Esta noche me emborracho

OPINIÃO30.11.202002:15

Gostava de ser inovador, mas consigo torna-se complicado. Por isso, faço-lhe a pergunta que mais lhe fizeram nos últimos anos: qual é o segredo para tanta subida de divisão? Estávamos em janeiro de 2017 e Vítor Oliveira, então treinador do Portimonense, respondeu assim: «Não existe. Tem de haver, sobretudo, muito conhecimento do futebol e muito trabalho. Depois, se reunirmos um bom plantel, a probabilidade de termos êxito é muito maior. Mas, por vezes, vemos equipas com grandes plantéis que ficam longe do esperado. Fazer um bom plantel com jogadores fracos, isso sim é complicado. Mas segredo, desculpem, não há.»

Vais mesmo jogar os 90 minutos todos?, perguntaram a Diego Maradona em novembro de 2001, na véspera da sua festa de homenagem/despedida em Buenos Aires. Silêncio. Diego parou, virou-se e, sem ver quem lhe fizera a pergunta assassina, revirou os olhos, franziu as sobrancelhas e disparou de pronto: «Claro. Sabes o que é estar num relvado e não poder tocar na bola? É como dançar com a tua irmã. Não sabe a nada.»

De que tipo são as suas palestras? Fala em basculações, em jogo interior e exterior, em entrelinhas ou é mais terra-a-terra?, continuávamos em janeiro de 2017 e Vítor Oliveira respondeu deste modo: «Sou mais direto e simplifico muito. Toda a gente sabe o que é o jogo direto, interior e exterior, mas a minha terminologia é mais simples e diferente dos treinadores que estão a aparecer. Porém, quando se fala em basculações, por exemplo, não se está a inventar nada. Quando ouvimos algumas pessoas a falar, ficamos com a sensação de que o futebol só existe há meia dúzia de anos. Mas não me choca: é outra roupagem.»
Aconferência de imprensa de final de jogo de homenagem/despedida de novembro de 2001 terminara há pouco, talvez 20, 30 segundos. Diego Maradona ficou alguns instantes de pé, olhando para as dezenas de jornalistas. Dava quase a sensação de que Diego escondia a lágrima furtiva que parecia querer saltar de dentro dos olhos. De repente, virou-se para o seu amigo Guilherme Coppola e, sem medo, disse-lhe para todos ouvirem: «Esta noche me emborracho».

Foi uma semana difícil, foi: José Bastos, Reinaldo Teles, Diego Maradona e Vítor Oliveira. Mas é a vida. E a morte. A palavra e o silêncio. A ordem e a desordem. Hoje, no final de sete dias terríveis, fica a ideia de Maradona: esta noite embebedo-me.