Em Vítor Campos, homenagem à Briosa

OPINIÃO11.03.201900:00

No melhor do futebol português, a Briosa e todos os autores morais e materiais da sua aura, têm lugar cativo, na primeira fila, tornando-se imperioso que as gerações que aí vêm conheçam quem criou uma dimensão irrepetível.


O legado de Coimbra é único, pelas várias dimensões que sempre foi capaz de tocar, juntando a erudição da Academia à simplicidade de um jogo de futebol, sem nunca esquecer a irreverência dos estudantes que sempre fez o mundo pular e avançar à velocidade do sonho. Na história da Associação Académica de Coimbra juntaram-se múltiplos fatores, que os tempos correntes não permitem replicar, mas que podem continuar a servir de musa inspiradora para um projeto que deverá merecer sem restrições o crédito não só de uma cidade, mas fundamentalmente de uma forma de estar que vê o futebol como um meio para se ir mais além, com nobreza, sem abdicar de princípios e sempre de olhos postos no paradigma da excelência através da evolução.

Coimbra, sabe-se, é uma lição de amor e tradição, que inspirou várias gerações através de um exemplo que nos dizia que era possível praticar desporto e ao mesmo tempo receber outro tipo de formação; na mística da Académica fazia-se a súmula de valores e princípios igualitários que abriam as portas das ciências a quem as quisesse franquear através da capa e batina que eram usadas, também, nos campos de futebol.
Coimbra, através da Académica, passou a uma dimensão nacional que só o futebol à época possibilitava, deu palco à luta estudantil e criou condições para que Portugal chegasse mais depressa ao cumprimento dos ideais de liberdade. Quando se aprecia, retrospetivamente, a aventura que tem sido a Académica, quando se consegue compreender o significado mais profundo do efe-erre-á, percebe-se, enfim, a que ponto devemos estar gratos a quem materializou esta demanda.

Na última semana, partiu Vítor Campos, antigo médio da Briosa e médico anestesista renomado, membro de uma ínclita geração de que fazem parte, além do seu irmão Mário, outros antigos futebolistas-doutores que singraram na vida e são exemplo de excelência, do guarda-redes  Maló ao ponta de lança Manuel António, do médio Gervásio ao matador Artur Jorge. Coimbra, de facto, tem mais encanto, na hora da despedida a um dos seu filhos mais queridos...