FCP: pontos, prestígio e ‘pasta’ 

OPINIÃO28.11.201800:26

Schalke é o adversário de um FC Porto à beira de mais uma qualificação para a fase eliminatória da Champions - será a 15.ª em 23 presenças na prova. Sem Tiquinho Soares mas com Moussa Marega em estado de graça europeu (marca há três jogos seguidos), Sérgio Conceição (como António Oliveira em 1996) pode garantir a qualificação (o empate chega) e o 1.º lugar final do grupo a uma jornada do fim (!), se derrotar a equipa alemã. A acontecer, será um registo notável mesmo para uma equipa que não costuma falhar os mínimos europeus. E depois há a questão financeira, crucial para um FCP com as contas no vermelho há um bom par de anos. O clube garantiu até ao momento uma receita de 51,25 milhões, a que poderão somar-se mais 9,5 milhões da qualificação para os oitavos e mais uns quantos milhões consoante os resultados com Schalke (mais logo) e Galatasaray  (dia 11). Em perspetiva, um encaixe na ordem dos 60 milhões. Só os mais distraídos não perceberão a diferença que um jackpot destes pode fazer… em termos domésticos.


Os críticos e os aziados dirão que o FC Porto teve a sorte de calhar num grupo fácil, mais de «Liga Europa» que outra coisa, blá, blá, blá.  Pois.  A velha conversa estafada de quem convive mal com o sucesso alheio. Eu acrescentaria: a indisfarçada azia desta Lisboa clubistica que não ganha uma taça europeia desde 1964 (o famoso cantinho de Morais em Antuérpia) e não consegue digerir o facto (indiscutível) de o FC Porto, que não existia além-fronteiras até meados dos anos oitenta, ter desde aí  construído um percurso que lhe permite ser hoje o clube português mais competitivo, mais titulado e mais prestigiado na Europa - de longe. Enquanto o novel presidente do Sporting sonha com o regresso à liga milionária; enquanto o presidente do Benfica sonha com putativos títulos europeus alavancados pelas estrelas emergentes do Seixal - certamente não se dando conta que o histórico do clube no formato Champions (1991-2018) é claramente negativo seja qual for o ângulo de apreciação, nada tendo a ver com a excelência do registo na antiga Taça dos Campeões Europeus (1955-1991) - o presidente do FC Porto faz contas a mais um encaixe de pontos, prestígio e pasta, por assim dizer. Uns sonham com regressos e amanhãs que cantam. Outros concretizam. No caso portista, acresce dizer que a qualificação é a regra - ocasionalmente o FCP não passa da fase de grupos. Exatamente o oposto do que sucede com Benfica (5 qualificações em 15 participações) e Sporting (uma qualificação em 8 participações).


Anda em relação à jornada de hoje, a curiosidade de perceber qual dos três potentados do grupo da morte (Liverpool, Catar-PSG, Nápoles) ficará em situação critica, sendo que o Estrela Vermelha também está na luta pelo apuramento. Os larguíssimos milhões investidos pelo estado árabe do Catar no Paris SG ainda não deram frutos na Champions - a equipa não conseguiu passar dos quartos-de-final nos últimos cinco anos - mas desta vez corre risco de falhar a qualificação, o que seria um revés inaceitável para quem bancou 400 milhões de uma penada por dois jogadores. Portanto, imperioso vencer Liverpool no Parc, mesmo (ao que parece) sem Neymar. Sob pena de Nasser Al-Khelaifi, CEO da Qatar Sports Investments, começar a perceber que o brinquedo é demasiado dispendioso.