Fora de jogo
Que noite na Champions! Em Paris, jogo interrompido depois de um árbitro romeno de apelido Coltescu ser acusado de frase racista pelo treinador adjunto do Istambul BB, Pierre Webo. A forte reação de todos os jogadores envolvidos, nomeadamente de Demba Ba, deixou a arbitragem fora de jogo. Vamos ver como a UEFA gere o incidente. Em Barcelona, Cristiano à frente de uma grande Juventus manteve o hábito de marcar em Camp Nou, ajudando a equipa a golear o Barcelona (3-0) e a roubar-lhe o 1.º lugar nas barbas de Messi. Em Leipzig, o Manchester United perdeu bem (2-3) e viu-se despromovido para a Liga Europa pela segunda vez na era pós-Ferguson - a primeira tinha acontecido em 2015, com Louis van Gaal no banco, sendo igualmente alemão (Wolfsburgo) o carrasco no último jogo (2-3). Não sei se/como resistirá Solskjær a mais este fiasco, mas parece perfeitamente claro que o United precisa de um treinador com outro fôlego e experiência para poder rentabilizar um plantel que até é francamente bom. Bruno Fernandes desce para a Liga Europa e até poderá, num futuro próximo, voltar a jogar em Portugal…
Sobre Cristiano, não é surpresa a gana com que ele entrou ontem em Camp Nou. É um dos estádios onde joga melhor e mais golos marca - com o bis de ontem são 14 em 18 visitas (6 vitórias, 6 empates e 6 derrotas), 13 deles nos últimos 13 jogos. Faz pena pensar que poderá ter sido a última dança com Messi, mas se foi não há dúvidas que Cristiano saiu por cima - o segundo penálti foi marcado em excesso de velocidade (107km/h). Impressiona como a Juventus foi capaz de fazer um jogo tão bom e completo depois de ter feito uma péssima exibição no dérbi de Turim. Continuo a pensar que Andrea Pirlo, que foi um jogador maravilhoso, é capaz de ainda não ter estaleca para um navio da dimensão da Juventus.
Sobre os jogos de hoje, a curiosidade de ver se o FC Porto de Sérgio Conceição, em Atenas, vai chegar aos 13 pontos - seria, ex-aequo com o FCP de Vítor Pereira em 2011, a terceira melhor campanha portuguesa na fase de grupos da Champions; se o Real Madrid, que recebe o Borussia M’gladbach, vai sofrer a primeira eliminação de sempre (!) na fase de grupos; se o Shakhtar do nosso Luís Castro vai assegurar os oitavos com uma vitória sobre o Inter em Milão - não há impossíveis para uma equipa que ganhou duas vezes ao Real, certo?; e se o Atlético do nosso João Félix vai conseguir sobreviver ao esperado assalto do Red Bull Salzburgo, que tem os oitavos à distância de uma vitória.
Fora dele
Frederico Varandas carregou de novo sobre a arbitragem na sequência do mau trabalho da dupla Luís Godinho/Artur Soares Dias em Famalicão (sim, o Sporting foi prejudicado). A velha prática do futebol português diz-nos que ele está a agir de acordo com os cânones: berrar muito e o mais alto possível para ser ouvido (também pelos adeptos), ter espaço mediático e tentar condicionar as próximas arbitragens. Faz parte da cartilha normal de um candidato ao título (Benfica e Porto não nos deixam mentir) e há a convicção, julgo que generalizada, que os adeptos mais assanhados gostam que o presidente faça voz grossa e ameace com isto e aquilo sempre que há um penálti gamado ou um jogador mal expulso - o contrário será sempre visto como sinal de fraqueza ou ingenuidade. Não sei o que o Sporting ganha com este ruído todo numa altura em que a equipa está a jogar bem e o clube parece finalmente alinhado num único discurso - no caso, o do treinador Rúben Amorim. Sei é que no futebol de topo nada disto acontece. Ninguém ouve o presidente do Bayern, do Real Madrid e do Liverpool arremeter sobre árbitros e contabilizar erros de arbitragem. Porque será? Da velha guarda do(s) sistema(s) (Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira), todos sabemos o que esperar. Mas de Varandas, mais novo e com outro tipo de vivências, esperava-se outra abordagem.
Fora dela
Rita Latas tornou-se a primeira jornalista feminina a narrar, e bem, na Sport TV, um jogo da Liga portuguesa (Belenenses SAD-SC Braga), quatro dias depois de a francesa Stéphanie Frappart dirigir pela primeira vez, e bem, um jogo da Champions (Juventus-Dínamo Kiev). A Rita foi jornalista desta casa, jogou futebol federado e a gente sabe muito bem o que ela vale (um grande beijinho, miúda). Era apenas uma questão de oportunidade e a Sport TV deu-lha - mérito por isso. Depois da Rita, outras virão. Como há mais de três décadas outras vieram depois da Leonor Pinhão, Alexandra Tavares Teles, Céu Freitas, Filomena Martins, Cecília do Carmo, etc, etc, etc. Por falar nisso, creio que as mulheres fazem falta no setor mais desacreditado do futebol português: o dirigismo. As mulheres têm dado inúmeros exemplos de que são muitíssimo capazes na gestão de dossiers delicados. Deixo três exemplos hipotéticos. De que maneira uma presidente do Benfica abordaria/ tentaria resolver os problemas com a Justiça e com os outros dois grandes? De que maneira uma presidente do FC Porto abordaria/tentaria resolver os problemas com a banca e com os outros dois grandes? De que maneira uma presidente do Sporting abordaria/tentaria resolver os problemas com as claques e com os outros dois grandes? Haveria outra linguagem, outra sensibilidade, outra capacidade de autocrítica, outro respeito, outra capacidade de distinguir a árvore da floresta, de ver o essencial e perceber a importância dos interesses comuns…? Pagava para ver.