Este leão não se deixa apanhar
Rúben Amorim é um treinador de futuro, bem preparado e que, mais ano menos ano, iremos vê-lo numa das mais importantes Ligas europeias
PERCEBO os imensos cuidados com que Rúben Amorim aborda a questão que todas as semanas lhe é colocada nas conferência de Imprensa, antes e depois dos jogos, que é a de ouvir da sua voz a assunção da candidatura ao título de campeão nacional. Um desperdício de tempo, pela razão simples de o Sporting ser sempre candidato, por força da sua história e da sua grandeza. Foi o grande mister Vítor Manuel que me alertou para a sensa boria da situação, a mim e a quem faz o favor de nos acompanhar nas noites de A BOLA TV. É a voz da experiência a falar.
Neste ainda curto e profícuo magistério de Amorim, o Sporting, além de tradicional candidato, tal como o Benfica ou o FC Porto, passou a ser o grande favorito a vencer o campeonato, por diversos motivos, o principal dos quais se prende com a preciosa vantagem pontual em relação aos perseguidores, que nada garante, é certo, mas que muita confiança lhe transmite para encarar com entusiasmo o que falta percorrer.
Com 20 jornadas realizadas, o Sporting lidera com uma margem de se lhe tirar o chapéu e continua a praticar um futebol alegre, simples e eficaz, assente em princípios de jogo basilares que começam na precisão do passe/receção/passe e se enriquecem através da velocidade de execução, na circulação de bola e na reação à perda. O resto tem a ver com a cultura de jogo dos atores e a capacidade de a colocarem ao serviço do interesse coletivo: é aqui que o treinador faz a diferença, como hábil gestor de personalidades que tem de ser, para manter o grupo coeso e motivado, um grupo que se revê na figura do seu líder e acredita na sua palavra.
NO trajeto como jogador, Rúben Amorim trabalhou com vários treinadores e, seguramente, soube ser seletivo, anotando o que lhe pareceu interessante e riscando as inocuidades, como os medicamentos que não fazem bem, nem mal. Não sei quando definiu o seu futuro e optou por esta carreira tão exigente, mas foi um aluno arguto, diligente e que aprendeu depressa, sem se desequilibrar com desvarios tolos.
Conhece as peculiaridades do futebol e as armadilhas da profissão, mas revela segurança. Nota-se-lhe. É um treinador de futuro, bem preparado e que, mais ano menos ano, iremos vê-lo numa das mais importantes Ligas europeias. Para já, porém, tem um título para conquistar, que o Sporting persegue desde 2002. Não digo que seja tarefa fácil, mas também não acredito que alguma catástrofe de todo inesperada destrua o que de muito sólido foi erguido até ao momento. Não acredito, não acredita ele, garantidamente, nem acredita alguém com o mínimo de senso. Enquanto for matematicamente possível, todas as conjeturas são admissíveis, mas se o leão continuar a jogar com a garra que se lhe tem observado não vejo como apanhá-lo.
No princípio, a procissão ainda mal tinha saído do adro, dizia-se, e ser líder à sétima jornada, em prova de longa duração, nunca foi levado a sério pelos oponentes. Em novembro passado, escrevi em título: Apanhem o leão, se puderem. Até agora, os interessados não só não foram capazes, como quase o perderam de vista. A realidade é testemunha.
Rúben Amorim, treinador do Sporting
O Benfica vai de mal a pior
OBenfica não melhora. Pelo contrário, vai de mal a pior, e em vez de se enveredar pela via habitual, que é a de reclamar a demissão do treinador, ordena a sensatez que a estrutura (seja o que for…) do futebol profissional se reúna, converse e salve o que ainda puder ser salvo de uma temporada desportiva desastrosa e de consequências trágicas para o futuro do clube se falhar pelo segundo ano consecutivo a participação na Liga dos Campeões: um cenário nem sequer considerado até há cerca de dois meses e que é hoje encarado com justificada preocupação, por se duvidar, inclusivamente, que o terceiro lugar, o limite para um acesso condicionado à prova milionária, esteja ao alcance da águia.
A Taça de Portugal está bem encaminhada, mas é na Liga Europa que tem de se apostar tudo, para vencê-la e assegurar a entrada na Champions. É o que resta e, nesse sentido, não há espaço para mais desculpas de ocasião, como aquelas com que o treinador brindou a família encarnada a seguir a mais um desempenho modesto, desta vez em Faro.
De uma assentada, distribuiu culpas por várias capelinhas, o que muito deve ter desagradado a quem se sentiu atingido, desde os avançados que não metem a bola na baliza e dos jogadores com falta de confiança até Rafa Silva que cria oportunidades, mas não concretiza. «O que é que a gente pode fazer?», interrogou-se Jesus. Nada, quando é o próprio treinador a reconhecer que fora de casa é mais difícil, mas «também é verdade que não perdemos», portanto, não sendo mau empatar, é continuar assim: de empate em empate, até ao descalabro final.
O mal está feito. É recolher os cacos, eliminar o Arsenal e, na perspetiva do adepto anónimo, esperar que o presidente não se deixe agrilhoar pelo monstro que ele próprio criou. Como afirmou Gaspar Ramos, na Renascença, seria uma enorme ingratidão se, apesar da obra feita e do impulso que deu ao clube, Vieira fosse obrigado, por força das circunstâncias, a sair pela porta pequena.