Fallon Sherrock
FALLON SHERROCK é uma inglesa atiradora de dardos. Não se fala de atletismo, não lança dardos, atira-os, a um alvo, como no café de rua. Celebrizou-se há dias por ter sido a primeira mulher a vencer um homem num jogo de Mundial.
O derrotado deu-lhe os parabéns. Outros homens houve, contudo, que se sentiram batidos mesmo não tendo jogado contra ela e, pelo que compreendi dos lamentos de Sherrock em entrevistas, têm estes inventado insultos de rede social, desde republicar fotografias de quando Sherrock, sofrendo de doença renal, entrou em provas com inchaços no rosto, até procurar ofendê-la chamando-lhe mulher.
Como se compreende, trata-se de uma ofensa de escala universal, talvez a maior injúria de todas, ou não dependesse a própria humanidade da existência dessa condição sexual do nosso intrincado organismo, a fêmea. Acreditar, pois, que se descompõe uma mulher chamando-lhe mulher é um cúmulo que importa realçar. Note-se que não se trata, aqui, de ser racista, ofendendo a raça, xenófobo, temendo a nacionalidade, ditador, proibindo direitos, homofóbico, julgando a orientação sexual, ou machista, pressupondo a superioridade do homem, mas antes de acometer contra a inescapável existência daquela mulher. Não é apenas criticá-la pelo que diz, gosta, faz ou parece, não se procura atingir a identidade dela, quer-se chegar, sim, à própria entidade dela. É ser fallonsherrockfóbico. É uma ofensa quase filosófica, aplauda-se. Os estúpidos também evoluem nos conceitos, ao que parece. Sherrock, por sua vez, parece conversar com os jornalistas com encolheres de ombros, assumindo-se, presumo, incapaz perante a irrefreável imbecilidade.
Ainda assim, o que mais me surpreende nesta história, francamente, é que entre todas as atividades desportivas que eu poderia supor como as mais exclusivamente másculas e viris, atirar dardos a um alvo não estava entre as primeiras.