Esse estranho problema de ser o melhor
Esta entrada de Ronaldo na Juventus tem contribuído para interpretar mal a temática da importância do coletivo numa organização, sustentando que, sem o português, as equipas melhoram por serem mais, como se diz no ciclismo, gregárias. Jogadores do Real Madrid deixaram transparecer esta ideia, bem como adversários dos madrilenos na liga ou na Champions, temendo um coletivo que, pelo que entendi, antes temeriam menos. O mesmo foi válido para as análises à vitória da Seleção sobre a Itália, este mês, na ausência de Ronaldo. Também aí a crítica destacou o jogo mais coletivo, logo melhor, da Seleção. Em qualquer dos casos, é uma perspetiva que parece colocar sempre o problema onde ele não existe. Quase como se o bom, por ser tão bom, passasse a ser mau.
Evidentemente, quem manda precisa de enquadramento para gerir um empregado estrela. Ronaldo é um empregado estrela e cabe a Allegri ou Fernando Santos fazê-lo sentir-se autónomo e responsável em determinadas tarefas. Isto, repare-se, é diferente de fazê-lo sentir-se especial, pois a palavra implica quase um afastamento do grupo, estatuto que Ronaldo nunca aceitou na carreira.
O único problema que um empregado estrela como Ronaldo pode causar é querer marcar passada que outros, por incapacidade, não acompanhem. Aí, sim, será necessária mão do chefe. Agora, admitir como melhor esse comunismo futebolístico é um disparate. Até na mais comunal equipa de sempre, a laranja mecânica da Holanda, havia Johan Cruyff. Uma coisa é achar-se o coletivo mais forte do que a estrela, o que é bom para os bons. Outra é o considerar-se o coletivo mais forte sem a estrela, o que é bom para os maus.