Espírito de equipa

OPINIÃO07.07.202003:00

É o maior trunfo do triunfo. O espírito de equipa é o fator de motivação determinante em qualquer prova conjunta. É a força do querer e da raça ao serviço do todo. É o combustível que move um grupo rumo ao sucesso final. Quando uma equipa se une para atingir determinado objetivo, tem de saber que só o esforço comum garante a vitória no fim. Tem de saber que não importa quem defende melhor ou quem ataca mais. O que importa é aproveitar as características de cada um para que todos saiam vencedores.
Esta verdade, nem sempre fácil de atingir, é pilar essencial dos desportos coletivos. No futebol, são vários os exemplos de plantéis teoricamente menos fortes (em qualidade técnica e valor financeiro) que superam outros por serem exímios na forma como interpretam esse espírito, essa forma de atuar e trabalhar.
Se onze jogadores forem tecnicamente dotados mas jogarem de forma egoísta ou autocentrada, jamais formarão uma equipa equilibrada. Mas se onze jogadores, menos capazes, unirem-se como um todo, serão imparáveis. Ninguém os parará.
Com a enorme equipa que é a da arbitragem (a décima nona do nosso campeonato principal), o princípio é exatamente o mesmo: se forem genuinamente unidos, se estiverem sintonizados e alinhados nos mesmos objetivos - exigir o melhor para o setor, cá fora, e darem o melhor de si, lá dentro - não há quem os trave.
Os árbitros sempre foram os principais responsáveis pela evolução do seu setor. Foram responsáveis pela sua modernização, pelas condições de que dispõem e pela sua (quase) profissionalização. Desde sempre souberam discutir os assuntos que diretamente lhes diziam respeito, procurando mais e melhores condições, com base num diálogo permanente, elevado e positivo com quem de direito.
Essa posição foi conquistada à custa de centenas de reuniões em todo o País, durante anos a fio. Foi conquistada em fóruns promovidos pelos próprios, onde todos participavam de forma livre e desinteressada.
Firmavam-se compromissos, procuravam-se soluções e fechavam-se entendimentos, que ainda hoje resultam num conjunto de benefícios (quase) ideais para quem está na alta competição. O maior crime que uma geração de árbitros pode fazer é trair o trabalho feito pelas anteriores.
É desperdiçar tanto esforço e tempo, desligando-se por completo do tal espírito de equipa. É ignorar esse legado, trabalhando cada um por si e para si, sem diálogo comum, sem visão futura, sem pensamento conjunto.
É aí que uma classe unida dá lugar a outra coisa qualquer. À soma de várias partes fragmentadas, egoístas e desligadas, centradas na sua carreira, no seu umbigo e na sua ambição pessoal.
Tal como acontece com qualquer outra equipa, mais cedo ou mais tarde, a derrota é garantida. É tão claro e óbvio que até o VAR diria de sua justiça... se pudesse intervir. Mas não pode. Infelizmente.