Era uma vez o futebol português...

OPINIÃO08.02.202106:00

Protestar faz parte da natureza de quem anda no futebol português. O que nos remete para a pergunta: será que vale a pena? Se calhar, vale...

H Á uma maneira de estar muito própria, instalada no futebol português há demasiadas décadas, que pode ser traduzida pelo aforismo popular «quem não chora, não mama.»
Sempre me lembro de ter sido assim, com encarnados, azuis, verdes e demais cores da palete, uns mais numas alturas, outros noutras, mas uns e outros imbuídos da ideia de que é sempre possível sacar alguma coisa do protesto, da pressão, do bullying ou da ofensa, conforme a natureza mais ou menos civilizada de quem clama por justiça. Durante muitos anos o veículo preferencial das Catilinárias clubísticas foi o jornal da instituição; agora, as televisões de cada emblema cumprem esse papel, com as newsletters e as mensagens do Twitter a comporem o ramalhete da modernice. Mudam os meios, fica a essência, o que importa é mostrar indignação e, de preferência, atingir dois objetivos:
a) - o primeiro de natureza externa, visa colocar em guarda as forças hostis, criando condições para que, por um lado não se repitam os prejuízos alegadamente sofridos, e que, por outro, possa surgir algum benefício que cubra os danos anteriores, colocando o conta-quilómetros da justiça a zeros. Há uns anos, no início deste século, esta filosofia oficiosa chegava a ser verbalizada por quem estava no poder, na interlocução com os responsáveis dos clubes!
b) - o segundo é de natureza interna, e tem por objetivo a satisfação de sócios e adeptos, que observam (acham eles...) os interesses do seu clube a serem intransigentemente defendidos. A justificação mais corrente para esta linha de ação é traduzida pela frase intemporal, comum nos dirigentes, «se não dizemos nada acham que somos totós.»  
A prática é esta, normalmente com a arbitragem no ponto de mira, mas muitas vezes visando igualmente os órgãos disciplinares.
Cada país tem as suas idiossincrasias e no microcosmos do nosso futebol - mais do que na política ou na economia, setores igualmente mediatizados - a convicção de que não há outra via que não esta, é profunda e imutável. O que leva à questão final e decisiva: será que vale mesmo a pena? Se calhar, vale...

PS: Num Barça onde não é fácil resistir à pressão, Trincão já é o suplente mais utilizado. Ontem, estreou-se a marcar: foi dele o golo da vitória, em casa do Bétis.



Rúben Amorim 

O treinador do Sporting volta a ser merecedor de um Ás nestas Cartas na Mesa, mas não há volta a dar: a sua equipa mostra saúde, ambição e organização e, no momento de ser audaz, a contratação de Paulinho foi uma lança em África, melhorando substancialmente a manobra ofensiva dos leões.


André Silva

O ponta-de-lança do Eintracht Frankfurt, 25 anos, já leva 17 golos em 20 jogos da Bundesliga, e é apenas superado na lista de melhores marcadores por Robert Lewandowski, atual Bota de Ouro europeu. Trata-se de um registo importante que, a meu ver, não tem tido, entre nós, o eco que justifica. Bravo!


Luís Filipe Vieira 

Na época de todos os investimentos, a pior primeira volta do Campeonato, em 17 anos de presidência. Vieira está a viver com Jesus, em quem apostou, contrariando opiniões insuspeitas, um pesadelo ainda pior do que aqueles que conheceu nas últimas semanas dos consulados de Vitória e Lage.