Fase da transição - II

OPINIÃO28.07.202004:00

HÁ não muitos anos, a arbitragem portuguesa perdeu, quase de uma assentada, vários profissionais com muitas épocas ao serviço do futebol de alto nível. Lembro-me, por exemplo, dos casos do Marco Ferreira e do Pedro Henriques, do Pedro Proença e do Elmano Santos, do Paulo Batista, João Ferreira e Olegário Benquerença, apenas para citar alguns. Estamos a falar de árbitros que, fruto da sua maturidade competitiva e experiência adquirida, acrescentavam aos jogos mais saber técnico e serenidade emocional. As equipas, os adeptos, a imprensa, toda a opinião pública até, podiam não apreciar o estilo de uns ou a personalidade de outros, mas a leitura - toldada pela memória seletiva e circunscrita a decisões técnicas pontuais -, não belisca o reconhecimento que lhes é devido. O reconhecimento que merecem por ao serviço da arbitragem.

Alguns anos depois, idêntica razia prepara-se para surgir no seio daquela que é, não esqueçamos, a terceira equipa de cada jogo: Jorge Sousa e Carlos Xistra (árbitros) e os assistentes Jorge Cruz, Venâncio Tomé, Paulo Ramos e António Godinho (pelo menos), terminam um longo percurso dedicado à arbitragem. Juntos dedicaram décadas das suas vidas a esse amor maior que só conhece e entende quem o sente/sentiu na pele.

A todos, mas todos sem exceção, a minha homenagem e o meu agradecimento. A postura, a entrega e, sobretudo, o enorme espírito de sacrifício que ofereceram às suas carreiras (as pessoas não sabem nem sonham) são um exemplo maior para os mais novos e para todos aqueles que, como eu, já saíram mas não os esquecem.
Esta inevitabilidade da vida - a da mudança - deixa a classe em nova fase de transformação, o que não é necessariamente negativo. Também as equipas sofrem este tipo de sangrias (há sempre jogadores que terminam e outros que partem) e a ideia é seguir em frente. Adaptar-se. Lançar alguns dos que aguardam a sua oportunidade. A sua vez de triunfar.

O importante é que, cá fora, não esqueçamos que a diferença entre o futebol amador e o profissional é enorme e que, para alguns, esse é um salto vertiginoso. Por isso, peço-vos tempo, tolerância e compreensão. É disso que os mais jovens precisam para evoluir.

Sei que, a este nível, o que se espera são profissionais feitos, mas entendam, é tudo diferente: o impacto mediático, o fanatismo dos adeptos, a organização, o próprio jogo jogado, é tudo muito mais visível e mais rápido do que a realidade que sempre conheceram.

Deixemos que possam evoluir com calma e tranquilidade, da mesma forma que evoluem e bem os jovens jogadores lançados na primeira equipa.
Há que criar o ambiente propício para que cresçam com qualidade e sustentabilidade. Isso será ótimo para eles e excelente para todos.