Estava na cara que ia dar Jesus

OPINIÃO28.10.201903:00

Não há milagres, ou sequer um Jesus que deles precise para convencer o Brasil. Mérito do técnico, que assina trabalho extraordinário.
O sucesso era expectável, face ao impacto imediato que tem em quem orienta e o atraso tático e até organizativo do país, mas ainda assim ultrapassa as melhores expectativas. O Flamengo atravessa o Brasileirão e a Libertadores arrogante e cheio de classe. Depois de ter influenciado técnicos da nova vaga, como Sérgio Conceição e Paulo Fonseca, Jesus torna-se no maior embaixador do futebol luso na América do Sul.
Está a consegui-lo ao transportar o seu modelo de jogo para um outro continente e um país com ideias bem definidas dentro da própria indefinição, o que só eleva o grau de dificuldade. Os elogios assentam-lhe bem. O Fla ganha e joga o melhor futebol do país, e tem na Libertadores possível catalisador da coroação continental. Pode nem ficar por aí.
Aos 65 anos, Jesus continua um treinador moderno. É óbvio que o sucesso não assenta apenas na obsessão pelo pormenor, na arquitetura dos momentos de pressão e nas transições ofensivas que sempre acompanharam os melhores momentos da carreira. O projeto Flamengo, que já tinha arrancado sem ele e garantido plantel competitivo (embora sem resultados à altura), recebeu nova injeção de retornados de luxo, que acrescentaram qualidade e permitiram ainda a formatação mais europeia necessária à revolução idealizada pelo português.
Longe do habitat natural, o técnico também amaciou o discurso. Soube integrar os jogadores na mensagem e isso tem valido estabilidade e uma dinâmica que se mostra imparável. Se burro velho não aprende línguas - e no seu caso bem que a incapacidade lhe terá limitado literalmente a internacionalização da carreira -, fica provado que continua a querer melhorar. O que é muito bom sinal!