Fla, JJ e Benfica: saíram todos a perder
Os olhos dos benfiquistas já deixaram de estar postos em Jorge Jesus, e passaram para Rui Costa, que enfrenta o primeiro desafio a sério
Anovela brasileira que tem Jorge Jesus como protagonista principal - uma espécie de triângulo amoroso entre o próprio JJ, o Benfica e o Flamengo - parece longe de um final feliz, com a particularidade de todos saírem mais fragilizados do que estavam quando foram abertas as hostilidades. Se tudo permanecer como está, Jesus fica com a imagem de quem tentou jogar com um pau de dois bicos, deixando que a história se arrastasse para além do que seria tolerável face ao compromisso profissional que tem com o Benfica; o Flamengo nunca conseguirá afastar a ideia de que o treinador que vier a contratar não passa de uma segunda escolha, depois de ter jogado as fichas todas em Jesus; e o Benfica revelou uma frouxidão intolerável, ao permitir que o seu treinador andasse em conversa de pé de orelha com os responsáveis flamenguistas. E se todos saem mal deste enredo, é o clube da Luz que fica em pior situação.
Por um lado, vê-se a braços com um treinador em situação quase insustentável face a sócios e adeptos, num cenário em que nem mesmo um triunfo no Dragão na próxima quinta-feira dará garantias de reversão; por outro, pelo andar da carruagem deverá entrar de cabeça no mercado, em busca de quem consiga colar os cacos deixados por esta segunda passagem de Jorge Jesus pelo clube. Rui Costa não teve culpas diretas no regresso de JJ à Luz, uma teimosia do ex-presidente, nem seria de esperar que adotasse, logo que foi eleito, outra atitude que não a de apoiar o técnico em funções. E há que dizer também que, se não fosse o peso do passado, a substituição de Jesus não estaria na ordem do dia, face aos que os encarnados fizeram até agora. Porém, não há como ignorar o mau ambiente que envolve JJ, que só seria ultrapassado se fosse verificada a condição impossível do Benfica navegar apenas num mar de vitórias.
Estando a situação tão periclitante, a entrada em cena do Flamengo foi quase um coup de grace, a que acresceu a anémica prestação da equipa no Dragão, de onde saiu vencida e convencida. Quinta-feira há mais, mas creio que, aqui chegados, nem mesmo um resultado positivo do Benfica sarará as feridas existentes. O que nasce torto tarde ou nunca se endireita, e Rui Costa precisa de olhar de frente para o primeiro desafio a sério da sua liderança, num contexto em que deve valorizar, acima de tudo, a coesão do clube.
ÁS — RÚBEN AMORIM
Sem dúvida, a figura mais em destaque em 2021 no panorama do futebol português, onde irrompeu com a velocidade e o brilho de um cometa, em 2020, para ganhar o estatuto de estrela de primeira grandeza no ano que agora está a findar. Amorim exemplifica a modernidade, na abordagem ao jogo e à comunicação.
ÁS — LUIS DÍAZ
A forma que exibe torna-o na principal arma do arsenal de Sérgio Conceição e mantém a Europa rica do futebol de mira assestada na sua contratação. Notável o salto que deu desde que aterrou no Dragão, onde sofreu uma metamorfose que o transformou de lagarta brinca na areia em borboleta de cores exuberantes...
ÁS — ABEL/LEONARDO
Honra aos técnicos portugueses que conquistaram, em 2021, títulos continentais, na América do Sul e na Ásia, mantendo as portas abertas à escola nacional de treinadores de futebol. Porém, a escassa presença de portugueses à frente de equipas dos Big 5 deve merecer análise e reflexão.