França outra vez
O título é propositadamente dúbio. Se nos qualificarmos para a final four da Liga das Nações será sempre à custa da França, mesmo que não lhes ganhemos o jogo da Luz - ou seja, podemos dizer que lhes ganhámos outra vez desde a inesquecível final do Euro-2016 (Éder) no Stade de France. Se por acaso a coisa nos correr mal no sábado e a França vier a ganhar o grupo (resta-lhe jogar com a Suécia e nós ainda temos de ir à Croácia), podemos dizer que a França nos tramou outra vez, depois de nos ter ganho a meia-final do Euro-1984 (3-2), a meia-final do Euro-2000 (2-1) e a meia-final do Mundial-2006 (1-0). Portanto, com a França será sempre um outra vez, independentemente do resultado. Há outra coisa importante em jogo neste duelo. Portugal é a única seleção europeia no séc. XXI que não falhou uma única fase final - a única! - e luta pela 13.ª qualificação consecutiva (a final four de 2021 ocorrerá entre 6 e 10 outubro em local a determinar e Itália, Polónia e Holanda declararam interesse em acolhê-la).
Estivemos em cinco Europeus e cinco Mundiais e na primeira final four da Liga das Nações em 2019 (além da presença, por inerência, na Taça das Confederações de 2017, na Rússia). Quanto aos outros grandes: França, Espanha e Alemanha falharam a Liga das Nações de 2019 e a Inglaterra falhou o Europeu de 2008; a Itália falhou o Mundial de 2018 e a Liga das Nações de 2019; a Holanda falhou os Mundiais de 2002 e 2018 e o Europeu de 2016. Era uma pena que a França viesse estragar-nos tão brilhante série…
França essa que tem uma bela equipa, como convém a um campeão mundial e vice-campeão europeu em título. De Mbappé, Giroud e Coman (o homem que decidiu a última final da Champions na Luz…) a Griezmann, Martial e Pogba, sem esquecer N’Golo Kanté, Tolisso, Rabiot, Varane e Lenglet… uff!, quanta qualidade na convocatória de Deschamps. O facto de ele prescindir de jogadores como Fekir, Ndombélé, Houssem Aouar e Upamecano, já para não falar de Benzema, diz tudo sobre a vastidão do campo de recrutamento bleu. Neste último duelo connosco (0-0), a França mostrou muito respeitinho e não se aventurou em demasia como se tivesse receio de levar um novo Éder. Veremos como se comporta a França neste sábado, sabendo-se que um empate já não lhe serve de todo, porque deixa Portugal em vantagem (melhor diferença de golos) à entrada da ronda final.
É de esperar, por isso, uma França mais ousada e afirmativa. A vitória é o único resultado que lhe serve para não ter de ficar dependente de uma Croácia sem qualquer motivação para comer a relva no derradeiro jogo com Portugal. Fernando Santos não deixará de ter isso em conta, sabendo que pode jogar com dois resultados - a vitória garante-nos o apuramento e o empate mantém-nos favoritos. Perder é que não! Há dúvidas interessantes para o onze de sábado - quem substitui Pepe: José Fonte ou Rúben Semedo?; quem alinha na lateral-direita, Cancelo ou Nélson Semedo?; quem acompanha Cristiano Ronaldo: Bernardo e Diogo Jota? Bernardo e João Félix? Diogo Jota e João Félix?, sendo mais previsível um meio-campo com Danilo, William Carvalho e Bruno Fernandes. Temos alguns jogadores em grande forma (ver destaque) e um banco que não sendo, se calhar, tão luxuoso como o da França, dá todas as garantias. Sem esquecer que, à nossa escala, também não couberam na convocatória do engenheiro campeões europeus como João Mário, André Gomes e Rafa Silva, habituais como André Silva, Gonçalo Guedes (o Éder da Liga das Nações de 2019) e Pizzi, e revelações impressionantes como Pedro Gonçalves…