Foi à sétima!...

OPINIÃO09.10.201804:00

Rui Vitória pediu respeito, mas não se trata de menos respeito ou de ver as coisas pelo ângulo que mais convém a quem noticia ou critica. É, sim, a realidade crua e nua e a dificuldade que o treinador do Benfica sente em lidar com ela. Seja quem for, aliás, porque o defeito é generalizado e os discursos, ora exaltados, ora sonolentos,  primam pela vulgaridade, do primeiro ao último lugar da classificação.  Não nascem Mourinhos, Jesus ou Klopps todos os dias,  cada qual ao seu jeito, mas com especial aptidão para animarem os encontros com os jornalistas e enriquecerem o espetáculo.

Irritou-se Vitória na antevisão do clássico. Aliviou o espírito e ficou com as ideias mais arejadas para preparar um jogo que não seria apenas mais um. Tinha um significado muito especial apesar do seu caráter não decisivo como Sérgio Conceição teve o cuidado de sublinhar. E não foi por acaso que o fez. Protegeu-se e antecipou  a  reação em caso de fracasso, como se verificou: deu os parabéns ao árbitro, jurou vitórias até ao fim e seguiu em frente, até à próxima estação. Depois se verá…

Investiu nesta estratégia comunicacional porque tinha  margem de manobra (que já não tem),  margem essa que  faltava a Vitória, exatamente pela crueldade estatística de três empates e três derrotas nos jogos com o dragão enquanto treinador do Benfica. Faltava-lhe um triunfo como este, mas à sétima tentativa foi premiado. Faltava-lhe ultrapassar esta barreira de dúvidas e, de algum modo, fazer as pazes com os desiludidos adeptos pelo que aconteceu na última temporada em que o penta se esvaiu na sequência de derrota sofrida na Luz  precisamente diante do mesmo dragão em que à águia faltou a competência competitiva que anteontem revelou.

Os treinadores lidam mal com os reparos que lhes dirigem e Vitória não é diferente. Nenhum problema se vislumbra, no entanto,  desde que se convença, que, em nível de exigência tão elevado, não faz sentido tentar desculpar cada derrota com vitórias passadas, porque para o universo benfiquista a palavra derrota colide com a história e a grandeza do clube, é como se não existisse.

 Quando Rui Vitória compreender e aceitar essa certeza,  quando os «triunfos à Benfica», como ele proclamou, deixarem de ser a exceção e voltarem a ser a regra e quando decretar no seu imaginário livro de  leis a proibição de perder e a consequente responsabilização de quem não observar a norma, então estará encontrado o Ferguson que Luís Filipe Vieira deseja ver nele para consolidar o seu projeto futebolístico e, definitivamente, lançar o Benfica do future

Cristiano Ronaldo saiu vitorioso no primeiro jogo do resto  da sua  valiosíssima carreira desportiva. Marcou um golo de bela execução em Udine, rubricou exibição agradável e recebeu abraços dos companheiros e aplausos do público, sem destrinça de amores clubistas.

Depois do escândalo mediático que num ápice atingiu planetária amplitude, era natural a expectativa quanto à resposta em campo do melhor jogador do Mundo. E respondeu bem, devendo ele capacitar-se de que, a partir de agora, nesta luta desigual, só pode contar com a sua força, a sua coragem, a sua determinação, o seu talento e os seus golos.  Sobretudo estes, para silenciar os invejosos, como lhes chamou José Peseiro, aos  que lidam mal com a felicidade alheia.

Cristiano tem de enfrentar uma batalha que se adivinha longa e dura. Fernando Santos afirmou que acredita muito nele, foi uma atitude simpática, mas de valor zero. Fernando Gomes, presidente da Federação,  expressou a sua solidariedade em declaração igualmente elogiável, mas de nenhum efeito sobre o essencial da questão.  Pelo contrário, como escreveu Vítor Serpa na sua crónica do último sábado em BOLA (página 39, com o título O meu amigo Cristiano), cuja leitura recomendo por tratar-se de uma peça jornalística admirável   em que são questionadas  a dispensa do capitão da Seleção e a forma como foi decidida, presumivelmente  numa conversa entre  (três) amigos.

 Decisão aligeirada, porém, pois teve eco imediato do outro lado do Atlântico.  Cada jogo em que ficar de fora representa uma oportunidade perdida para marcar golos e são os golos os únicos aliados para continuar a ter sucesso desportivo e através  dele resistir nas outras duas frentes, a da justiça e a da imagem. 

À velocidade a que as notícias correm as pessoas já fizeram os seus juízos, de nada valendo, por isso,  desperdiçar tempo com sugestões inócuas, porque nesta história judicial não há inocentes. Há, isso sim, culpas repartidas, interesses importantes e contas a acertar...

Em matéria de imagem, não vejo que alguém lhe possa valer na nossa hortinha lusitana. Se vai ser defendido por advogado norte-americano de renome, deve contratar também quem o ajude a descredibilizar o jogo baixo que a acusação irá esgrimir no sentido de o destroçar na opinião pública. Precisa de quem tenha competência profissional e capacidade de intervenção global para colocar as suas mensagens em todas as grandes capitais e, principalmente, fazê-las chegar com estrondo ao estado de Nevada e ao tribunal de Las Vegas. É capaz de sair caro, mas, ao ponto a que chegou, este caso já não se resolve nem com amizades, nem com amadorismos.  

É lá com ele, sendo certo que ninguém beneficiará com este seu afastamento da Seleção. A não ser que os patrocinadores pensem de maneira diferente.
============Normal (15776038)============