Frankfurt am Main!...

OPINIÃO10.09.202206:30

Rúben Amorim é, ao vivo, rigorosamente a mesma pessoa: a mesma naturalidade e humildade, a mesma sagacidade e inteligência

S OU do tempo - o tal que para mim (e não só) acabou - em que era normal acompanhar o Sporting nos encontros internacionais. Viajava, como muitos outros adeptos, no avião da equipa, em que também viajavam os jornalistas dos jornais, da rádio e da televisão. Viajei desta forma, como um dos responsáveis do futebol, como dirigente e como simples sócio e adepto, algumas vezes acompanhado pela família. Confesso que tenho saudades desse tempo de convívio, com grandes e saudosos jornalistas, que não precisavam de quaisquer regulamentos para saber o que se podia falar e perguntar em on ou off! Era o tempo distendido do futebol que se vivia com paixão e convívio.
Tenho saudades, mas compreendo por que é que tudo isso acabou, e tenho a humildade de reconhecer que isso não é mais possível, por culpa exclusiva de todos os agentes desportivos, incluindo neste caso - e só neste caso - os jornalistas. Todos temos culpa porque deixámos de poder confiar uns nos outros, porque o que vende ou tem audiência não é apenas a informação, mas, muitas vezes, o boato, a insinuação e até a falsidade, questões que, longe de fortificar a liberdade de expressão e opinião, antes a enfraquece, por se tratar antes de libertinagem. Não há escrutínio, porque os medíocres que por aí andam o confundem com censura, que é uma coisa bem diferente.
Deixaram de se organizar, pois, essas viagens que tão boas (e más) memórias me deixaram. Esta época, porém, tinha decidido que voltaria a acompanhar a equipa nas provas internacionais, mesmo que não houvesse - como não houve -  um avião verde. Realizou-se o sorteio e de imediato decidi a minha deslocação a Frankfurt e para aí parti às 5 da manhã, faz hoje oito dias. E deixo desde já um voto: alguém que volte a organizar não daquelas viagens com a equipa, pois actualmente não há condições para tal, mas de simples adeptos e associados.
Esta decisão foi tomada, porque estava cheio de fé num bom resultado, e como um gesto de quem não deixa de acreditar numa equipa (técnicos e jogadores) e no seu projecto, pese alguns solavancos que aparecem, mas a que é preciso pôr termo, para que a parte desportiva não seja prejudicada pela parte financeira, como muitas vezes tenho referido. Não podemos ficar pela sustentabilidade financeira através da venda de jogadores, antes procurar outras formas de desenvolvimento desportivo e económico-financeiro de uma sociedade anónima desportiva, que, por definição, tem por objeto a participação em competições de carácter profissional, e, no caso do Sporting, o objectivo de as vencer. Não pode ser objectivo de uma sociedade desportiva do Sporting apenas formar e vender jogadores, em vez de os procurar manter para conquistar títulos. Os interesses económicos e financeiros e os desportivos são conciliáveis e, mais do que isso, é uma questão semelhante à do ovo e da galinha. A frase de José de Alvalade não é um slogan, mas um desígnio para cumprir, e que está cumprido (e para continuar) em muitas modalidades.
Esta convicção foi-se cimentando em mim e, no dia do jogo, consegui, finalmente, conhecer ao vivo e a cores o treinador Rúben Amorim. Como já referi, várias vezes, nunca o tinha cumprimentado pessoalmente, como tive agora ocasião de fazer. Curta conversa, como não podia deixar de ser, pois se eu estava ali como turista/adepto, ele estava a poucas horas de um jogo importante em que, como sempre, ele assume toda a responsabilidade.
Curta, mas elucidativa sobre o homem que lidera a equipa técnica. Comparo este encontro à minha primeira ida a Nova Iorque, por acaso com o Sporting.
Nova Iorque, quando a visitei pela primeira vez, parecia uma cidade onde já tinha vivido, como se estivesse em casa. Os filmes deram-me a conhecer essa cidade de tal forma que não me apresentou novidade. Rúben Amorim também não me surpreendeu porque é o mesmo homem que comunica connosco nas entrevistas e nas conferências de imprensa. É, ao vivo, rigorosamente a mesma pessoa: a mesma naturalidade e humildade, a mesma sagacidade e a mesma inteligência na abordagem das questões. Um verdadeiro líder, em que podemos confiar. Nada de ver fantasmas, antes ajudar a construir!...
Ainda havia de o ver no dia seguinte àquela estrondosa vitória, agora ainda mais fugazmente, porque o tempo não pára e há que preparar o Portimonense, e apenas para o felicitar. Mas permaneci um pouco para assistir à saída dos jogadores e todo o staff, com o olhar de quem andou anos nestas andanças e agora as observa a uma certa distância, mas com experiência vivida.
Não sou capaz de reproduzir em palavras a minha observação. Apenas posso dizer que senti um ar bom de respirar. Senti uma excelente organização no que respeita às tarefas a executar. Senti muito profissionalismo e, ao mesmo tempo, alegria no que se está a fazer, sem qualquer euforia, apenas o sentido do dever cumprido na véspera. Costumamos dizer que somos diferentes, mas agora o que constatei é que tudo está diferente. E com satisfação o digo, e com a mesma sinceridade como quando critico o que entendo dever criticar.
Estamos no bom caminho, mas é preciso consolidar o projecto na vertente económico-financeira. Os sócios e adeptos, acho eu, estão mobilizados para isso. Há que aproveitar a onda, pois vejo os adversários muito incomodados, sempre a procurar novas histórias para nos dividir.
E pronto: Frankfurt am Main ficou para trás; hoje temos Portimonense am José de Alvalade!...


RUI PIGNATELLI

H OJE, a referência a um nome não é, felizmente, para me referir ao seu desaparecimento, mas antes ao seu 91.º ano de uma vida dedicada, esforçada e devotada ao Sporting, onde conheceu a glória. Sócio há setenta e oito anos - vida associativa que viveu como atleta e dirigente. Admitido no Grupo Stromp em 1981, é hoje o seu membro mais antigo, uma verdadeira referência, portanto.
O jornal do Sporting Club de Portugal, na sua edição de quinta-feira passada, presta-lhe uma singela homenagem, assinalando esta data.
E eu, que sei Rui Pignatelli leitor deste jornal, não poderia deixar de assinalar também o momento, desejando-lhe muitos mais anos de vida, com saúde, para continuar a dar ao Sporting todo o seu esforço, dedicação e devoção ao Sporting, e ao Grupo Stromp o privilégio da sua presença como referencia de um sportinguismo profundamente vivido. Obrigado Rui!