Europa, África, Américas e Ásia

OPINIÃO01.11.202105:55

Golos simples, sim senhor, mas de elevada execução técnica, sobretudo a interação entre Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo

A bola andava, tristonha, pela zona frontal da baliza do Tottenham. Toque para aqui, toque para ali, até que Bruno Fernandes resolveu cruzá-la para a entrada da área do lado direito. Foi um arco notável, quase parábola perfeita. Antes de enviar a bola para a área dos spurs, o 18 do Manchester United deve ter-lhe cochichado: vês aquele senhor grande na quina da área, aquele que tem um 7 nas costas? É para o pé direito dele que tens de voar, ok? E a bola, obediente, descreveu a tal parábola perfeita, passou por cima da cabeça de Ben Davies e subitamente desceu para se cruzar com o pé direito do número 7 do Man. United. Aí, CR7 limitou-se a ser CR7: bola cruzada e a bomba a entrar na baliza do desamparado Hugo Lloris. Golo simples e, no entanto, de elevadíssima execução técnica.

N OUTRA latitude, a bola andava de um lado para o outro, esfusiante e elétrica, até que chegou ao pé direito de João Mário, o dragão. Talvez lhe tenha sussurrado: vês aquele rapaz esguio com a camisola número 7, aquele que é um dos mais virtuosos jogadores em Portugal?, é para a cabeça dele que tens de voar. E a bola, tensa e retilínea, passou por cima de oito axadrezados, insolitamente a jogar de laranja, desceu ligeiramente e, após se assemelhar, durante a trajetória, a uma curva, encontrou a cabeça do 7 azul e branco: encosto e golo de LD7. Simples, prático, intenso.

P OUCO depois, mais a sul, apareceu um triângulo quase retângulo. A bola estava parada, quase a adormecer, descansando no quarto de círculo, quando ao pé de si surgiu Pablo Sarabia a pedir-lhe em castelhano: simplemente haz lo que tus hermanas gemelas han estado haciendo mucho últimamente; te enviaré al llamado primer palo, habrá alguien que te desviará para que el gran Coates pueda marcar más un gol después, ¿vale? A bola aceitou e foi direitinha à cabeça de Paulinho e depois,  numa espécie de tacada de snooker, chegou à testa de SC4: pumba, golo. Simples, quase infinitamente já visto e revisto, mas sempre dando resultado.

A INDA a sul, dois golos semelhantes ao anterior: João Mário/André Franco colocam a bola no quarto de círculo e dizem-lhe: isto vai ser simples, ok?, toque para a área e desvio de cabeça de Lucas Veríssimo/Rosier. E assim foi: 0-1 por LV4 e 1-1 por LR32, este último com grande carga dramática. Cinco muito bons golos, sim senhor, mas aquela interação entre Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo, aquela bola que sobrevoou Europa, África, Américas e Ásia (só não passou por Oceânia e Antártida) para chegar, doce, ao pé de CR7 foi deliciosa.