Florentino foi protagonista de lance polémico no Benfica-Moreirense
Florentino foi protagonista de lance polémico no Benfica-Moreirense (Foto: Miguel Nunes)

Opinião de Duarte Gomes Florentino fez penálti no Benfica-Moreirense

OPINIÃO11.02.202507:20

'O poder da palavra' é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, antigo árbitro

No sábado, o Benfica recebeu o Moreirense para a 21.ª jornada da Liga. À passagem do minuto 90, um lance muito contestado pelos forasteiros não foi sancionado pela equipa de arbitragem: um cruzamento da esquerda de Joel Jorquera foi intercetado pelo corpo/braço esquerdo de Florentino, em ação dentro da área da equipa da casa. Na minha opinião e tendo em conta as poucas imagens que a transmissão forneceu, não foi possível determinar que a ação do médio tenha sido irregular. Pelo contrário. O que se viu foi um corte atabalhoado, com o corpo apanhado em posição pouco ortodoxa face à trajetória da bola, tendo o jogador encarnado os braços ao longo do corpo, logo sem volumetria evitável/anormal. Aparentemente tudo legal.

No entanto, imagens colocadas a circular nas redes sociais no dia seguinte (não oficiais, porque filmadas das bancadas) mostraram uma realidade diferente: de facto, Florentino não tinha os braços em posição de risco, ou seja, com volume desnecessário, mas movimentou o esquerdo na direção da bola, estancando assim a sua trajetória. Se essas imagens forem fidedignas, então é claro que o lance foi mesmo irregular e devia ter sido sancionado com pontapé de penálti favorável ao Moreirense. É quase certo que a equipa de videoarbitragem não teve acesso a imagens com essa perspetiva e detalhe, caso contrário teria tomado a decisão expectável.

Historicamente não é a primeira nem a segunda vez que lances de jogo são reanalisados em funções de imagens facultadas à posteriori. Imagens que, em boa verdade, acabam por ilibar ou condenar decisões iniciais.

A mais notória aconteceu no Mundial de 1998, num célebre Brasil-Noruega. Os canarinhos entraram em campo já apurados para os oitavos de final, mas a seleção adversária ainda lutava por uma vaga. O jogo caminhava empatado para o fim (1-1), quando o norte-americano Esse Bahamast assinalou pontapé de penálti favorável aos noruegueses por alegada falta de Júnior Baiano sobre Flo.

As várias repetições do lance provaram não ter havido infração do brasileiro. O Brasil acabou por perder o jogo e o assunto tornou-se escândalo internacional devido a um penálti inventado por um árbitro apelidado de sem experiência nem categoria.

Numa era em que a internet ainda dava os primeiros passos, tudo indicava que Bahamast (mais tarde dirigente de topo da arbitragem mundial) tinha cometido erro épico, daqueles que marcam e definem carreiras. No entanto, dois dias depois e já com o norte-americano morto e enterrado, uma televisão sueca mostrou o que ninguém tinha visto: uma imagem filmada de ângulo diferente, em que era claro e inequívoco o agarrão de Baiano a Flo. Afinal, o castigo máximo tinha sido bem assinalado. Afinal, a decisão tinha sido acertada. Afinal, o árbitro já não era corrupto, ladrão ou amigo dos noruegueses.

A verdade é que, cada vez mais, o futebol vive tempos sui generis. A análise de lances, por exemplo, mais do que depender de opiniões pessoais dadas em cima das provas que existem, assenta sobretudo nos meios e condições que permitem a sua avaliação. Uma ou duas câmaras posicionadas no ângulo certo, a gravar o momento adequado ou a focar na parte do corpo que importa, podem fazer toda a diferença. Num universo assim, tão entregue ao detalhe de zooms salvadores (ou comprometedores), o que é hoje verdade absoluta pode amanhã ser uma mentira patética. É estranho, mas ao menos é igual para todos. Vá lá.

Eleições FPF

Da próxima vez que escrever neste espaço de opinião semanal — de hoje a uma semana —, uma nova equipa diretiva estará a tomar posse na sede da Federação Portuguesa de Futebol, em Oeiras. As eleições desta sexta-feira ditarão quem serão os órgãos sociais que passarão a dirigir o futebol em Portugal. A escolha parece-me muito fácil de fazer, no entanto são os votos que contam. Ganha quem tiver, no mínimo, 43. É esse o número que faz toda a diferença.

O mais importante é que a modalidade fique a ganhar em competência, experiência e vontade de a tornar melhor cá dentro e maior lá fora.