Escutas, Alcochete, bandidos e etcétera
A última semana ficou marcada pelo combate dos chefes, Frederico Varandas, o rei-leão, atirou-se a Pinto da Costa, o dragão-mor não se ficou e o verniz leonino acabou por estalar, com consequências definitivas enquanto estes dois presidentes se mantiverem no poder.
Varandas, no rescaldo do clássico, não gostou de uma decisão do árbitro e perguntou (e respondeu) de uma penada: «Este possível penálti, sabem quando é que era revertido no Estádio do Dragão ou na Luz? Nunca, nunca.» E acrescentou: «Não interessa se a pessoa foi apanhada em escutas, se tem processos judiciais, interessa é se tem poder, se ganhou, e aí todos prestam vassalagem.»
Picado pela referência às escutas, Pinto da Costa contra-atacou: «Houve a invasão de Alcochete, dia negro do futebol português, em que o único beneficiado desse triste acontecimento foi o atual presidente do Sporting.» E sentenciou: «No dia em que Frederico Varandas se dedicar à medicina, presta um grande serviço ao Sporting.» Varandas explodiu então, com uma violência verbal que se lhe desconhecia: «[Pinto da Costa] pode ter um grande sentido de humor, ser culturalmente acima da média e ter um currículo cheio de vitórias, mas um bandido será sempre um bandido e no final será sempre recordado como um bandido.»
E a que se deveu, então, esta guerra sem quartel entre dois presidentes de instituições centenárias, um e outro baluartes do desporto em Portugal? A divergências quanto aos quadros competitivos obsoletos que puxam para baixo o futebol nacional? À necessidade de centralizar a venda dos direitos televisivos, por forma a revitalizar a indústria do futebol? A opiniões diferentes sobre a forma mais eficaz de internacionalizar a Liga? A ideias diversas quanto às ações a tomar junto do Governo, nomeadamente de ordem fiscal, para minimizar os danos provocados aos clubes pela pandemia?
Não, nada disso. Frederico Varandas e Pinto da Costa entraram numa guerra sem quartel por causa da intensidade de um toque de Zaidu em Pedro Gonçalves. Com tanta coisa estruturalmente importante que devia estar em cima da mesa, quando devia ser mais importante o que os une do que aquilo que os separa, é a discutir penáltis que se sentem mais confortáveis...
Sic transit gloria mundi.