Futuro do Benfica em jogo

OPINIÃO12.07.202107:05

Independentemente do que esteja escrito nos estatutos, Rui Costa só será o legítimo presidente do Benfica quando para isso for eleito pelos sócios

A detenção de Luís Filipe Vieira - independentemente da sua libertação posterior ou, até, do desfecho jurídico das acusações que enfrenta, que só será conhecido, muito provavelmente, daqui a muitos anos - marcou o fim de uma era no Benfica. Uma era que será, por muitos, recordada como um dos melhores períodos da centenária história do clube da Luz; por outros como uma das mais conturbadas tendo em conta a forma como o nome do clube se viu, nos últimos anos, arrastado para um pântano que não pode deixar de, no mínimo, incomodar todos os benfiquistas. Seja como for, olhe-se para o reinado de Vieira como se olhar, é evidente que ele acabou. Como acabam todos.
A diferença para outros é que Luís Filipe Vieira tem, ainda, uma palavra a dizer sobre a forma como se despedirá da Luz. Sendo claro que já não sairá pela porta grande - como porventura merecia se olharmos só para aquilo que fez pelo crescimento do Benfica -, pode ainda, Luís Filipe Vieira, sair com alguma dignidade, mostrando serem verdadeiras as palavras do seu advogado quando anunciou a decisão do seu constituinte de suspender as funções de presidente - «o Benfica está primeiro» - e não apenas uma forma de escapar a medidas de coação mais graves. Se Luís Filipe Vieira colocar, efetivamente, o Benfica em primeiro lugar, o único caminho é, assim que lhe for possível, anunciar a sua demissão efetiva, abrindo com isso espaço para uma sucessão mais pacífica do que aquela que permitirá se mantiver, por tempo indeterminado, a mera suspensão de funções. Admito que ainda não o tenha feito, porque merece Vieira, por tudo o que fez pelo Benfica, transmiti-lo pelas suas palavras aos benfiquistas, em vez de através de um comunicado lido pelo seu advogado. Mas agora que já está livre é o que se espera de um presidente que apregoa colocar o Benfica «em primeiro lugar». É o mínimo. E quanto mais depressa melhor.

R EI morto rei posto? As coisas não são assim tão simples. Nem podem, na realidade, ser assim tão simples. Rui Costa assumiu-se, depois da autossuspensão de Luís Filipe Vieira, como presidente do Benfica. Percebo a ideia: passar uma imagem de tranquilidade para o exterior, de forma a acalmar sócios, equipa, acionistas, parceiros e patrocinadores. E concordando com a legitimidade (tenha sido Vieira a nomeá-lo ou os restantes companheiros de Direção a escolhê-lo) de Rui Costa para assumir, no imediato, a presidência do Benfica, parece óbvio que Rui Costa nunca será (mesmo que os estatutos dissessem, de forma clara, que tinha esse direito) o legítimo presidente do Benfica enquanto não for, para isso, escolhido pelos sócios, que são, sempre, os únicos que podem escolher quem querem para seu presidente. Não um presidente em exercício, nem um presidente suspenso, nem um ex-presidente, nem os elementos de uma Direção, mesmo que eleita há menos de um ano. Só os sócios.
Por isso, da mesma forma que o único caminho de Vieira é anunciar, o mais depressa possível, a sua demissão, o único caminho de Rui Costa, e da Direção que o apoia, é anunciar, também o mais depressa possível, a demissão (independentemente do que fará Luís Filipe Vieira...) e a marcação de eleições, garantindo a gestão de todos os assuntos do clube e da SAD até os sócios escolherem, nas urnas, o novo presidente. É o que espera de um clube democrático como sempre se orgulhou de ser o Benfica e é também a única forma de fazer voltar à Luz a tranquilidade necessária nesta fase tão conturbada e, ao mesmo tempo, tão importante da época. Depois, se se sentir preparado para isso, Rui Costa anunciará a candidatura à presidência e deixa que sejam também os sócios (e não os comentadores ou as redes sociais...) a julgarem o seu trabalho nos últimos anos. Qualquer outro rumo, já se percebeu, conduzirá o Benfica para um período de instabilidade que não augura nada de bom. Pelo contrário.