Finais antecipadas
Recorrente Liverpool-Real Madrid antecipa Superliga na Champions e Portugal pode ter dois nos quartos de final pela primeira vez
LIVERPOOL-REAL MADRID e Paris-SG-Bayern soam como finais antecipadas da Champions em fevereiro/março. Não é muito vulgar, mas acontece. O primeiro duelo, repetição da última final, vale pela grandeza absoluta dos dois intervenientes: são as melhores equipas espanhola e inglesa nas competições europeias, sendo que o Madrid é também, destacadissimo, o maior na Champions (14 triunfos!) e no conjunto das competições internacionais de clube (27!). O presidente realista, Florentino Perez, queixava-se há pouco tempo (num enésimo piscar de olhos à Superliga europeia) que, em 67 anos, Real Madrid e Liverpool só se tinham defrontado por nove vezes, mas a verdade é que nos últimos tempos não se pode queixar. É o quarto duelo entre reds e merengues nos últimos cinco anos e não deixa de ser uma ironia que no dia em que o sorteio de Nyon acasalou novamente estes dois gigantes (como aconteceria na Superliga europeia…), foi tornada pública a noticia de que o Liverpool está à venda. Entre os vários motivos dissecados pela Imprensa britânica estará a decepção do proprietário americano (a Fenway Sports Group de John Henry) pela não concretização da Superliga europeia, de que Henry era subscritor e entusiasta.
É claro que o PSG-Bayern, pela qualidade das equipas em confronto, é outra final antecipada (.. que até aconteceu há dois anos na Luz), havendo a curiosidade de saber se o multimilionário PSG de Messi, Mbapée e Neymar (e Luis Campos, Vitinha, Nuno Mendes, Danilo e Renato…) vai cair logo nos oitavos. É uma possibilidade. Forte. Facto é que dois candidatos fortes vão cair no quadro de uns oitavos-de-final que comportam um número pouco comum de emblemas que nunca foram campeões europeus - seis!: PSG, City, Leipzig, Tottenham, Frankfurt, Nápoles e Brugge.
Sobre FC Porto e Benfica o minimo que se pode dizer é que evitaram adversários à partida inacessíveis e que têm ambos boas possibilidades de passarem aos quartos-de-final. Não esquecendo, obviamente, que os jogos não serão agora, mas em meados de fevereiro/inicio de março. O que significa que falta muito tempo e que até lá muita coisa pode mudar devido ao Mundial, ao mercado subsequente e às indesejadas lesões. Feita a ressalva, diria que o Inter é forte, mas está perfeitamente ao alcance de um FC Porto habituado a derrotar/eliminar equipas italianas. Na ‘era Conceição’, os portistas tombaram Roma, Juventus, Milan e Lazio, e o Inter arrisca ser a quinta vitima de um treinador particularmente forte na arte de desmontar/neutralizar adversários italianos. No caso do Benfica, o Brugge parecia o adversário mais acessível de todos os que podiam calhar. Se a eliminatória acontecesse agora, creio que as águias, em estado de graça, seriam claramente favoritas. Em resumo: Portugal pode ter pela primeira vez dois clubes nos quartos-de-final da Champions.
SPORTING E RONALDO
A Liga Europa tem este ano um cartel de luxo (seis campeões europeus) que vai ser drasticamente reduzido já no play-off, uma vez que o sorteio ditou o afastamento de três potenciais candidatos ao emparelhar Barcelona com Man. United, Sevilha com PSV e Ajax com Union Berlin - não esquecer que Arsenal, Bétis e Fenerbahçe qualificaram-se directamente para os oitavos. O Sporting foi feliz em Nyon e tem obrigação de eliminar o acessível Midtjylland (duas derrotas e 2-7 com o Benfica na pré-eliminatória da Champions, em agosto) e passar à fase seguinte. Tudo o que não passar por isso será muito dificil de compreender, tendo em conta que o Sporting, no último ano e meio, jogou na Champions e bateu-se olhos nos olhos com Dortmund, Frankfurt e Tottenham. Quanto a Cristiano Ronaldo, a viver a pior fase da sua carreira, parece ter desaprendido a arte que o guindou à condição de maior goleador de todos os tempos. Pura e simplesmente, deixou de marcar golos. Está irreconhecível (rápidas melhoras que o Mundial está à porta). O sorteio destinou-lhe mais uma ida a Camp Nou (a 18.ª), um estádio onde sempre fez questão de nunca passar despercebido: 5 vitórias e 14 golos (!!!) em 17 visitas transformaram-no no forasteiro com melhor registo no templo barcelonista. Veremos se há continuação.
SÉRGIO NA MESA DE PEDROTO
CRESCI profissionalmente a ouvir histórias, algumas absolutamente deliciosas, sobre o treinador José Maria Pedroto (estreei-me nestas lides em 1987) e sobre a forma como ele lançou, na década de setenta do século passado, quando o Benfica parecia inatingível, as fundações do FC Porto hiper-competitivo que hoje toda a gente conhece e respeita. Pedroto treinador-ideólogo-agitador é, por muita gente respeitável, considerado o mentor, o ‘pai espiritual’ do FCP que, liderado por Pinto da Costa (outro visionário), se haveria de tornar (em meados dos anos noventa) a potência hegemónica em termos domésticos e o clube português melhor sucedido e mais titulado em termos internacionais.
Pedroto foi o que foi e fez o que fez num tempo especifico e em circustâncias especificas: o tempo em que o FCP era realmente mais pequeno que os rivais da capital e procurava contrariar o dominio absoluto do futebol lisboeta. O tempo em que o FCP raramente fazia manchetes na Imprensa desportiva e tinha de se contentar com migalhas do tempo de antena televisivo e radiofónico que era concedido aos rivais de Lisboa.
Hoje o FC Porto tem outras lutas. Os resultados dos últimos quarenta anos (ou seja, da presidência de Pinto da Costa) mostram que os dragões são o melhor clube do país naquilo que interessa aos adeptos: títulos. Eles ganham muito mais do que os outros e não se cansam de ganhar. Nos intervalos deste fragoroso ruído que acompanha, nos jornais e nas televisões, a espectacular e meritória campanha benfiquista, há quem lembre que o FC Porto é o campeão nacional e o detentor da Taça de Portugal. E que, por isso, talvez não deva ser subestimado.
Ontem, em Mafra (3-0), para a Taça de Portugal, Sérgio Conceição chegou às 210 vitórias em 292 jogos com FC Porto... e foi expulso pela enésima vez, tanto quanto percebi por ter pontapeado com força uma bola que lhe passou a jeito depois de Grujic ter sofrido uma falta feia. Está a cinco de ultrapassar Pedroto (214 em 320 jogos) e tornar-se o treinador portista mais vitorioso de sempre, ele que no inicio da época (Supertaça) igualou os oito títulos do recordista Artur Jorge. A ultrapassagem a mestre Pedroto, que ocorrerá algures em janeiro, tem um valor simbólico impossível de negar por quem conhece a história portista e consegue perceber as similitudes entre o tempo e as circunstâncias de Pedroto e o tempo e as circunstâncias de Sérgio Conceição.
Por aquilo que tem feito - oito títulos e receitas milionárias em conjuntura muito dificil -, pela cultura de exigência que está subjacente em tudo o que diz relativamente à equipa (que bem que ele fala sobre o jogo-jogado…), Sérgio Conceição está destinado a ficar num dos lugares mais cimeiros da história portista. Na mesa de Pedroto.