Este já está. Venha o próximo
1 Com o conforto de um calendário infinitamente mais desafogado e um balneário mais desanuviado, Abel Ferreira meteu em jogo tudo o que de melhor tinha, enquanto que Sérgio Conceição repetiu o onze de emergência que tão bem se saiu em Tondela, deixando no banco seis habituais titulares, ontem à noite, na primeira mão das meias-finais da Taça. Pese as esforços optimistas de Luís Freitas Lobo, o Braga não criou nada parecido com uma oportunidade de golo na primeira parte - aliás, Fabiano não teve sequer de fazer uma defesa. Tal como já havia mostrado em Alvalade, embora em dose menor, o Braga destacou-se assim por um festival de pancadaria, a que o árbitro João Pinheiro assistiu com toda a complacência e compreensão, ao mesmo tempo que fazia cara de mau aos jogadores do Porto por simples e banais faltas. E foi preciso que Marafona enfiasse um gancho de direita em Herrera, deixando-o KO, para que João Pinheiro despertasse da sua bonomia e, ó espanto!, assinalasse um raríssimo penalty a favor do FC Porto, convertido (ó, espanto!) pelo único jogador portista competente na matéria: Alex Telles. No mais, há a destacar no jogo portista, a confirmação do menino Manafá como a grande aquisição do defeso: velocidade, desmarcação, inteligência. E a confirmação da dupla de ataque Adrian López/Fernando Andrade, como verdadeiramente inócuos, como já se vira em Tondela: zero remates, entre ambos e em 45 minutos.
No início da segunda parte, o Braga teve, enfim, a primeira e única ocasião de golo em todo o jogo, salva por Fabiano. E daí até final, tirando breves cinco minutos em que tirou partido da inferioridade de Manafá, nada fez: defendeu sempre no seu meio-campo, com onze atrás da linha da bola. E foi o Porto que fez todas as despesas do jogo. Chegou ao 2-0 por Soares, em boa hora entrado para render Fernando e ainda houve tempo para dez minutos e um monumental golo de Brahimi. Grande jogo de Pepe, como já acontecera em Tondela, excelentes desempenhos de Herrera e Óliver, a recuperar de tempos menos felizes. Danilo de volta e Marega no banco, sem ter havido necessidade de entrar. As coisas estão a compor-se. Sábado o Dragão vai encher-se.
2 Raul Silva é um belo central e, de quando em vez, um belíssimo sarrafeiro. No jogo contra o Sporting, e para se vingar de uma entrada mais dura de Acuña, ele entrou directamente de cotovelo à cara do argentino, numa agressão feia e maldosa. A entrada passou despercebida ao árbitro, mas, e em resultado de queixa do Sporting, não passou ao Conselho de Disciplina, que lhe aplicou dois jogos de suspensão. Cumpriu um contra o Belenenses, por ter visto nesse lance o quinto amarelo da época, e quando se esperava que cumprisse ontem o primeiro dos outros dois contra o Porto, eis que o Braga entra com um recurso para o pleno do Conselho de Justiça e consegue suspender a suspensão. Deve ser mais um truque daquilo a que chamam a verdade desportiva.
3 Como portista, só posso repudiar como imbecil a insinuação de Francisco J. Marques de que haverá jogadores de adversários do FC Porto pagos para aleijarem jogadores portistas. Ainda por cima, dito a propósito da lesão de Danilo, a acusação foi ainda mais idiota pois todos vimos que Danilo se magoou, não por causa da entrada de Éber Bessa, mas pela forma como a seguir caiu sob o tornozelo - o seu calcanhar de Aquiles. Já a insinuação, que não sei quem fez, de doping no Benfica, é igualmente espúria e gratuita, por ser desacompanhada de provas concretas. Mas para quem é adepto de um clube que já perdeu um campeonato para outro clube que à boca cheia se dizia funcionar a químicos, manifesto a minha perplexidade por constatar que o controle anti-doping deixou de ser corrente na nossa Liga. Não se trata de desconfiar do Benfica, mas de todos e a todo o tempo. Para que não possa haver espaço para insinuações destas.
4 Nada menos do que três foram os golos anulados ao Galatasaray no jogo da Luz contra o Benfica. E desses três, dois levantaram mais do que dúvidas. Sobre isso, escreveu aqui o dirigente benfiquista Sílvio Cervan: «Fatih Terim, grande senhor do futebol, mostrou a sua classe de saber perder e não poupou elogios ao adversário. Que diferença quando comparado com outras latitudes.» Ora, ou Sílvio Cervan escreveu antes de ouvir as declarações do treinador turco ou tomou os seus desejos por realidade. De facto, eis o que disse Fatih Terim: «Parabéns ao Benfica: no primeiro jogo, um penalty que não houve, no segundo um fora de jogo que não houve...o Benfica é uma equipa muito forte, temos de admitir.» E, no final, foi preciso chamar a policia para segurar o Sr. Terim, incontrolável no seu entusiasmo em cumprimentar o árbitro...Mas, como escreveu também Sílvio Cervan, «os turcos tiveram controlados durante 70 minutos”. Pois «tiveram», só não «tiveram» controlados depois dos 90: os turcos são tramados.
5E, então, aí vem o jogo do título. O segundo do ciclo mortal de três jogos do FC Porto: Braga-Benfica-Roma. Passaportes para o Jamor, para o campeonato e para os quartos da Champions. Mentiria se não dissesse que este é o Benfica em melhor momento que em muitos anos se vai apresentar no Dragão. O que mais temo neste Benfica é a sua simplicidade goleadora, muito embora saiba que uma coisa é enfrentar as defesas de equipas pequenas ou médias, outra coisa é enfrentar a defesa do FC Porto. Também, por idênticas razões, não temo particularmente, a nova vaga de putos-maravilha lançados por Bruno Lage (com a óbvia excepção de João Félix, que já é um consagrado): ter pela frente as camisolas azuis e brancas e as bancadas do Dragão é diferente de ter o conforto da Luz. Mas sei que, numa oportunidade, numa perda de bola a meio-campo, o Benfica fará um golo e esse golo pesará como uma tonelada, num jogo de título. É essencial que o Porto comece por cima, em termos de resultado. Assim como é determinante ganhar por dois golos de diferença, que, na práctica, significarão, no final, cinco pontos de vantagem. Teremos Danilo? Teremos Brahimi completamente recuperado? Teremos Marega a 100%, depois de uma tão misteriosamente rápida recuperação quão misteriosamente lenta é a recuperação de Aboubakar? Depois de um imenso esforço ontem à noite contra o Braga, pede-se a estes jogadores novo esforço máximo, no limite, já daqui a quatro dias e antes de novo esforço absoluto quatro dias depois. São aquelas semanas, uma ou duas, que acontecem apenas às grandes equipas durante uma época, em que tudo se decide. O grande conforto que um portista pode sentir antes destas horas decisivas é saber que estes jogadores, este treinador, vão dar tudo o que têm. E se, por infortúnio, as coisas correrem mal, dormiremos todos descansados - desde que o jogo seja limpo. É a vida.
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