Fortes sinais exteriores de pobreza
Vale a pena começar por uma interrogação: estará o futebol português mais longe da qualidade média do futebol europeu? A pergunta é obviamente pertinente depois da última jornada europeia. Em cinco jogos, as equipas portuguesas não só perderam três, empataram um e ganharam outro, como, pior do que os resultados, manifestaram muitas e diversas dificuldades, que não costumam evidenciar nesses seus joguinhos de trazer por casa.
A primeira e essencial questão de que se pode e deve falar é a da convicção, ou ausência dela, no que respeita ao comprometimento das equipas portuguesas com as provas europeias. Há um discurso quase generalizado de que interessa ir mais longe e, até, sonhar com boas classificações, mas, na prática, há um sentimento de reserva mental que leva treinadores e jogadores a tirar o pé do acelerador, porque, de facto, acham que há jogos a mais na época, que nem em todos podem participar os seus melhores jogadores e, assim sendo, mais vale perder na Europa do que em Portugal.
Depois, há uma armadilha fácil, em que todos caem. Ao acreditarem que as equipas portuguesas estão a crescer do ponto de vista competitivo, não se apercebem de que se trata de um crescimento apenas virtual, porque o que existe, basicamente, é o desenvolvimento, por parte dos treinadores nacionais, das suas principais aptidões estratégicas e táticas, que leva a conseguir uma aparente capacidade competitiva, através de um futebol que abdica de jogar no campo todo e que, sobretudo perante as maiores equipas, transforma o jogo num exercício monótono de ondas de ataque sucessivo com a intermitência de pequenas notas de contra ataque .
Por fim, há aquele que se está a tornar, de forma muito evidente, o problema essencial do futebol português: ausência de intensidade em todo o campo. Uma confrangedora ausência de intensidade na procura da bola e na tentativa verdadeiramente séria de a conquistar ao adversário, desde as suas primeiras zonas de construção e, também, muito pouca intensidade no ataque, sobretudo quando se exige ataque organizado e não, apenas, quando o adversário permite situações ofensivas rápidas, de transição.
Nestes cinco últimos jogos europeus, se bem estão recordados, foi este último fator que mais se tornou nítido e que mais preocupação deverá trazer aos treinadores e aos jogadores nacionais. Não apenas os melhores adversários, os mais europeus, como o Zenit ou o Feyenoord, foram mais intensos, mais rápidos sobre a bola, mais disponíveis para vencer o confronto direto e mais competentes na forma de correr mais e melhor no jogo. Também os outros, os mais frágeis, aqueles que não têm nome, nem currículo europeu e de quem se esperava um futebol amordaçado nas suas zonas mais defensivas, surgiram ambiciosos, a jogar olhos nos olhos em todas as zonas do campo, criando situações muito embaraçosas para as equipas portuguesas.
Mesmo o Sporting, que terá sido a equipa nacional que pode agradecer o facto de ter tido verdadeiramente sorte no jogo, o que lhe permitiu uma vitória que deve ser festejada, mas não celebrada, sentiu dificuldades inesperadas pelo número de situações verdadeiramente embaraçosas na sua área.
O lado positivo daquela que poderia ter sido uma traumatizante experiência leonina, é que, durante a primeira parte, foi tão evidente a incapacidade da equipa para sair a jogar perante adversários impetuosos, enérgicos e sem medo de conquistar a bola, que Silas recuou e, enquanto se lembrar, não mais deve querer o milagre de impor um sistema de jogo para o qual não tem jogadores competentes.