Futebol paga pela imagem que criou

OPINIÃO14.09.202004:00

DEPOIS do assunto ter ganho relevância com as candidaturas dos presidentes das Câmaras de Porto e Gaia ao Conselho Superior do FC Porto, a questão volta à primeira linha da atualidade com a inclusão dos nomes de António Costa e Fernando Medina na Comissão de Honra da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica. Devem, figuras que desempenham cargos públicos institucionais ao mais alto nível, ver limitados os seus direitos de cidadania, em nome do recato e contenção, ou seja, do politicamente correto? Digo em relação a António Costa e Fernando Medina o que já dissera quanto a Rui Moreira e Eduardo Vítor Rodrigues: se estão confortáveis com a decisão; se estão dispostos a arcar com um escrutínio acrescido... então, nada há a censurar, por um lado porque a lei não os impede e, por outro, porque são cidadãos a exercer os seus direitos.  

O que parece claro é que o preconceito, em variadíssimos setores da sociedade portuguesa, contra o futebol, é cada vez maior.
E, do ponto de vista do futebol, esta questão é que merece relevância, perceber que razões levam a esta alergia à modalidade mais popular do país, e como inverter esta tendência.

Em primeiro lugar, deve assinalar-se que os clubes têm as lideranças que querem, há eleições periódicas e ninguém está a usurpar funções. O problema é que a radicalização a que se assistiu na última década retirou credibilidade às presidências e a imagem pública transmitida é a de uma sociedade sem rei nem roque, que olha para os princípios com demasiada ligeireza e parece disposta a todos e quaisquer meios para atingir os fins. Enquanto os clubes não se comportarem, entre eles, de forma civilizada e urbana - como acontece, sem exceção, nos Big Five - a perceção da sociedade não se alterará e o futebol continuará a ser visto como uma área mal frequentada e nada recomendável. E de nada valerá sermos campeões da Europa e vencedores da Liga das Nações, ou termos na FPF exemplos de excelência na gestão.

DESGRAÇADO país este em que se está a favor ou contra Rui Pinto por ser-se do FC Porto ou do Benfica, ou  se acha bem em Rui Moreira o que se critica em António Costa (e vice-versa), apenas em função da cor das lentes clubistas. Atraso de vida...