, contra o Liverpool, perdeu, igualmente por 5-1; parece que em cada jornada da Liga dos Campeões tem de haver uma equipa portuguesa a ser goleada. No jogo da Luz, contra o Barcelona, o Benfica contrariou esta tendência ao vencer os catalães, desorientados e irreconhecíveis, por 3-0. Mas nem este feito do Benfica, que teve mérito na vitória, coloca os números dos portugueses num ponto razoável: nos seis jogos já disputados, as equipas portuguesas marcaram cinco golos e sofreram 11. É preocupante! Claro que para os da Luz, que não têm golos sofridos e contam com três marcados, a história é outra.
Sporting somou em Dortmund a segunda derrota na fase de grupos da Champions
DEPOIS, VEM O SHERIFF...
FOOTBALL CLUBE ‘SHERIFF’, é um clube da Moldávia, 19 vezes campeão daquele país, que existe desde 1991, quando declarou a sua independência da Roménia. A Moldávia, um país de dois milhões e meio de habitantes, entalado entre a Roménia e a Ucrânia, tem uma região, a Transnístria (a leste do rio Dniestre), que proclamou a sua própria independência, o que ninguém reconheceu (deve ser o único país que ainda tem a foice e o martelo nas insígnias). Esta Transnístria tem como capital a cidade de Tiraspol. É aí que encontramos o Sheriff. Claro que para a UEFA o Sheriff é um clube moldavo; mas para os seus donos ele é transnístrio. O dono é Victor Gusan, uma estranha personagem, homem de negócios esquisitos, com ligações aos russos (ele tem a nacionalidade russa, aliás) e a Chipre, onde domina umas empresas offshore. Nas Ilhas Virgens Britânicas, outro offshore, e como russo, fundou seis companhias. O emaranhado de interesses, companhias, offshores e o que mais for, resulta no clube com o curioso nome, que está a ser romanticamente visto como um tomba-gigantes, depois de vencer o Shaktar e o Real Madrid - e terá esse mérito -, mas que beneficia de interesses estranhos ao futebol para, não só, lavar dinheiro e financiar negócios dúbios, como para afirmar politicamente uma independência não reconhecida, mas financiada pela Rússia. A Sheriff Holding reúne, aliás, um grupo de companhias de que o clube é um dos pilares, dominando a economia da região, que continua, em boa parte, a depender de Moscovo. Quem estiver mais interessado neste assunto pode ler (em português do Brasil) uma excelente reportagem da BBC, publicada na Internet com o título «A estranha normalidade da vida em um país que não existe oficialmente». É um trabalho sobre a vida em Tiraspol, onde se situa o estádio do Sheriff, com capacidade para 22 300 adeptos.
VOLTANDO AOS 'COWBOYS'
POR cá, que se saiba, não temos disto e as mudanças no Sporting, em 2018, e no Benfica, que estão a decorrer, vão no sentido contrário. Alegremo-nos, pelo menos, por este facto. São muito engraçadas as vitórias sobre o Real e o Shaktar, mas o clube não é exemplo para nada, nem para ninguém.
O Sporting, do meu ponto de vista, tem um outro pecado que pode ser cruel: é capaz de matar do coração qualquer adepto. Depois do jogo contra o Estoril, que já mencionei há uma semana, defrontámos, em casa, o Marítimo. Vencemos pelo mesmo escasso 1-0 e pelo mesmo método do penálti. As vitórias foram ambas justas, e os penáltis bem assinalados; nada disso está em causa. O problema é a falta de concretização. Penso que devíamos escrever isso 100 vezes para convencer alguns jogadores de que o objetivo do jogo é mesmo meter a bola na baliza adversária.
Claro que Pedro Gonçalves, o melhor marcador da Liga no ano passado, faz falta, e que todos os clubes já entendem melhor a forma de contrariar o jogo do Sporting. O sistema de tranca, camioneta, cadeado, o que for, só não tem dado resultado, felizmente para nós, porque há sempre um erro - seja o guarda-redes que falha a interceção da bola e interceta os pés de Paulinho; seja o guarda-redes que falha o soco na bola e o dá na cara de Jovane. Mas, até quando podemos confiar neste método? Sem retirar mérito ao Estoril, que aliás segue em quarto lugar, nem ao Marítimo, veremos como correrá em Arouca, já no próximo sábado.
Depois, a Liga volta só a 22 de outubro, devido ao intervalo para as seleções, não esquecendo que três dias antes há o encontro na Turquia com o Besiktas, pelo que há tempo para refletir neste e noutros assuntos. E sobretudo, espero, para recuperar Pote e Gonçalo Inácio, que são elementos muito importantes que nos têm faltado.
JOGAR FORA
Porto — Areação de Sérgio Conceição à derrota do Porto com o Liverpool foi mais de adepto ferrenho do que de treinador. Não posso dizer que não gosto de Sérgio, mas o exagero não lhe faz bem a ele, nem à equipa… Em termos internos, não me afeta que o Porto fique afetado, mas em termos europeus é diferente.
Braga — Começou mal com o Estrela Vermelha, joga esta noite em casa com o Midtjylland (que espero não ter de escrever mais vezes). Tudo o que não for uma vitória deixa os minhotos numa posição muito incómoda.
Benfica — Os últimos são os primeiros (em Portugal, na Europa são segundos). De qualquer modo, a vitória do Benfica é mais do que digna de registo. Mesmo com o Barcelona num estado comatoso, não é qualquer equipa que vence os catalães por 3-0, e no Benfica viu-se querer. Na verdade, e apesar de ir em sexto no campeonato espanhol, já a cinco pontos do Real Madrid (que perdeu com o Sheriff, não esquecer), apenas o Bayern lhe tinha imposto, esta época, uma derrota por três. Acresce que o Barça tem péssimas recordações do Estádio da Luz, onde registou a maior derrota da sua história, desde um 11-1 contra o Real Madrid, em 1942, há quase 80 anos: 8-2 frente ao Bayern nos quartos de final da Liga dos Campeões, em agosto de 2020.