Façam o favor de ser felizes!...
Foi o convite feito a todos nós por esse grande actor e adepto do Clube de Futebol Os Belenenses, infelizmente já falecido, Raul Solnado! Hoje, faço esse mesmo convite, à equipa profissional de futebol do Sporting Clube de Portugal e em geral a todos os sportinguistas que amam o clube, sejam sócios, adeptos ou simples simpatizantes, sejam eles os milhões que forem, que eu não tenho possibilidade de os contar, sobretudo agora que não posso ir ao estádio e estou quase confinado à minha casa e ao meu escritório, enquanto eles se espalham por toda a parte do mundo.
Eu próprio, antes de escrever este artigo, olhei-me ao espelho e consegui ver o meu sorriso que espelha a minha felicidade do momento e a minha resposta àquele convite: não faço qualquer favor em me sentir feliz, porque é o que sinto quando vejo a minha equipa jogar. Não faço favor nenhum em me sentir feliz, como não faço favor em não me sentir eufórico, porque tenho obrigação de ser responsável e sensato. A responsabilidade e a sensatez não são incompatíveis, nem inconciliáveis, com a felicidade do presente e a esperança no futuro! A esperança de que a construção no presente não seja destruída no futuro; a esperança de que possamos acreditar que o dinheiro não dá felicidade (embora possa ajudar), mas as vitórias unem os sportinguistas e dão-lhes a felicidade que merecem, porque têm sabido sofrer, sem desertar!...
Não faço aquele convite ao Rúben Amorim, porque é exactamente ele que, em cada declaração, em cada entrevista e em cada conferência de imprensa, nos faz o convite para sermos felizes, e não cairmos na tentação da euforia e da arrogância, antes nos convida à humildade, porque ainda não ganhámos nada, antes vamos, passo a passo, construindo o futuro e o futuro será para já o próximo jogo! Ainda não passou um ano sobre a sua contratação impactante, que, apesar de não ser da sua responsabilidade, o coloca num grau de pressão muito elevado. Para já, pouca importância tem para mim o seu nível de treinador, porque pode não ter a formação teórica necessária, mas tem elevado nível de leader, de comunicador, de inteligência, de humildade e simpatia, ao contrário de muitos que podem ter um elevado nível de treinador, mas são arrogantes, antipáticos, trombudos e, sobretudo, conseguem ver um jogo que mais ninguém vê, sobretudo quando perdem. Por acaso, tenho conseguido ver os mesmos jogos do Sporting que Rúben Amorim vê. É que eu olho para a técnica e a táctica dos jogos do Sporting da mesma forma que olho para um quadro: como tenho para o desenho a idade mental de dois ou três anos, ou gosto ou não gosto. Não invento nada quando vejo o Sporting jogar agora: gosto, pura e simplesmente. E é quanto basta para me sentir feliz, pese embora me fazer falta assistir ao vivo e a cores, mas não as da televisão!
Voltando ao preço de Rúben Amorim, eu, como aliás muitos sportinguistas, já vamos fazendo contas de mercearia, para uns, ou de rulote para outros. O seu salário mensal, que não sei quanto é, nem me interessa, mas é seguramente mais que justificado, pois a sua aposta na prata da casa é mais que compensadora em termos de massa salarial global. Muitos treinadores são muito mais caros, e não dão a cara, nem oportunidades, aos jogadores mais jovens e da formação, antes exigem jogadores mais caros ou caríssimos, e por vezes, sem resultados. Por outro lado, Rúben Amorim teve a coragem de fazer uma limpeza de balneário, em todos os sentidos, e não apenas no disciplinar, desde emprestados, comprados ou que não passam da cepa torta. Despachou muitos e comprou pouco, mas parece que acertou na mouche. Só aí, feitas as minhas contas, se calhar já se justificaram cinco dos dez milhões. Faltam outros cinco milhões, mas, se calhar (para mim seguramente), já se investiu mais na péssima comunicação que se tem feito e que muito tem contribuído para a desunião. Rúben Amorim está a ser o melhor Director de Comunicação dos últimos tempos. Como treinador e comunicador está a ser, a meu ver, e de muitos sportinguistas, um factor de união num clube desunido! E união para os sportinguistas é um valor raro e por isso caro! Se tudo continuar assim, belo investimento, porque a união não tem preço, e o Sporting bem precisa dela! Faltam os juros que o incumprimento implica. Também aí, algo me diz que os juros da mora serão compensados pelos frutos do investimento.
