Exemplos e memórias
1 - Tenho quase a mesma idade do velho Estádio da Luz. Ele, de verdade, era um pouco mais antigo. Mas pouco. É que nasci em 1956. Mesmo. E não esqueço que o saudoso Senhor meu Pai me lembrava, nalgumas manhãs após disputas noturnas mais acesas com o saudoso Senhor Doutor Pôncio Monteiro, - e com a adesão subtil mas sempre Amiga do Professor Eduardo Barroso -, que o jogo inaugural do Estádio da Luz fora um Benfica-Futebol Clube do Porto e terminara com um vitória azul por três a um. E eu, argumentando sempre com as minhas razões e a força íntima da nossa comum cor, escutava que importava ter memória(s) acerca de instantes fundacionais de um Estádio que foi a sublimação e o orgulho imenso de muitos milhares de benfiquistas. E sabendo, sempre, distinguir adversário de inimigo e tendo o prazer e o privilégio de escrever este artigo num intervalo, bem curto, de um convívio fraterno que faz um triângulo singular entre Felgueiras, Lixa e Amarante. Convívio em que estão representadas, nos calorosos corações, as cores mais expressivas do desporto português. Convívio em que o pão de ló é degustado com prazer, o pica no chão devorado com gula, o singular vinho verde tinto vertido num sopro e, com as devidas cautelas, replicado uma e só outra vez. E, assim, se consolida, na assumida diferença, e com a singular e única fidalguia de bem receber do Adriano e da Sónia - mais do Tomás -, e na antevéspera de mais um Benfica-Futebol Clube do Porto, uma fraternidade nascida e crescida entre Munique e Istambul, entre Salónica e Atenas, tendo Felgueiras como extraordinário porto de abrigo. Almoçar, lanchar (uff…), jantar (ai…) e conviver com Amigos é sinal de verdadeiro e integral desportivismo. E com a fidalguia de bem receber. E mesmo em tempos difíceis importa haver pontes e frestas para diálogos, sempre necessários. Hoje no novo Estádio da Luz haverá vibração e paixão, ambição e emoção. E sonho de um passo firme benfiquista rumo à desejada e ambicionada «reconquista»! Sei bem que no velho e já neste vivi e vibrei com muitos jogos, muitos confrontos, muitos dérbis. Vi muitos no velho terceiro anel, fardado a rigor como Menino da Luz, como aluno do Colégio Militar. E por vezes bem molhado! Acredito que, em razão de cartas que a saudosa Senhora minha Mãe guardou, o primeiro a que assisti sozinho foi em finais de novembro de 1966 e com uma vitória do Benfica por três bolas a zero e com dois golos do saudoso Senhor Eusébio da Silva Ferreira e outro marcado pelo querido Amigo José Augusto. E nunca sonharia que teria o grato prazer de conhecer um e outro e de ambos me proporcionarem relatos únicos de jogos realizados, de lances protagonizados, de golos alcançados, de falhanços não imaginados. Mas também de momentos deliciosos vividos com a camisola do Benfica e também da seleção nacional. História oral que guardo e que importa legar e, ainda, estórias de factos e instantes que dão colorido - e um pouco de sal e também de pimenta … - a uma modalidade que amamos e que está para além das acesas disputas transitórias que a perturbam e angustiam, a mancham e a seriamente a afetam. Como, por uma vez, parece que alguns se estão a aperceber e seriamente a perceber. E, hoje , uma vez mais lá estarei no novo Estádio da Luz. Já tive, ali, algumas desilusões. Diria que demasiadas para o que estava habituado no velho Estádio. Recordo, se me permitem uma escolha seletiva - sim muito seletiva! - que em janeiro de 2014, com arbitragem de Artur Soares Dias, o Benfica venceu com golos de Rodrigo e Garay e que Danilo foi expulso com duplo amarelo. Mas quase três anos antes, com arbitragem de Duarte Gomes , o Futebol Clube do Porto vencera por duas bola a uma com golos de Saviola e um auto golo de Roberto e outro de Hulk. E com expulsões de Otamendi e Cardozo . Todos os jogadores referenciados já não jogam em Portugal e o único que se mantém em atividade, entre nós, é Artur Soares Dias. E acredito por mais alguns anos e com a esperança legítima de marcar presença pelo menos na fase final da Liga das Nações, no próximo Europeu e em próximos jogos determinantes das competições europeias de clubes!
2 - Foi uma semana de singular pleno das equipas portuguesas na Europa. Três jogos e três vitórias. Tripla boa notícia. Desde logo para a tesouraria dos três, e em particular para as do Benfica e Futebol Clube do Porto. Depois para o ranking da UEFA, apesar da distância que se mantém em relação à Rússia, a sexta classificada desse ranking. E, também, a afirmação europeia de jovens jogadores como Alfa Semedo e Jovane. Foram mesmo dias Nike. É que nike em grego significa vitória. E importava que os deuses - e são doze os deuses gregos! - continuassem a acompanhar o futebol português, os seus emergentes talentos, os seus reconhecidos treinadores e, digo-o, as suas principais marcas. Com a consciência que o Deus da Guerra poderia, por largos instantes, ser substituídos por Afrodite -a deusa da beleza e do amor - e por Dionísio - o deus da vida e do vinho. E, assim, esta semana podemos brindar à VIDA! Sempre à VIDA!
3 - O TAD permitiu esta semana que Benfica, Porto (em juniores) e Braga jogassem nos respetivos estádios suspendendo a eficácia de deliberações do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol que sancionavam as SAD´s em referência a um jogo à porta fechada. São acórdãos que merecem ser lidos na sua totalidade já que são peças jurídicas bem elaboradas, bem fundamentadas e que contribuem para a sedimentação jurisprudencial deste novo Tribunal. Como o são, é justo dizer aqui, muitos dos acórdãos do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol. Ninguém deve ficar melindrado com certas decisões anulatórias nem outros com decisões que confirmam deliberações do Conselho de Disciplina. A vida do Direito num verdadeiro Estado de Direito Democrático é feira de vitórias e de derrotas. Tal como, em outro sentido e em outra perspetiva, na realidade do desporto. Por vezes temos que aceitar decisões que entendemos mal fundamentadas, porventura até injustas. Como escreveu Piero Calamandrei «para encontrar a justiça, é necessário ser-lhe fiel. Ela, como todas as divindades, só se manifesta a quem nela crê»! Verdade de sempre!
4 - Alfa Semedo não vai esquecer esta jornada da Liga dos Campeões e, muito em especial, a noite da passada terça feira. Marcou um golo do outro mundo, comemorou-o naturalmente de forma imensa e intensa e, no outro dia, foi de uma humildade impressionante ao cumprimentar um a um cada um dos colegas da equipa jovem do Benfica que aguardavam, serena e responsavelmente, nas proximidades da porta de embarque para o regresso a Lisboa. E permitam-me que vivamente cumprimente a estrutura do Benfica que, com visão estratégica, não deixou de proporcionar ao seus jovens jogadores uma visita ao Pártenon, o exemplo arquitetónico mais representativo do espírito grego antigo. Também desta forma, e nesta diferença, se constrói o futuro. E como escreveu Séneca «longo é o caminho ensinado pela teoria. Curto e eficaz é o caminho do exemplo». Exemplar sinal que brota, também, da Academia do Seixal. E este jornal, sempre presente nos diferentes momentos da cosmopolita realidade desportiva, deu boa nota daquela visita numa eloquente fotografia na sua edição da passada quarta feira! Nike. Vitória em grego, relembro!