Eu em cima de uma tartaruga

OPINIÃO25.04.202004:00

CONTA-SE em Breve História do Tempo, de Stephen Hawking, que há umas décadas Bertrand Russell dava uma conferência sobre astronomia e que por lá explicou o que a ciência aceita, que a Terra gira à volta do Sol e que por sua vez tudo gira em torno do centro da galáxia, quando uma senhora se ergueu na plateia para exclamar: «Uma tolice! O Mundo é na verdade um prato raso na carapaça de uma tartaruga gigante». O cientista sorriu e perguntou-lhe onde estava, assim sendo, a tartaruga apoiada, ao que a senhora completou: «Você é espertinho, rapaz… São tudo tartarugas por aí abaixo!».


Nunca tudo me pareceu tanto uma expedição numa tartaruga interestelar. Fechados em casa a caminho de dois meses, o tempo tal como o circunscrevíamos relativizou-se noutras referências; ou talvez as tenha perdido. O mesmo acontece com os espaços, as divisões da casa, que agora são quase todas tudo e nada em simultâneo. Além da Breve História do Tempo, faz-me falta, para me maravilhar com coisas que não entendo, uma qualquer Pequena História do Espaço. Ou deve ser, parece-me ainda, a tal quarta dimensão, a do espaço-tempo, que tanto esforço de compreensão exige às inteligências normais como a minha.


A solução passa, como sempre, pela arte e pela ficção, e por isso, deixo a sugestão dos títulos de Terry Pratchett, The Discoworld Graphic Novels: The Colour of Magic & The Light Fantastic. Terry Pratchett imaginou um mundo plano que não apenas assenta em quatro elefantes como estes estão, precisamente, apoiados na carapaça de uma tartaruga. Por mim, nesta altura, já me vai parecendo esta uma realidade de espaços e tempos tão aceitável como outra qualquer. Sou agora a velhinha na plateia de Bertrand Russell, portanto.