Voltarei ao tema, mas, por ora, com os olhos, os ouvidos, a alma e o coração em Guimarães, berço de um País e de uma Nação que nos completa o nome - Sporting Clube de Portugal - termino com um apelo: FAÇAM O FAVOR DE SER FELIZES!
República ou Monarquia?
O último acto eleitoral no Sport Lisboa e Benfica teve, na eleição do leader, por sufrágio universal dos associados, o seu lado republicano, sem prejuízo de um laivo monárquico no momento em que Luís Filipe Vieira designou Rui Costa como seu sucessor!
É verdade que Vieira não assistiu ao 5 de Outubro de 1910 e não terá vivido de cravo na mão o 25 de Abril de 74. Mas também penso que a indicação do seu sucessor não terá sido uma reminiscência monárquica de um antigo rei dos pneus, mas antes a manifestação de quem, diga o que disser, tem algumas razões para se sentir o dono disto tudo, que aliás é aquilo que sobrou de outro!...
Eu, porém, como muitos benfiquistas, interrogo-me sobre as verdadeiras razões da designação do seu sucessor: simples propaganda e trunfo eleitoral, mera indicação de quem é o seu substituto legal ou a promessa de que será o candidato que apoiará futuramente quando terminar o seu mandato?
Se foi simples propaganda, acho que apostou bem, por Rui Costa ser uma figura consensual, que lhe terá trazido muitos votos, se é que não foi mesmo decisivo para a vitória eleitoral, a fazer fé no que me disseram muitos benfiquistas, meus amigos, mas não só! Pode também ter-se limitado a designar, de acordo com os estatutos, o Vice-Presidente que o substitua nas suas ausências e impedimentos, o que poderá ser muito importante num futuro mais ou menos próximo, evitando, com a referida personalidade consensual, uma luta entre os diversos candidatos ao lugar de Vieira, ainda que temporariamente. Lembremo-nos que, salvo erro, Rui Gomes da Silva rompeu com Vieira, quando se apercebeu que não seria o primeiro vice-presidente.
Para mim, esta a verdadeira razão da indicação de Rui Costa. Vieira pode ficar ausente ou impedido, e não deixará de ter em Rui Costa alguém da sua confiança e figura consensual para os associados. Pode também ser uma indicação para realmente lhe suceder cesse o mandato daqui a quatro anos ou antecipadamente. Em qualquer circunstância não deixará de ser para Rui Costa, segundo alguns, um presente envenenado! O futuro, a médio ou longo prazo, nos dirá!
Mário Dias
Dele disse José Eduardo Moniz: «Parte um benfiquista de primeira classe, um homem a quem se muito deve. Sem ele esta obra magnifica jamais existiria. A construção do novo estádio da Luz representa uma viragem na história do Benfica. Mário Dias tem direito a figurar na galeria dos nossos melhores.» Dele disse Carlos Móia: «Perco uma grande amizade, só podemos dizer bem de Mário Dias, uma pessoa humilde, amiga, pronta, disponível.
Nem falo do seu benfiquismo, porque esse foi sempre demonstrado. Perdemos um grande homem!» Subscrevo tais palavras enquanto ex-dirigente do rival. Por ele sempre fui tratado de forma cordial e simpática, sempre com um sorriso de quem estava de bem com a vida. Sempre tive a sensação de lidar com alguém que estava para servir o clube do seu coração e não se servir dele. Um dirigente do meu tempo, daquele tempo que acabou, e de que Mário Dias fica como um exemplo. Sentidos pêsames à família benfiquista e que descanse em paz!