Ganhar, a razão
Genial nas suas crónicas de futebol, Nelson Rodrigues inventava, como metáforas de vida, personagens em expressões que iam do Idiota da Objetividade ao Cretino Fundamental, do Narciso do Avesso à Grã-fina das Narinas de Cadáver - mas não, não foi de nenhuma delas que eu me lembrei ao recordar o que alastrou, por línguas fora, a seguir à vitória do SC Braga no Dragão e do Benfica em Alvalade - coisas assim:
- O Benfica está demasiadamente grande para aquilo que é a dimensão do futebol português…
Ou assim:
- O Benfica está numa situação em que se se pode tornar rapidamente numa espécie de Juventus de Portugal.
(Sim, ambas essas frases são do Rui Santos - e aqui estão só por dizerem mais poetificadas o que outras afirmaram, banais, em iguai estirpe). Do que me lembrei, pois, nos alvitres a falharem, foi dum anúncio de uma firma de advogados no Financial Times: em torno de uma foto de Bill Shankly, lendário treinador do Liverpool, a caminhar, de braços erguidos em triunfo, frente a bancada apinhada de gente, estava, em letras garrafais, o clamor: Uma pessoa pode fazer a diferença - e, abaixo, explicava-se: Bill Shankly era homem de convicções, um líder inspiracional. Precisamos de pessoas com as qualidades de Bill. Pessoas que se consigam ultrapassar-se a si próprias e inspirar outros a fazerem-no.
Não, não tenho dúvidas: o FC Porto não vai ganhar este campeonato sobretudo por o Benfica o ter perdido (ou o Lage e o Vieira...) - vai ganhá-lo sobretudo por Sérgio Conceição o ter vencido, vencendo-o por ter, espicaçado, dentro da sua alma, o Shankly (do FT); vencendo-o por ter, sublimado, dentro do seu espírito, o Pedroto (que era o que o FC Porto mais precisava para não o perder quandoos arautos e as pitonisas o afiançavam, desgraçadamente, condenado).
PS: Nenhum outro treinador teria sido capaz de ganhar, com este FC Porto, o que Sérgio Conceição vai ganhar uma vez mais - é o que acho (axiomático talvez...)