Freire goleia Conceição

OPINIÃO31.08.202206:30

Treinador do FC Porto, pela enésima vez, escolheu um adversário como alvo da frustração por dia mau dos dragões. Impunemente, antecipo

PORTUGAL, no desporto, vive, infelizmente, numa monocultura pouco colorida, com o futebol a sobrepor-se às demais modalidades (e não são poucas e também têm muitos sucessos). O futebol, no nosso País, é, sobretudo, FC Porto, Sporting e Benfica, emblemas dominantes nos adeptos e nos títulos.

Na ronda 4 da Liga, dois clubes regressados à principal competição, Chaves e Rio Ave, surpreenderam rivais todo-poderosos. Os flavienses, em Alvalade, derrotaram leões com menos garras do que no passado recente, enquanto os vila-condenses receberam o campeão nacional e venceram-no!

Focando-me no duelo entre os clubes campeões da Liga 2 e da Li- ga de 2021/2022, impossível não elogiar as palavras de Luís Freire, técnico do Rio Ave, após a conferência de Imprensa do homónimo do FC Porto. Sérgio Conceição, muito mais experiente e bem-sucedido, escolheu mal o técnico adversário como alvo da frustração pelo insucesso portista.

Fê-lo socorrendo-se de mentira, apontando o dedo ao antijogo que o rival não praticou, como demonstram a estatística do Rio Ave, 3-FC Porto, 1. Roger Schmidt, treinador alemão do Benfica, elogia o nível da Liga. E fica-lhe bem fazê-lo! Em Vila do Conde, pela enésima vez, por não existir penalização que desencoraje a reincidência nos maus comportamentos, como acontece, nomeadamente, na Premier League, Conceição, que até já elogiei nesta página, excedeu-se e insultou adversário que não é inimigo. Impunemente, antecipo-o!

Mas, o que disse Freire, o campeão da Liga II em 2021/2022, no Rio Ave, após o título no Campeonato de Portugal de 2017/2018, no Mafra - antes, com o Pêro Pinheiro, dois regionais na Associação de Lisboa, o primeiro em 2015/2016 (Divisão de Honra), o segundo em 2016/2017 (1.ª Divisão)? Que a qualidade dos menos grandes que os grandes é subvalorizada. O técnico dos vila-condenses tem razão. Por norma, analisando-se os jogos de FC Porto, Sporting e Benfica, sublinham-se os defeitos de Golias, não as virtudes de David. E, também é verdade, trabalha-se muito e bem noutros clubes do nosso País. Por mim, mea culpa!
 

O treinador do Rio Ave, Luís Freire, aponta o dedo à subvalorização dos menos grandes  


Luis Freire, técnico jovem com percurso interessante (estreou-se no Ericeirense e, até ingressar no Rio Ave, em 2021/2022, para recolocar o clube no topo do futebol português, passou por Pêro Pinheiro, Mafra, Estoril e Nacional, emblema que também devolveu à Liga no fim de 2019/2020, temporada em que o treinador da Ericeira ganhou o título de melhor no escalão), falou no mérito da equipa que lidera e desvalorizou os excessos de companheiro de profissão que colocou no patamar dos melhores, recordando os três campeonatos ganhos com o FC Porto.

Por oposição, Sérgio Conceição disse nada sobre as causas do insucesso do FC Porto. A construção de uma equipa nova obriga a tempo de trabalho e os dragões ficaram sem Mbemba, Vitinha, Fábio Vieira ou Sérgio Oliveira e não contrataram jogador capaz de impor-se logo como titular, nem mesmo David Carmo, contratado ao SC Braga por 20 milhões. Menos qualidade, risco de perder mais.

Passa-se (quase) o mesmo com o Sporting. Em Alvalade, também frente a primodivisionário novo, o Chaves, derrota por 0-2. Rúben Amorim encaixou melhor o resultado negativo. O técnico dos leões, acredito, tem consciência do impacto das perdas de Palhinha, Sara- bia, Tabata e Matheus Nunes!

Mas, ao contrário de Sérgio, Rúben vive o insucesso pela primeira vez. Privilegiando a convicção pessoal ao pragmatismo, não será bem-sucedido, pelo menos facilmente. Amorim pode deixar-se de teimosias e aprender com o Conceição dos exemplos bons: temporada após temporada, o técnico do FC Porto adapta-se às circunstâncias e recria equipas competitivas e vencedoras. Nos leões e nos dragões, depois de entradas sem a dimensão das saídas, início de época possível. A derrapar!...