Futuros Ronaldos: cresçam e apareçam

OPINIÃO27.03.201903:00

A Seleção continua em modo intermitente desde o triunfo no Euro-2016 - vai para três anos, como quem não quer a coisa. Têm sido muitos jogos a puxar para o cinzentão (ganhou apenas três dos últimos dez jogos oficiais…) e o balanço dos últimos tempos não é brilhante. Fez-se uma Taça das Confederações apenas regular, eliminados na meia-final (no desempate por gp) por um vigoroso Chile que nos foi claramente superior em jogo jogado e ousadia; e fez-se um Mundial da Rússia francamente dececionante, em que o único destaque positivo foi o fabuloso hat-trick de Cristiano à Espanha (3-3) num jogo em que levámos um verdadeiro amasso futebolístico dos hermanos.  Talvez se esperasse uma evolução mais clara e assertiva no jogo da  Seleção que ganhou o Europeu em França, e aqui Fernando Santos terá com certeza  responsabilidades. Mas o último Mundial, para os mais esquecidos, também ficou marcado pelos fracos desempenhos de vários meninos de ouro muito acarinhados - alguns quase incensados - pela Imprensa portuguesa. Falo de Bernardo Silva, André Silva, Gonçalo Guedes, Bruno Fernandes e Gelson Martins, embora este último quase não tenha sido utilizado. A licença sabática tirada/concedida a Cristiano aliada à qualificação, sem ele, para a final four da Liga das Nações à custa de uma Itália pindérica e da robusta Polónia, motivou uma espécie de presunção coletiva quiçá um bocadinho precipitada:

a) que a Seleção se calhar até joga melhor sem Ronaldo porque os meninos de ouro se retraem na presença dele e não conseguem libertar a genialidade que lhes habita os pés.  


b) que o futuro da Seleção só pode ser brilhante porque há vários putativos sucessores de Ronaldo na forja - como se fosse muito fácil e até natural aparecer outro português capaz de fazer o que Cristiano tem feito -, ele que é um dos maiores futebolistas de sempre.
Pois bem. Os putativos Ronaldos desperdiçaram na segunda-feira com a Sérvia mais uma boa oportunidade de mostrarem que são capazes de levar a seleção às costas na indisponibilidade (por lesão) do único futebolista português que realmente intimida os adversários a sério e decide jogos de grande exigência com regularidade. Claro que o árbitro errou, claro que aquela mão era penálti; claro que podíamos ter ganho os dois jogos em vez de os ter empatado - em casa; claro que Ronaldo, por vezes, é como o eucalipto que inibe e seca todos à sua volta, o que até se pode tornar irritante quando ele não está em modo terminator. Mas o que ficou de 180 minutos não enche os olhos a  ninguém. E vocês, putativos Ronaldos, não podem furtar-se às vossas responsabilidades.

 
Excelentíssimos futuros Ronaldos: é fácil brilhar em manchetes bombásticas com verbas estapafúrdias que ninguém vai pagar. É mais difícil justificar os ziliões da cláusula em campo. Passes, passinhos, toques, lateralizações, rodopianços, calcanhares e outros artifícios de pólvora seca como os que executaram até à exaustão perante ucranianos e sérvios pode ser bonito para inglês ver. Mas não chega. Já nem para nós chega - nisso, honra seja feita ao engenheiro Fernando Santos que, pragmático e objetivo como um general prussiano, nos deu cabo do conceito de vitória moral em 2016. Putativos Ronaldos: gostamos muito de vocês, nossos lindos meninos, mas, pelo que se tem visto, continua a faltar-vos o que vos faltou no Mundial da Rússia. Poder de fogo. Contundência. Rudeza na hora da definição. Instinto assassino. O que vocês têm mostrado ainda é curto para as encomendas. Portanto, cresçam e apareçam.