Falta cérebro à nossa pré-história

OPINIÃO08.02.202106:00

D OIS exemplos, o mesmo futebol. Sérgio Conceição e Rui Costa, dois ex-jogadores, em situações diferentes e incomparáveis, mas que servem de exemplo do jogo que temos e que se mantém preso num passado quase suicida. O treinador do FC Porto é Dr. Jekyll dia sim e Mr. Hyde dia não, conforme esteja satisfeito ou insatisfeito, e toda a gente o aplaude ou desculpa (ou pior, acha piada) em nome do ‘ser genuíno’. Pelo contrário, não tenho grande paciência para a transformação naquele ser irascível ao menor contratempo. Porque polui as suas muitas outras valências e porque um treinador do FC Porto deveria saber comportar-se, por muito que o clube o desresponsabilize depois e até sublime as suas palavras com a habitual propaganda (comum aos três grandes), que pressiona ainda mais os suspeitos do costume e, não menos importante, serve para adepto ver e, pior, para correr atrás nas redes sociais. O problema continuará lá: as falências naturais de um ‘processo’ pouco criativo e dependente de dois ou três jogadores, e ainda mais fragilizado com alterações a mais num jogo em teoria já de si complicado, pelo adversário e, sim, pelo relvado deplorável. 
Também a crise continuará na Luz bem para lá da explosão de Rui Costa entre ameaças e apelos à ‘atitude’, que não devolveram ao Benfica a criatividade para desmontar o V. Guimarães. O futebol português continua pré-histórico. Gostamos tanto de Cruijff, e esquecemos o seu pensamento mais importante: ‘Todos os treinadores falam sobre movimento, sobre correr muito. Eu digo que não é necessário correr tanto. O futebol joga-se com o cérebro. Deves estar no lugar certo no momento certo, nem demasiado cedo nem demasiado tarde.»
Em Portugal, lamentavelmente, usa-se pouco o cérebro. E o jogo parece cada vez mais pobre.